A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}

Capítulo 20 - Samantha

Eu e Anna estamos em uma caixa de vidro. Lutamos contra a parede transparente, mas ela não se quebra. O cabelo ruivo de Anna está molhado de suor. Em um ato de desespero, ela tenta cavar um buraco com os dedos na porta de vidro, em vão. Uma buzina alta apita e zuni em meus ouvidos. Uma garota se aproxima correndo com uma chave. Tem os cabelos escuros, cacheados, a pele também escura e sardas no rosto, com os olhos castanhos brilhantes. Ela solta Anna e depois se vira para minha gaiola, abrindo o cadeado eletrônico. A buzina continua.

- Kendall! – exclama Anna quando a abraça. – Obrigada!

- Vocês precisam sair daqui. Agora! – ordena Kendall

- Jake e Ben estão bem? - Pergunto saindo da cela.

- Estão esperando vocês. Rápido! – Kendall corre e nós a seguimos.

Passamos por diversos corredores, com Kendall atirando em todos os robôs que ousaram nos interromper. Kendall, ofegante, começa a nos contar informações sobre os próximos planos.

- Yeager vai expandir a Empresa – Conta entre a respiração pesada. – Todos as instalações ao redor da estação aquática do rio Hudson vão sumir. Os invasores, agora reconhecidos como do Refúgio 21, aproveitaram o tumulto da reforma. E tenho certeza de que Yeager não está gostando nem um pouco disso. Não posso ajudar vocês com muita coisa depois que saírem. Os prédios que vocês vão usar foram evacuados por motivos de segurança, então não terão problemas com os robôs. – Viramos em outro corredor - Há algumas informações sobre rebeliões internas. Rebeliões entre os robôs. Precisam atravessar aqueles três prédios. Há um pequeno barco atracado perto do último prédio. É mais do que necessário vocês interromperem a queda, ou irão se espatifar na água.

Chegamos a uma porta. Kendall a abre e a segura para que possamos passar.

- E você? – Pergunto.

- Eu vou segurá-los. Agora vão. Os meninos estão depois dessa porta.

Olho para a porta escura à minha frente.

- Kendall, eles vão descobrir – argumenta Anna, hesitando. Porque Kendall é um dos robôs, e quando souberem que ajudou em nossa fuga...

- Não se preocupe com isso. Eu dou meu jeito.

Anna a abraça. Dou um sorriso. Kendall me entrega uma arma, antes de sair correndo. Abrimos a porta. A sala é grande. Com um corredor para a esquerda e outro para a direita. E na frente uma janela que dá para um pequeno conjunto de duas instalações, um pouco mais baixas do que a Empresa Yeager. Atrás deles, o rio se estende, um pouco longe de Manhattan, ainda escuro, mas radiante.

Assim que passamos, Jake e Anna se encaram por alguns segundos, constrangidos. Por um segundo acho que os dois iriam se beijar, mas depois Ben abana o ar na frente dos dois, impaciente.

- Andem logo! – resmunga Ben se afastando e passando a mão no cabelo também ruivo antes de pegar a grande pistola com um gancho na frente.

Puxo o braço de Jake

- Andem. Temos que ir! – chamo.

- Se afastem – pede Jake. A pele cor de café brilha quando ele lança a mão com força sobre a janela a quebrando em mil pedaços.

Ben fica boquiaberto, enquanto posiciona a arma sobre seu ombro.

- Vamos pular entre dois prédios?

Anna dá de ombros.

- Na verdade são três.

- Ah, desculpe, se a ofendi – murmura Ben, se ajeitando.

- É a única saída – explica Anna – Ande logo.

Ben suspira e depois se ajoelha no chão, a arma posicionada. Ele prende a respiração ao apertar o gatilho. O gancho corta o ar em disparada até a coluna de concreto do outro prédio. Bem se levanta e prende a outra extremidade do cabo na pilastra de concreto ao nosso lado. Ele se certifica de que está bem preso e então se agarra a beirada da janela:

- Eu vou morrer!

- Ande logo, eu estou bem atrás de você - Anna repete.

Ben tira a própria camisa, a lançando por cima do cabo, soltando o ar com força antes de se lançar para frente. Anna faz o mesmo com sua camiseta, ficando apenas com sua regata, e pega a arma pela alça, a jogando por cima do ombro. A ruiva nos lança um olhar apreensivo antes de seguir atrás de Ben. Escuto Ben gritando e comemorando. O que você não entendeu sobre ser silencioso?

E eu Jake nos entreolhamos.

- Damas primeiro – Ele diz com um sorriso.

- Então acho melhor você ir.

Ele fecha a cara, mas tira a própria camisa, lançando-a pelo cabo. Jake dá um impulso para trás então se joga para a frente e desliza pelo ar. Puxo minha regata, ficando apenas com top, e me preparo para seguir Jake. Mas escuto passos vindo do corredor direito. Coloco a arma em punho, quem quer que fosse não poderia ver por onde passamos.

Um garoto surge. O cabelo escuro em estilo militar, os olhos castanhos arregalados. Ele é parecido... comigo?

Não. Não pode ser.

O garoto segura uma arma e olha chocado para mim. Como se não houvesse motivo para me matar agora. E eu? O que eu estou esperando para atirar nele agora?

- Samantha? – Ele pergunta boquiaberto. Escuto mais passos vindos do corredor esquerdo e assusto. O garoto dá um passo à frente.

Num impulso, atiro em seu ombro esquerdo e ele cai no chão se contorcendo de dor.

Não penso duas vezes antes de me lançar pela janela, o ar batendo em meu rosto, e sorrindo diante da adrenalina. O cabelo escuro de Jake e os ruivos dos irmãos Hammer me esperam na outra extremidade, e começo a me preparar para aterrissar.

É mais duro do que pensei, e me choquei no chão com tanta força que minhas costas ricocheteiam. Dou uma cambalhota para frente apara interromper meu pouso, e logo em seguida, ergo o rosto gritando:

- Corte o cabo! Corte o cabo!

Jake nem hesita antes de jogar o punho com força contra a coluna de concreto e arrancar o gancho de lá, o lançando para longe. Ben e Anna correm na frente, quebrando a janela e já disparando o outro gancho. Dessa vez, Ben não dá para trás antes de repetir o procedimento, um sorriso estampado em seu rosto corado pelo vento forte.

Anna o segue, nervosa. Parecia estar doida para terminar tudo. Jake vai logo atrás, depois de me olhar desconfiado. Porém eu o sigo, continuo, reta e focada. Não havia como eu parar agora. A escolha já havia sido feita. Cada segundo que passava e cada rajada de vento que batia em meu rosto me fazia querer ir para mais longe de Yeager.

Os três já estão na outra extremidade do prédio quando aterrisso, e corro para alcança-los.

- Tudo certo? – pergunto, ofegante.

Ben faz cara feia, erguendo o cotovelo ensanguentado.

- Não – resmunga – eu bati no chão e saí capotando.

- Vamos, pessoal – chama Anna, antes que eu e Jake pudéssemos implicar com Ben – Precisamos sair daqui.

Atrás de nós, o tumulto continuava na Empresa Yeager. Anna joga a corda e a amarra na ferragem, a testando para ter certeza de que não irá se soltar. Ben utiliza a corda para descer, seguido de Anna, e depois Jake.

Quando me aproximo da beirada, vejo um último fragmento da Empresa Yeager sendo deixada para trás. A partir daqui tudo vai mudar. Para sempre.

Respirando fundo, desço a corda.

O contato súbito com o barco me faz acordar.

Levanto assustada e fico surpresa ao ver que Sofia e Lílian ainda estão dormindo tranquilas. Olho as horas, e o relógio marca 03h23min.

- Droga... - murmuro para mim mesma antes de deitar novamente.

___________________________________________
Eita atrás de eita
✨Estrelinha atrás de estrelinha✨