A cada passo que damos juntos, tenho certeza de que vamos superar toda a tristeza que nos atinge diariamente.
Acordei mais feliz hoje. Ítalo e eu ficamos até tarde conversando, e, quando Valentim cansou de mamar e brigar com o sono, ele dormiu novamente. Decidi continuar dormindo no quarto do meu filho, mesmo tendo um momento tão íntimo com Ítalo ontem. Quando entrei no quarto, abri um sorriso tão largo que minhas bochechas chegaram a doer. Me sinto uma adolescente de novo — com muita responsabilidade, mas bem mais jovem do que uns dias atrás.
— Na moral, você precisa dormir uma noite inteira, tá entendendo?
Ítalo brinca com Valentim na sala enquanto preparo o almoço. Estou me perguntando se o purê deveria ter essa consistência quando escuto o que ele diz e rio. Ele parece uma criança conversando com nosso filho, como se Valentim realmente entendesse. Ainda não conseguimos estabelecer uma rotina; é mais difícil do que imaginei.
— Prova — peço a Ítalo.
— Oba, filhão. Hoje vamos ter mingau de almoço — ele ri, ajeitando o Valentim nas pernas.
— Todo piadista pra quem não sabe fazer nem um arroz.
— Eu aprendi, tá? Depois daquele caos, minha avó me ensinou.
Não estamos mais rindo. Lembrar de Yara nos causa uma sensação muito forte, como se consumisse toda a alegria ao redor, dando lugar a uma tristeza que não dá para medir. Ítalo balança a cabeça como se, com esse gesto, pudesse afastar os pensamentos e abre a boca. Coloco uma colher de purê na boca dele e espero que ele diga se é algo que conseguiremos comer. Ele faz uma careta e finge que vai vomitar, mas logo ri.
— Relaxa, Juju. Eu amo mingau! — ri alto, assustando o Valentim. — Está gostoso, pode ficar tranquila. Segura o Valentim aqui que eu termino o almoço.
— Juju? — pergunto, fazendo uma careta.
Ele apenas me mostra a língua enquanto pego o Valentim no colo e me sento no sofá. Não cozinho muito mal, mas também não sei fazer muitas coisas. Estou treinando o purê porque, apesar de não ser a minha comida preferida, daqui a alguns meses vou ter que começar a introdução alimentar com o Valentim, e ele não pode rejeitar as coisas só porque não sabemos cozinhar. Ouço o barulho do óleo esquentando na frigideira e vou até a porta da cozinha, observando Ítalo fritar linguiça enquanto cantarola uma música que não conheço.
Enquanto o observo, sinto um calor reconfortante preencher meu peito. Ver Ítalo fazendo comida e cuidando tão bem de Valentim me faz perceber o quão sortuda sou por ter os dois em minha vida. Cada vez que olho para eles, lembro quando Yara estava aqui, fazendo de tudo para nos manter felizes. Por um momento, deixo de lado a tristeza e me permito desfrutar desse instante. Não foi fácil conseguir essa paz, mas agora que a temos, aproveito cada dia.
No fim da tarde, Antonella apareceu. Disse que agora não precisamos mais ir até ela para conversar sobre nosso relacionamento, e eu concordo comendo um pedaço de bolo de chocolate que ela gentilmente trouxe. Tenho a sensação de que ela quer se fazer presente em nossa vida, pois, como participou da batalha de Yara para criar Ítalo logo que nasceu, ela quer se manter perto cuidando de tudo o que Yara amou. Tenho gostado mais dela após saber que não era uma estranha, mas sim a melhor amiga que Yara teve.
— Como está o relacionamento de vocês? — ela pergunta.
— Estamos bem!
— Uhum, nós até transamos — Ítalo diz, sem vergonha alguma.
Dou um tapa forte no braço de Ítalo, que se engasga com o bolo. Antonella ri e diz que não preciso ter vergonha, e que ele puxou Yara e sua marcante inconveniência. Conta um pouco do que Yara já fez ela passar e eu rio porque Ítalo é a cópia dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando estiver sóbrio (COMPLETO)
Teen FictionAdolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia se deveria acreditar ou não em amor à primeira vista, mas bastou uma única vez para ela pensar em Ít...