Sofia e Lílian ficaram em silêncio, mas eu sabia que a loira queria falar alguma coisa a respeito da surra que dei em Arthur. Não era surpresa que, mesmo eu estando apenas há uma semana no Refúgio, eu já não ia com a cara de alguém. Embora eu me repreenda mentalmente por ter feito o que fiz, também não me arrependo por completo.
- Sofia – solto. - Pode falar.
Ela sorri, erguendo as mãos.
- Só queria dizer que estou muito feliz de você estar no nosso esquadrão, porque aquilo foi incrível!
Lílian desvia o olhar para mim e dá de ombros. Eu sorrio, enquanto Sofia continua tagarelando e Lílian a manda calar a boca.
Então, acontece. Novamente o mal-estar e a dor de cabeça. As imagens começam a aparecer:
Estou sentada dentro de um carro com as portas trancadas. O garoto de cabelos castanhos e cacheados com a aparência de 20 anos dirige. Ele olha para os lados, nervoso. Embora não entenda o que está acontecendo, me sinto apavorada.
- Aonde estamos indo? – pergunto ao garoto.
Ele faz uma curva. Pessoas correm por todos os lados desesperadas. Bombas explodem em alguns pontos, provocando vários acidentes. O fogo balança por cima de alguns prédios. Um carro bate no outro perto de nós.
O menino não responde minha pergunta, apenas continua indo mais fundo para o sul de Manhattan. Uma bomba explode bem perto de nosso carro, e o garoto desvia rapidamente, me fazendo ficar ainda mais assustada.
- QUERO SAIR DAQUI!
De novo, o menino não responde, mas de repente estaciona o carro e solta o cinto de segurança. Ele sai do carro e abre minha porta, me pegando em seus braços e correndo. Fecho os olhos com força ao ver pessoas feridas, mas o rapaz não as ajuda. Apenas continua indo em direção a uma grande abertura no chão.
Outra bomba explode.
E isso me traz de volta ao normal.
- Sam?
É a voz de Lílian. Ela e Sofia me encaram confusas, próximas a porta do banheiro.
- O que foi? - limpo a garganta casualmente.
- Nós é quem perguntamos – Sofia se aproxima, estendendo a mão para tocar meu ombro. - O que aconteceu? Você simplesmente parou de andar e ficou encarando o chão...
A visão do garoto me vem à mente. Dou de ombros e balanço a cabeça, afastando o pensamento.
- Estou bem – falo e entro no banheiro.
Elas se entreolham, mas depois de alguns segundos me seguem. Sofia e Lílian entram primeiro, me dando tempo suficiente para respirar e colocar a cabeça em ordem antes de entrar no box.
Ligo a ducha e deixo a água fria cair em minha pele.
As perguntas martelam sem parar: quem era aquele garoto? O que estava acontecendo? E para onde estávamos indo?
Nenhuma das minhas perguntas teriam respostas tão cedo, e eu bufo com raiva, sozinha. Saio do chuveiro já com a roupa no corpo, sem perceber que fiz tudo automaticamente. Sofia passa uma escova no cabelo molhado, e Lílian amarra os cadarços do coturno.
Olho no espelho ao lembrar que não sabia o que estava usando.
Blusa branca, jaqueta preta, calça jeans e tênis. Foi o que Sofia me entregou. Além disso, há o gorro cinza surrado, que decido colocá-lo se o clima esfriar. Arrumo meus fios de cabelo rebeldes e espero as meninas terminarem.
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A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}
Science FictionNova York, 2190. Em um futuro distante, as consequências dos avanços incontroláveis da tecnologia são irreversíveis. Após uma terrível guerra entre os humanos e os robôs, a população humana está quase extinta. Os que restaram, vivem em refúgios há s...