22 de abril de 2190, Quinta-feira. Mais um dia em que acordo no automático, observando a luz do sol sapatear em meu rosto. Sinto saudades de quando nosso rádio funcionava, mas depois da quinta ou sexta vez que ele deu problema eu simplesmente cansei de gastar meus neurônios com aquela coisa.
Ainda no modo automático eu me vesti e segui para o refeitório. Usando moletom, eu ainda sinto frio. É assim que funciona atualmente, às vezes faz calor e às vezes faz frio. O café da manhã me desanima: mingau. Logo depois me repreendo por reclamar quando as coisas no refúgio estão difíceis - a comida está escassa, os recursos são poucos. Dou cinco colheradas no mingau antes de notar uma criança me avaliando. Ou melhor, avaliando o mingau do meu prato. Vejo se alguém está vendo e então me levanto devagar, pegando meu prato e caminhando até o garotinho. Ele parece feliz quando deixo meu prato em sua frente e pego o dele vazio. Quando ele sorri para mim, lanço uma piscadela de volta.
Eu assobiava minha música preferida enquanto socava mais uma vez o saco de pancada. A ala de treinamento está calma, o que me faz pensar se todos estão no refeitório.
Era uma boa distração. A luta me fazia esquecer a verdadeira guerra.
Eu, Jason e Max, estamos treinando boxe, quando Lílian atravessa a porta junto com Sofia. Faz anos que treinamos todos os dias, mas as duas pareciam não precisar de treinamento às vezes. Ou pelo menos não se preocupavam mais. Sei que vieram avisar algo quando os olhos azuis de Lílian focam nos meus – ela está preocupada.
Sofia e Lílian usam a roupa de uniforme: blusa regata, calça e botas pretas. A diferença é que Sofia com seu jeito meigo usa uma jaqueta jeans, e Lílian uma preta.
Jason tira as luvas de boxe e vai em direção à Sofia. Já passou o tempo em que ela me cumprimentava primeiro, mesmo dizendo que irmãos têm mais prioridade do que namorados. Quando minha irmã olha para mim, apenas faço careta, a qual ela retribui com um lindo sorriso.
Enquanto seco meu rosto, Lílian me dá um soco de brincadeira no braço.
- E aí, Mané? - Cumprimenta e troca um Highfive com Max.
Eu esfrego o braço exageradamente, torcendo o nariz.
- Esse jeito de você me cumprimentar... tem que mudar - digo e ela estala a língua, revirando os olhos.
- O assunto é sério - fala Max, se virando para Lílian logo em seguida. - Vamos ter que fazer outra patrulha?
Lílian dá de ombros para o irmão, assentindo. Ele joga os olhos também azuis para o teto enquanto coça a nuca, desconfortável.
- Fizemos uma na terça-feira - Resmungo vestindo a camisa. Segunda reclamação do dia.
Max balança a cabeça, tentando não perder a paciência. Me pergunto se ele se arrepende de ter aceitado a liderança do Esquadrão.
- Disseram que os Esquadrões estão enfraquecidos e as rondas robôs aumentaram. Sabe como estão as coisas por aqui, cara. - Ele mexe no cabelo, escuro como carvão. - A comida está pouca, os trabalhadores estão cansados...vamos apenas fazer o que eles mandam; eles cuidam do resto.
- Vamos sozinhos?
- É claro. Está com medo?
Eu reviro os olhos.
- Só se for dessa sua cara feia.
Ele fecha a cara, mas sua irmã solta uma risada, tocando meu ombro.
- Saímos as 19h00min, não se atrase, magrelo.
Aceno com a mão e saio da ala de treinamento, me dirigindo até as escadas e descendo o andar. Passo pelos corredores e entro em meu quarto. Há uma mini geladeira entre nossos beliches, que encontramos em uma de nossas missões. O cômodo era completamente cinza e sem vida, então sempre que encontrávamos algum objeto que trouxesse um pouco de cor fazíamos o possível para trazê-lo. Tínhamos sorte algumas vezes, como quando encontramos uma câmera fotográfica em bom estado, ou quando encontramos alguns livros escondidos no armário da biblioteca. Era nossa diversão quando tínhamos tempo livre, assim como as revistas em quadrinhos.
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A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}
Science FictionNova York, 2190. Em um futuro distante, as consequências dos avanços incontroláveis da tecnologia são irreversíveis. Após uma terrível guerra entre os humanos e os robôs, a população humana está quase extinta. Os que restaram, vivem em refúgios há s...