Alessandra passou pelo corredor sem se despedir de ninguém e saiu pela porta da frente. Estava muito abalada. Danilo ficou mais um pouco com o casal Aguiar, apenas o suficiente para não parecer indelicado. Depois se desculpou por sair assim e disse que precisava ver como estava a esposa.
_Mas é claro, meu filho – falou Márcia. – Já devia ter ido.
Danilo se levantou e ajeitou a cadeira.
_E lembre-se de transmitir nosso pedido de desculpas. Por favor!
_Não se preocupe com isso – Danilo falou, e se retirou. Márcia o acompanhou até a porta. Orlando ficou na mesa, comendo.
Quando Danilo chegou em casa, encontrou a esposa sentada na cama, chorando. Ele sentou ao lado e tentou acalmá-la. Levantou o rosto dela e deu um beijo na testa, depois, nos lábios.
Vendo como estava, ele teve uma ideia. Começou a acaricia-la, bem devagar e subindo, mas Alessandra pediu para parar. Ele já sabia.
Depois desses sustos, Alessandra passava um bom tempo indisposta para as práticas sexuais. Ficava tão sensível, que não suportava nem mesmo ser tocada. O que uma coisa tinha a ver com a outra, talvez ela própria não soubesse. Danilo imaginava que o aspecto do órgão masculino tivesse qualquer coisa a ver com isso. Ela mesma podia pensar isso. Mas ele sabia que podia ser outra coisa. Alguma parte da sua esposa, alguma pequena parte lá dentro sabia de tudo, compreendia todos os segredos, todo o significado de certos detalhes incomuns em sua vida; mas a própria Alessandra (ser humano consciente), era incapaz de perceber isso. Os sonhos davam alguma dica, mas quem é que liga para os sonhos?
Tinham uma vida sexual até relativamente ativa, embora não tão ativa quanto ele gostaria. Algumas coisas estavam fora de cogitação. A ideia de qualquer coisa parecida com uma lesma entrando em sua boca, por exemplo, a enchia de insuportável repulsa e provocava acessos de enjoo, com um líquido amargo subindo do estômago.
Apesar de estarem casados ha três anos, usavam sempre proteção. Isso, curiosamente, fora iniciativa de Danilo. Alessandra até gostaria de ter um filho, de ser mãe e, quem sabe, mudar seu modo de encarar a vida – sem medo de cada canto suspeito e dos terrores pegajosos que se escondiam nas sombras –, mas Danilo insistia que ainda não era o tempo certo. Porque, apesar do desejo, ela ainda não estava pronta. Ela concordava, mas não podia imaginar no que ele realmente estava pensando.
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GULOSEIMAS
Science FictionVocê tem nojo de lesmas? Alessandra tem tanto nojo, um pavor patológico, resultado de um trauma de infância, que acredita que essas criaturas inofensivas a perseguem de propósito. Família, marido e amigos já tentaram convencê-la de que isso não fari...