50ª dose

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Acordei mais feliz após ter transado com Ítalo. Nem me importei que o Valentim sugou todo o meu leite me acordando três vezes durante a madrugada. Me sinto uma adolescente de novo — com muita responsabilidade, mas bem mais nova do que uns dias atrás.

— Na moral, você precisa dormir uma noite inteira, tá entendendo?

Ítalo brinca com Valentim na sala enquanto faço o almoço. Escuto o que ele diz e rio. Parece uma criança conversando com nosso filho como se ele entendesse algo. Ainda não conseguimos colocar uma rotina. É mais difícil do que imaginei.

Enquanto observo essa cena familiar, sinto um calor reconfortante preencher meu peito. Ver Ítalo cuidando tão bem de Valentim me faz perceber o quão sortuda sou por ter os dois em minha vida. Por um momento, deixo de lado as preocupações e apenas me permito desfrutar desse momento. Não foi fácil conseguir essa paz, mas agora que temos, eu aproveito todos os dias.

No fim da tarde, Antonella apareceu em nossa casa. Disse que agora não precisamos mais ir até ela para conversar sobre nosso relacionamento, e eu concordo comendo um pedaço de bolo de chocolate que ela gentilmente trouxe. Tenho a sensação de que ela quer se fazer presente em nossa vida, pois, como participou da batalha de Yara para criar Ítalo logo que nasceu, ela quer se manter perto cuidando de tudo o que Yara amou. Tenho gostado mais dela após saber que não era uma estranha, mas sim a melhor amiga que Yara teve.

— Como está o relacionamento de vocês? — ela pergunta.

— Estamos bem!

— Uhum, nós até transamos — Ítalo diz, sem vergonha alguma.

Dou um tapa forte no braço de Ítalo, que se engasga com o bolo. Antonella ri e diz que não preciso ter vergonha, e que ele puxou Yara e sua marcante inconveniência. Conta um pouco do que Yara já fez ela passar e eu rio porque Ítalo é a cópia dela.

— Sabia que vocês ficariam juntos — conta.

— É isso que acontece nas histórias clichês da certinha com o garoto problema — Ítalo diz, piscando para mim.

— Você não é o garoto problema. Só tinha problemas não resolvidos o que acabou dificultando sua forma de se relacionar.  — ela diz, rindo e continua: — Julia, como Ítalo está com o nascimento do Valentim?

— Mais responsável.

Antonella trata a situação como se estivéssemos em seu consultório. Não liga se Ítalo está ali ouvindo as perguntas que ela faz para mim. Pela primeira vez, estamos de frente um para o outro. Sem tablet, sem fone, olhando nos olhos um do outro. Sem interrupções ou brigas. Não é bem uma terapia.

— Há mais brigas agora do que quando estava grávida?

— Não. A maioria das nossas brigas é por besteira. Brigamos quanto à cor do casaco que vou comprar para Valentim. Coisas irrelevantes, sabe?

— Ou o motivo de ela ainda não voltar a dormir comigo — ele diz, sem olhar para mim.

— Agora você vê um futuro bom ao lado dela, Ítalo?

— Eu vejo um presente bom. — Ele sorri, olhando para mim. — Espero que o futuro também seja assim.

Antonella pergunta o mesmo para mim. Vejo um futuro com ele, mas admitir isso em voz alta, sabendo que ele está ouvindo, não me deixa nada à vontade. Porém, as palavras precisam ser ditas. Ítalo sorri enquanto segura a mão do nosso filho, que dorme como se ninguém estivesse fazendo barulho.

— Você percebe que, se não tivesse a Julia e o Valentim, estaria sozinho agora?

— Em casa sim, mas eu tenho meus amigos, ué — ele balança os ombros. — Mas entendo o que quer dizer. Me sinto bem por eles estarem aqui. São tudo o que tenho.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora