CAPÍTULO 20

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Foi um começo infeliz, aquele dia no berço.

A Mãe havia dito para ele ser paciente – ela praticamente gravou isso em sua mente. Mas a curiosidade era maior. Ele era jovem, e sua parceira reprodutiva estava escolhida. Ele precisava conhecê-la!

Sentia necessidade de saber o cheiro dela, de memorizá-lo para sempre. Precisava sondá-la, e marcar seu território. Eram instintos que ainda não estava preparado para controlar...

E o pior aconteceu.

Com apenas três anos, ela ainda não estava preparada, e, por causa dele, ainda não estaria pelos próximos vinte anos.

Danilo fez o que pode para ajudar. Como amigo, namorado e esposo, mas nada deu resultado. Ele usou seus poderes. Tentou influenciar a mente dela, livrá-la da aversão a gastrópodes em geral. Mas um trauma de infância não é assim tão simples. Estava lá no fundo. Tão lá no fundo que ele jamais conseguiu alcançar. Foram noites e mais noites mergulhando nos sonhos da esposa, sondando e manipulando, tentando acostumá-la a conviver com os animaizinhos... Fez o que acreditou que funcionaria. Por vinte anos, ele atraiu para perto dela todos os espécimes de lesmas e caracóis terrestres que conseguiu. Quando ela percebesse que não adiantava fugir, acabaria se acostumando. Foi o que ele pensou.

Até agora o seu método só havia angariado resultados negativos. Mas ele estava cuidando disso. Sabia que sua Mãe seria paciente com ele. Afinal foi ela, a Mãe, quem escolheu sua parceira. Segundo ela, Alessandra era uma guerreira, uma mulher imbatível, só que ainda não sabia disso. Ela seria uma mãe perfeita.

A Mãe tinha bastante tempo.

Mas ela não tinha todo o tempo, como Danilo imaginava.

A Mãe disse que não podiam esperar mais vinte anos pelas crias, e que ele devia usar os meios necessários, ou então escolher outra fêmea compatível, e logo. Embora saibamos como é difícil para qualquer um de nós abrirmos mão de uma parceira reprodutiva depois que a escolhemos, as necessidades da espécie vêm antes de tudo. Faça os sacrifícios necessários, como nós faríamos – foi o que ela disse.

Danilo não conseguiu fazer isso e jamais conseguiria, mas a Mãe... A Mãe podia fazer qualquer coisa.

Ela queria resultados, e agora. Danilo havia tido bastante tempo. Ele era bom filho, mas ainda tinha muito a evoluir. E existia um cronograma que a Mãe precisava seguir. As outras contavam com ela. Por isso, ela ordenou a Danilo trazê-la à sua presença.

O que nenhum de seus filhos seria capaz, ela podia fazer num instante...

Ou melhor...

Estava feito!


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