CAPÍTULO 2

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O trauma começara, supostamente, quando Alessandra tinha pouco mais de três anos.

A mãe da pequena Alessandra fora até o berço de manhãzinha para ver se a menina estava dormindo bem, e ficou horrorizada ao perceber, sob a luz fraca do abajur, que havia uma lesma de quase cinco centímetros passeando pelo rosto da filha adormecida.

Os danos teriam sido menores se a mãe não tivesse gritado.

A menina acordou com o barulho, e deu de cara com a mãe abrindo o mosquiteiro do berço, desesperada. E quando Alessandra percebeu o que sua mãe tentava, sem saber como e visivelmente perturbada, em pânico, tocar em seu rosto, ela percebeu que havia algo errado com ele.

Algo que deixava sua mãe assustada.

Alessandra também ficou com medo. Levou a mão pequenina ao rosto e, num momento que ficou gravado para sempre em sua memória (sua primeira e mais antiga lembrança), ela descobriu o que estava rastejando pelo seu rosto.

Seu pai era o tipo bem humorado, e fazia o possível para transmitir essa alegria aos outros. Um ótimo pai, paciente e compreensivo; mas, às vezes, seu bom humor vinha na hora errada.

Mais tarde, no dia seguinte, o pai de Alessandra tentou transformar o pequeno susto em piada.

_Ela gostou de você, filha – ele disse. – Acho que só queria te dar um beijinho.

A mãe não achou graça. A menina muito menos. Ficou com mais nojo ainda, fechou a cara, e passou vários minutos sem conversar com o pai.


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