CAPÍTULO 15

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Para toda mulher com sorte, chega esse momento feliz, e agora era a vez dela. Finalmente, parabéns, Alessandra era mamãe.

E com a alegria da maternidade, vieram as trocas de fraldas recheadas com capricho, as crises de choro, de febre, de tosse, as intermináveis noites sem dormir – que só quem tem um bebê em casa conhece.

Quando Alessandra pensou que finalmente conseguiria pegar no sono, eis que o pequeno começou a chorar de novo. Mas dessa vez ela ficou preocupada. Ele já tinha chorado assim alguma vez?

Ela achava que não. Não tinha mesmo.

Quando se tem uma criança em casa, você não pensa se levanta ou não da cama quando escuta o choro. Você apenas salta da cama e vai. E foi isso que Alessandra fez. Ela era uma ótima mãe, exatamente como Danilo disse que seria. Ela atravessou o corredor escuro, era tão comprido, e chegou ao quarto do nenê. A porta estava entreaberta. Todas as luzes deveriam estar apagadas. Afinal, ela o deixara dormindo... Ou não foi?

A luz do quarto estava acesa.

Ela abriu a porta e entrou. Caminhou até o berço, sabendo que havia algo errado, e havia mesmo. O berço estava vazio.

E havia uma coisa pior.

O interior do berço estava todo lambuzado por uma gosma transparente e brilhante. A marca de limo escorria do berço e seguia em direção ao banheiro – o menino dormia numa suíte com banheiro próprio. Se aquilo fazia sentido ou não, ela estava perturbada demais para perceber. Era assustador, as marcas que seguiam para lá, porque não tinham um tamanho normal. Era como se um cachorro tivesse se arrastado no chão com a barriga cheia de meleca de nariz. Alessandra chegou à porta do banheiro, novamente, estava meio aberta, e ela terminou de abrir.

Alessandra não chegou a entrar. Ela ficou ali parada, diante da porta aberta, sem acreditar no que via. Sem saber o que via. Seus olhos se arregalaram e sua boca tentou gritar, mas não conseguiu. Não havia voz. Não havia som naquele mundo. Então ela tapou a boca.

Olhava para dentro, tapava a boca com a mão e nem tentava gritar. O impulso era outro. Alessandra nunca soube o que havia dentro do banheiro. De todos os pesadelos, aquele foi o único do qual ela acordou realmente vomitando.

O jantar da noite anterior, junto com o suco de maça e mais alguma coisa amarga misturada, reapareceram e deixaram sua marca no chão do quarto. O cheiro de vômito tomou o ambiente, deixando-a ainda mais enjoada. Ela olhou para as cobertas. A base da cama estava manchada. Seu corpo ensopado de suor.

Alessandra virou e olhou para o outro lado da cama.

Danilo estava acordado.

_Tudo bem? – ele perguntou, preocupado.

É claro que não estava.

Ela tentou recuperar o sonho, lembrar o que havia dentro do banheiro, mas não conseguiu. Voltou a olhar para o marido, aquela cara de preocupado, e Alessandra se perguntou a quanto tempo ele estava ali, acordado, olhando para ela, exatamente como da outra vez.

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