GULOSEIMAS

CAPÍTULO 13

Na noite seguinte ela teve mais pesadelos. Foram terríveis, como sempre; mas o mais estranho aconteceu depois que ela acordou.

Alessandra gritou e, no grito, acordou sobressaltada. Depois deu mais um grito baixo, de dor, quando bateu a testa na cabeça do marido. Danilo perdeu o equilíbrio e caiu para trás, sentado. Alessandra olhou para ele, que estava rindo. Os dois estavam massageando a testa. A situação era engraçada, mas ela achou o sorriso dele meio forçado.

_Eu estava sonhando – ela falou.

_Deu pra perceber! – Ele sorriu ainda mais largo, anda mais forçado, ela achou. Era como se tivesse pegado ele no flagra de alguma coisa, mas do quê?

Alessandra olhou para ele ali, caído no chão ao lado da cama.

_Que horas são? – ela perguntou. O quarto estava escuro. Pelo alumínio da janela, dava para ver que ainda era de noite.

_Umas duas horas, eu acho.

_O que você estava fazendo? – ela perguntou, ainda sorrindo.

Notou que o olhar dele vacilou.

_Como assim? – Ele levantou devagar, encabulado, depois passou a mão no traseiro, como se esse também estivesse doendo, mas não estava.

_Você estava sentado aqui, do meu lado, enquanto eu dormia?

Ele se agachou novamente ao lado da cama.

_Estava olhando você dormir – ele falou. – Ouvi uns barulhos, e imaginei que estivesse tendo pesadelos. – Ele fez cara de espertalhão. – Acho que acertei – e passou a mão na testa. – Você sempre tem crises demoradas depois desses... incidentes. – Referia-se ainda ao caracol que ela vira saindo do vaso sanitário, no dia anterior. – Então eu já estava esperando pra te acalmar.

Ela assentiu.

_Você ia me beijar? – ela perguntou.

Alessandra percebeu que, para suas testas terem se encontrado, ele estava com o rosto bem encima do dela, quase colados, enquanto ela dormia.

Ele concordou.

_Pensei que seria a melhor forma para despertar uma princesa aprisionada no mundo dos sonhos.

Alessandra fez cara de dengo, sorriu para ele com carinho.

E quase acreditou.