49ª dose

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A dor permanecerá para sempre, mas o amor nos guiará para dias menos sombrios

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A dor permanecerá para sempre, mas o amor nos guiará para dias menos sombrios.

Os dias passam tão rápido que tenho medo de acordar e Valentim já ter completado um ano. Cada dia traz algo novo. Mal abro os olhos e já sinto o coração acelerado, ansiosa para descobrir qual nova surpresa meu filho vai me revelar hoje. Ítalo também tem ficado ansioso. Digamos que agora não sou a única fanática por vídeos e informações da internet.

Ítalo voltou a trabalhar pela manhã. Apesar de querer ficar em casa cuidando do Valentim e tentando se manter firme em meio ao luto, que muitas vezes nos deixa sem rumo, não podemos nos dar esse luxo – precisamos de seu salário integral. Ele gosta muito do que faz, mas desejava que a licença paternidade durasse pelo menos três meses. O patrão de Ítalo foi bastante compreensivo quando ele ficou mais tempo em casa, mas agora chegou a hora de voltar ao trabalho.

Quando Ítalo não está na loja, ele organiza a casa sem parar. Nunca o vi arrumar tantas coisas assim. Sempre foi agitado, preferindo festas, jogos de futebol e até se meter em confusões, mas agora, o que ele faz é algo que nunca imaginei. Sei que ele está apenas tentando ocupar a mente. Porque, quando a rotina não nos consome, as lembranças nos assombram.

Os amigos de Ítalo tem passado aqui várias vezes na semana para ver como ele está e brincar com o Valentim. Finalmente, lembro o nome de cada um deles, então quando um homem bem alto, negro, cabelo com waves bem delicadas, bigode um pouco fino e um sorriso torto aparece na frente da nossa porta; eu já sabia que se tratava de Gustavo. Ele riu de mim quando contei da gravidez, mas não sinto raiva. Ele se tornou um amigo também.

— Se eu soubesse que Ítalo ficaria assim, furaria as camisinhas dele antes. — Gustavo, um dos amigos de Ítalo, brinca.

Ítalo está lavando a roupa do Valentim à mão. Enquanto esfrega, seu amigo diz o quanto ele mudou e que nunca imaginou que o veria assim. Ítalo dá um sorriso tímido, e o amigo continua provocando, lembrando das merdas que eles faziam meses atrás.

— Ou então poderia ter me deixado bêbado. Nem usei camisinha. — Ele para e pensa. — Mentira. Usei sim. Caralho, acho que era pra eu ser pai mesmo — ri.

Fico envergonhada com a cara de pau de Ítalo e rio para disfarçar. Gustavo passa a tarde inteira aqui, e devo admitir que gosto quando um dos amigos tenta animá-lo. Sinto que, após dois meses, ele ainda está muito mal com a morte de Yara. Eu também estou profundamente afetada pela perda dela e tento seguir em frente, apesar da dor constante. Parece que ele parou no tempo em algum momento, mas não sei exatamente quando. Talvez quando ela ainda estava aqui. É compreensível, mas não quero que ele fique mal para sempre.

Quando Gustavo vai embora, a casa fica mais silenciosa, e o peso do luto parece voltar a pairar no ar. São sete e vinte da noite, e Valentim, milagrosamente, dormiu cedo. Aproveito esse momento raro e decido ligar a televisão para relaxar. Mas, ao me aproximar da cozinha, ouço o barulho constante da água caindo. Ítalo ainda está lá, esfregando as panelas com uma determinação quase frenética. Suspiro profundamente, preocupada com sua obsessão em manter a casa impecável.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora