CAPÍTULO 34

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Alessandra reconheceu o gerente de logística correndo em sua direção. Ele estava se transformando – o que significava, basicamente, remover a casca de humano o mais rápido possível. Sem a casca, teria espaço para utilizar toda sua força. Era incrível ver como uma lesma podia correr. Sua roupa estava rasgando e a barriga de glutão transformando-se numa geleia transparente com tentáculos venenosos. Mas aquela meia transformação não era novidade para a mulher com o machado. Ela decepou sua cabeça de um único golpe, e esta saiu voando como bola de beisebol, um rastro de gosma brilhante marcando-lhe o trajeto no ar.

Outros também tentaram se transformar, mas não tiveram tempo. Alessandra os despedaçou um a um, e dos que escaparam... ela cuidou depois.

Alessandra era uma mulher magra, mesmo com a barriga. Magra e baixa. Um metro e quarenta por cinquenta e dois quilos. Mesmo assim, quando uma lula gigante – talvez fosse um daqueles funcionários transformado – surgiu de repente, colocando-se entre ela e a Mãe, Alessandra não teve dúvidas de que poderia fazer o que fez. Ela arremessou o machado do mesmo modo que um canhão entupido de pólvora arremessa uma bala de chumbo. O machado girou no ar como bumerangue, mas em linha reta, e acertou o alvo. Atravessou a maça maior que corresponderia à cabeça da coisa, já que ficava entre dois olhos, e foi cravar-se e desaparecer na massa asquerosa e salgada onde a Mãe estava derretendo.

Márcia não acreditava em como sua amiga estava forte. Quando terminou sua parte, ela desceu da cabine azul do caminhão, com o qual havia atropelado a Mãe, e olhou em volta. Havia corpos por todos os lados. Alguns eram homens... outros eram meios homens... e havia outros que não tinham qualquer semelhança com um ser humano.

Alguns haviam fugido, mas Alessandra não tentou impedi-los. Não havia pressa.

Elas foram aos escritórios – no final das contas, só havia um – e procuraram em todos os armários de documentos. Numa das gavetas, encontraram o que ela estava procurando. Uma lista completa de funcionários com nomes e endereços.

Tudo que Alessandra precisava para se manter segura estava ali, naqueles papéis.

Nos dias seguintes, os funcionários do Centro de Distribuição e suas esposas foram sistematicamente desaparecendo, sem deixar rastro. Ninguém nunca deu queixa das mortes, assim como nunca foi feita uma ocorrência sobre a invasão do Centro de Distribuição. E ninguém nunca veio atrás delas.

Naquelas noites, Alessandra às vezes saia disfarçadamente, sem dar justificativa. Márcia sempre via. Ela usava um tênis velho e gasto e um conjunto de moletom com touca que quase disfarçava sua barriga de três meses. Também levava um volume debaixo do braço. Márcia sabia que era o machado.

Mas o que quer que Alessandra estivesse fazendo, usando suas novas habilidades, estava fazendo muito bem, e estava funcionando.

Márcia até pensou: "Aqueles monstros nunca imaginaram que seriam exterminados por uma mulher baixinha, grávida, com uma barriga de três meses, e com um instinto de defesa que eles mesmos implantaram".

Alessandra era extraordinária, e Márcia entendeu que havia boas razões para ter medo dela.


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