CAPÍTULO 7

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Na rodovia, Danilo olhou pelo retrovisor e viu o carro vermelho que estava colado à sua traseira, buzinando como louco. Era como se não houvesse outras faixas por onde ele pudesse passar. Danilo era ótimo motorista e não se alterou. Deu sinal e mudou de faixa. O carro vermelho passou rasgando. A buzina continuou tocando, acompanhada pelos gritos de deboche dos ocupantes. Quatro ou mais jovens cujos contornos mal apareciam no carro insulfilmado.

Danilo não se interessou por eles. Sabia que garotões com carros rebaixados tinham uma necessidade compulsiva de ultrapassar tantos motoristas quanto lhes fosse possível. Eles podiam morrer na próxima curva que não faria a menor diferença. Já com Danilo era diferente. Sua vida tinha um propósito maior. Um empreendimento sem precedentes dependia de sua participação, assim como de sua esposa – coisa que aqueles moleques no outro carro jamais compreenderiam.

Ele pensou na necessidade deles por velocidade como uma doença, uma mania que talvez até pudesse ser tratada por alguém com a habilidade certa.

Alessandra também tinha uma mania, ele se lembrou. Na verdade, não era algo que conseguisse esquecer por muito tempo. Aquilo era justamente o seu maior problema, tanto em casa como no trabalho. Mas principalmente no trabalho.

Ela acreditava que lesmas e caramujos a perseguiam, aonde quer que fosse. Se mudasse de cidade, de trabalho, achava que os animaizinhos a seguiam e a encontravam. Era um medo difícil de combater, especialmente porque era justificado.

Danilo sabia que as lesmas a perseguiam mesmo.


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