Alessandra acordou com a luz do sol e sentiu algo em sua boca. Era apenas uma pequena lesma de jardim, passeando pelo seu lábio superior. Ela sorriu para si mesma. Danilo continuava testando-a, só para ter certeza. Ela alisou a barriga lisa, que começava a crescer. Imaginou a criatura maravilhosa que estava se gerando dentro dela. Um filho perfeito para um mundo perfeito. Depois ela tocou – tocou mesmo – na lesminha, retirando-a com a ponta dos dedos, sem machuca-la e, levantando da cama com cuidado, abriu a janela e depositou-a no peitoril.
_E quantos existem? – ela perguntou, certo dia, ao marido – Assim, como você?
Danilo respondeu a verdade, pois não tinha mais nada a esconder.
A Mãe era a única de seu tipo na Terra. Cada mundo recebia apenas uma. Ela dera origem, sozinha, aos vários filhos como Danilo. Com seus poderes, mesmo a grande distância, ela selecionou as parceiras reprodutivas para cada um deles. Selecionou Alessandra porque ela era mais do que especial. Mais até do que as outras esposas escolhidas. Um dia ela saberia. Danilo não lhe diria agora, para que não atrapalhasse seu processo de evolução natural.
Ele lhe disse quantos havia ao todo, quantos casais como eles e quantos bebês, como o seu.
Alessandra estava aprendendo rápido. Já conseguia controlar funções do seu cérebro que nem sabia que existia. Graças a isso, Danilo não percebeu o que ela sentiu ao ouvir estes detalhes.
Havia ainda tão poucos!
A colonização estava apenas começando.
Ela se sentiu aliviada.
E ela pôde fazer também aquela outra grande pergunta:
_Afinal, aquilo era um Centro de Distribuição... de quê?
Mas Alessandra já desconfiava, e ele lhe confirmou que a resposta estava mesmo dentro de sua barriga. Aquele era o objetivo.
Danilo era um híbrido falso que não tinha nada de humano. A aparência com que se vestia no dia-a-dia, o fato de poder dirigir, alugar uma casa e manter uma conta no banco, não significavam nada. Com os poderes da Mãe, tudo isso era possível, e mais. Dinheiro nunca seria problema para eles – não com uma Mãe capaz de convencer um bilionário a mais de três países de distância a transferir grandes valores para as contas deles e depois se esquecer disso.
Todas as mulheres fertilizadas darão à luz naquele lugar, aos olhos da Mãe, e suas crias serão educadas por ela naquele mesmo lugar. Não precisavam de nenhuma instalação subterrânea blindada ou de um esconderijo secreto no meio da mata. Nenhum humano era capaz de entrar ali sem a permissão mental da Mãe. Eles sequer pensavam naquele prédio. A Mãe, assim como as crias, estavam perfeitamente seguras.
Não era apenas um Centro de Distribuição de Bebês. Era um Centro de Distribuição de sua própria espécie para o mundo.
Quando nascerem, a Mãe fará a educação deles através de suas habilidades telepáticas. A Mãe os integrará em sua comunidade, educando-as, explicando-lhes quem são e qual o seu propósito. Cada um deles possuirá três pequenos cérebros em formação e nada com que se distrair. Então, eles aprenderão rápido.
Estes filhotes irão se misturar à humanidade, pois farão isso com muito mais facilidade, e, a cada ano, o número de filhos e netos da Mãe será um pouco maior, e o número de humanos um pouco menor. Dentro de algumas gerações – não importava quantas, mas sim que um dia iria acontecer – haveria tão poucos homens e mulheres terráqueos, sem ligações com a Mãe, que nem valeria a pena exterminá-los.
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GULOSEIMAS
Science FictionVocê tem nojo de lesmas? Alessandra tem tanto nojo, um pavor patológico, resultado de um trauma de infância, que acredita que essas criaturas inofensivas a perseguem de propósito. Família, marido e amigos já tentaram convencê-la de que isso não fari...