CAPÍTULO 27

28 3 0
                                        


Não havia mais sulfato de cobre no armário nem as limpezas compulsivas. Não se ouvia mais aquele grito característico, de quando ela encontrava uma de suas antigas pequenas inimigas. Elas ainda apareciam, curiosas, mas não causavam mais estragos.

Alessandra estava curada.

Ela não sofria com pesadelos havia quase três meses.

Danilo sabia disso – afinal, não era ele quem os induzia, deitado ao lado da esposa adormecida?

Mas ela ainda sonhava, e isso, ele não sabia.

*

Danilo chegou do trabalho no Centro de Distribuição e encontrou a esposa no sofá, assistindo E o Vento Levou. Estava numa das várias cenas em que Scarlett O'Hara e Rhett Butler discutiam. Nas cenas seguintes, Danilo sabia que a filha dos dois morreria num acidente com um pônei, e o casal se separava.

_Cheguei! – anunciou baixinho e, quando Alessandra olhou para ele – Como vai minha família perfeita? Estavam esperando por mim?

Alessandra parecia tão frágil, mas Danilo sabia que era só ilusão. Grávida ou não, seu corpo era mais forte que o de qualquer humano.

_Estávamos sim – ela disse, passando a mão na barriga de três meses. Levantou devagar, apoiando-se nos braços do sofá, e Danilo a abraçou com cuidado.

_Eu disse a minha Mãe que nossa união daria certo.

_E que daria frutos – ela concordou, puxando a mão dele para a sua barriga, que aparecia sob a camiseta curta.

_Você está tramando alguma coisa – ele falou.

_Estou – ela admitiu.

_Posso saber?

_Pode sim. – ela fez com que o marido a abraçasse, depois passou a mão no peito dele. – Queria conversar com você. É sobre aquelas coisas que fazíamos, sabe. É que faz três meses... será que ainda podemos fazer?

Danilo estudou sua esposa por um momento.

_Mas não daquele jeito, lá no centro. Eu queria como fazíamos antes. Será que pode?

_Aquilo serviu a um propósito. Você entende. E só pode ser feito uma vez.

_Mas eu quero uma relação do tipo humano, preciso sentir prazer. Eu sinto nosso pequeno. Não acho que vá prejudicar ele. Você não sente falta? Quero dizer... – ela estava passando a mão nele.

Danilo sorriu. Com sua roupa de humano, eles já haviam feito amor muitas vezes, embora sempre com o cuidado de não engravidá-la antes do momento certo. Antes de ela estar pronta. Ele sentia falta, sim, mas tinha medo de machuca-la.

_Sou tão carente quanto qualquer homem – ele disse. – Temos um controle maior sobre nossas necessidades orgânicas, mas, sim, sentimos falta. – Abraçou ela um pouco mais forte, em torno da cintura. – Eu sinto falta.

_Acha que podemos nos divertir um pouco, como os casais normais?

Ele ainda lutava. Alessandra viu que o fogo ainda estava apagado. A influência da Mãe era imensa, mas ela sabia como convencer um homem – toda mulher sabe, na verdade, apesar de fingir que não. Ela foi direto ao ponto sensível dele e começou a trabalhar, primeiro devagar; depois com um pouco de selvageria. Alienígena ou não, Danilo tinha as cabeças no mesmo lugar que todos os homens, e não aguentou.

_Mas você vai usar esse aqui – ela disse, segurando seu membro. – E não aquela coisa – ela afastou as mãos, tentando lembrar do tamanho – que usou pra me engravidar.

_Está combinado – ele falou, e beijou sua testa.

Subiram as escadas bem devagar, com ele amparando-a como uma velhinha. Sabia que o pequeno corpo de sua esposa, com apenas um metro e quarenta, tinha força suficiente para erguer um trator e, quem sabe, até comê-lo, se precisasse.

Antes de perder a pequena Bonnie Blue para o pônei, Scarlett O'Hara e Rhett Butler já haviam sofrido com a perda de outro filho. Foi um aborto espontâneo, quando ela caiu da escada. Caso tivesse se lembrado disso, talvez Danilo estivesse preparado para o que viria a seguir.


GULOSEIMASOnde histórias criam vida. Descubra agora