CAPÍTULO 22

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Alessandra estava completamente dopada para aceitação, cortesia da Mãe de Danilo. Ela olhava para onde a Mãe queria que olhasse e pensava naquilo que ela ordenava. Em algum lugar, bem lá no fundo (exatamente o mesmo lugar onde estava guardado o seu trauma de infância), ela gritava, e como gritava, mas era inútil – ela não se pertencia mais.

Alessandra sentia-se como uma boneca de controle remoto, pois era exatamente assim que se movia. Seus braços e pernas lerdos e duros lembravam os androides daqueles primeiros seriados de ficção científica. A Mãe dera uma ordem e ela estava cumprindo. Alessandra estava retirando a sua roupa, peça por peça e jogando-a no chão de qualquer jeito. Ela ficou nua e, como se estivesse na praia, deitou-se no piso frio do galpão do Centro de Distribuição, entre a máquina sucateada e a criatura gosmenta cuja cabeça chegava quase ao teto sustentado por vigas de aço – sua sogra. Danilo também removeu todo o uniforme de humano, exibindo sua forma verdadeira – aquela que a esposa já vira algumas vezes, apenas em pesadelos, mas que não se lembrava.

_Agora façam! – ordenou a Mãe, e eles fizeram.

A lesma gigante e verde moveu-se sobre o corpo magro da mulher, escorrendo seu líquido lubrificante sobre ela, cobrindo-a de limo alienígena, e a Mãe assistiu enquanto eles copulavam. Com ela auxiliando, tudo daria certo.

Ariolimax Dolichophallus, também conhecida como lesma banana, é famosa entre os biólogos (e entre os curiosos por assuntos bizarros) por possuir o órgão genital maior do que o corpo. A espécie de Danilo não chegava a esse extremo, mas, se comparado com o que Alessandra poderia esperar de um humano normal, com o que ela estava acostumada quando eles mantinham relações normais e com segurança, o que seu marido introduziu dentro dela (que ela, felizmente, não chegou a ver) poderia ser considerado, no mínimo, uma aberração. Seu membro era quase do mesmo tamanho que a pequena Alessandra. Uma haste flexível de cinco centímetros de diâmetro e comprimento indeterminado, que foi se introduzindo até desaparecer, e continuou entrando e entrando. Tomada por espasmos, Alessandra sentiu como se a haste já tivesse visitado seus ovários e, tendo realizado esta parte do trabalho, uma extensão mais fina subia, por caminho desconhecido, até o seu cérebro. Se passava por dentro ou por fora da sua espinha dorsal, ela não fazia ideia. Não havia como saber. Mas ela podia senti-la em sua mente. A Mãe estava lá, e os hormônios que ela precisaria para parir e para alimentar a cria estavam sendo inoculados diretamente no seu cérebro.

Alessandra sentiu uma dor miserável, que subia lentamente pela coluna, seu corpo tremendo, querendo se contorcer, mas sem encontrar espaço para isso, e chegava direto ao cérebro. Era como se estivesse realizando o exame ginecológico mais profundo e desagradável da sua vida.

Ela não tinha vontade própria, nem mesmo para se incomodar com a dor.

Alessandra estava... irremediavelmente... grávida!


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