Encaro o teto da cama, refletindo como às vezes fazia um pouco antes de acordar.
Eu sinto saudades dela. Às vezes imagino como ela seria se ainda estivesse aqui. Trabalharia na cantina? Na enfermaria? Cuidaria das crianças, para se lembrar de quando eu e Sofia éramos mais novos? Não. Ela seria mais um soldado Baker. Seria uma mulher forte, como Sam.
Minha mãe seria incrível.
Agora, quando acordo sei que ela não está treinando. Não está fazendo café. Não está cuidando de feridos...
Ela está morta.
Me levanto da cama, preguiçoso. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando acalmar meus batimentos que aceleram quando lembro do que vamos fazer amanhã. Visto a blusa de moletom e saio do quarto, esperando encontrar Sam no refeitório, mas encontro apenas Sofia e sua expressão preocupada.
- Sofia? – chamo me aproximando dela. – Sabe onde está Sam?
Ela fica vermelha e suspira.
- Não, senhor.
- Todas vocês estão estranhas hoje.
- Cólicas, Ethan! - ela reclama. - Você e os garotos estão sempre enchendo o saco, agora vão ter que aguentar.
Fico calado e ergo as sobrancelhas. Minha irmã coça a nuca, sorrindo amarelo como se pedisse desculpas.
- Eu esqueci que ela estava na ala de treinamento, desculpe. Vou treinar com ela e Lílian – explica, como se estivesse ansiosa para sair daqui. – Por que não vem também?
Ela me beija na bochecha e sai correndo na frente. Me pergunto como mudou de atitude tão rápido, mas a sigo mesmo assim.
Sam, afinal, estava na ala de treinamento. Usa a mesma faca de sempre, e detona os bonecos eletrônicos. A morena arranca a cabeça de um e esfaqueia outro no meio do peito. Com uma expressão feroz, se joga contra o pescoço de um boneco, o arremessando contra a parede.
Eu já tinha visto Sam lutar, e ela não desistia tão fácil. Mas não está tranquila e relaxada, como sempre fica enquanto treina. Parece com raiva. Ela separa sua faca, a transformando em duas, corta o pescoço de um boneco e esfaqueia outro, interrompendo a luta respirando rápido.
Estava tão acostumado com Sam sendo firme como pedra que a ideia de ela estar com medo me deixa confuso. Se é medo, eu não sei. Mas Sam está incomodada. Ela não olha para mim quando pergunto se quer conversar, e faz careta quando chuto um boneco de volta em sua direção. Com um rápido "estou bem", ela se vira para treinar com Lílian e Sofia.
Treino Boxe com Jason e depois luto contra Max. Por conta da distração, levo um soco mais pesado de Max, o que faz Jason soltar as primeiras gargalhadas do dia. De repente, cai a ficha do quão estranho aquilo era – Jason não tinha dificuldade nenhuma de achar alguma coisa para rir, e dessa vez demorou até demais. Apenas um dia até a nova missão, invadindo o único lugar que sempre evitamos. Seis anos tentando proteger esse Refúgio, e de um segundo para o outro, ele não parecia tão seguro. Embora segurança seja algo frágil ultimamente, para mim não há lugar melhor do que o Refúgio 17.
Mas existem pessoas que te fazem esquecer completamente da onda de problemas que se aproxima. Como era o caso de Colin, Ed, Coisa 1, Coisa 2, Bocão, Jason, Max e diversos outros meninos que se encontram na Ala de treinamento.
Sam se despediu de mim com um beijo simples, mas que gerou diversas piadas e brincadeiras. Principalmente com Coisa 1, Coisa 2 e Jason na sala. Reviro os olhos diante dos assobios e volto a socar o saco de pancada que Max segura em minha frente.
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A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}
Science FictionNova York, 2190. Em um futuro distante, as consequências dos avanços incontroláveis da tecnologia são irreversíveis. Após uma terrível guerra entre os humanos e os robôs, a população humana está quase extinta. Os que restaram, vivem em refúgios há s...