Os olhos castanhos de Anna não saem dos mapas em cima da mesa do refeitório quando chegamos. Os Esquadrões estavam livres de muitas obrigações - alguns, como Coisa 1 e Coisa 2, ficavam na ala de treinamento. Colin, Ed e Bocão ficavam jogando cartas no refeitório, e outros, como Matthew, ficavam apenas enchendo a cara na cerveja improvisada de alguns garotos. Os dias estavam sendo calmos – porém inquietantes de certa forma - e deprimentes. Diminuímos as saídas, decidindo esperar a poeira abaixar um pouco, o que significa que as missões em busca de comida estão suspensas. Ainda temos um bom estoque de rações diárias, mas não iríamos sair para caçar, pelo menos por enquanto. Essa seria nossa vida daqui para frente.
Eu e Sam caminhamos em direção a mesa em que Anna estava sentada, mas Sam desvia caminho e segue primeiro até a mesa de café da manhã. Me sento à frente de Anna, que não desvia o olhar nem por um segundo.
- Oi – cumprimenta ela, cordialmente.
- E aí? – respondo. – O que está fazendo?
Sam se senta ao meu lado com uma bandeja. Pelo visto, as mulheres da cantina estavam descontando sua ansiedade na cozinha: haviam mais bolos e pães do que de costume. Sam bate em minha mão quando tento pegar um pedaço de seu bolo de milho, e me lança um olhar desafiador.
- Estou tentando achar uma rota mais segura – explica Anna para nós. - Finalmente consegui achar alguém que me entende e sabe exatamente o que eu pretendo fazer. É muito difícil tentar falar com alguém que me encara de modo esquisito apenas pelo jeito com que falo. Lian consegue ser mais esperto do que eu – quando Sam ergue uma sobrancelha, a ruiva acrescenta: - às vezes. Conseguiu até encontrar um jeito de testar as radiações e verificar se os lugares que passaremos estão infectados.
Ela volta o olhar para o computador. Sam desiste de me impedir de pegar a torta e por fim me entrega, apoiando o rosto na mão:
- Como está se sentindo esses dias? – pergunta.
- Estou ansioso – respondo, comendo a torta. – E com muita fome. Tipo, muita mesmo. Acabo de comer o café da manhã e meu estômago ronca menos de duas horas depois. Mas é normal, certo?
Então percebo que Sam recua levemente para trás, piscando os olhos e balançando a cabeça.
- Ah, sim, eu acho. Ansiedade faz isso, não é, Anna?
A ruiva disfarça rapidamente a careta que estava fazendo e assente, virando o rosto. Observo Anna enquanto ela digita do computador e desliza o dedo sobre uma bússola analógica. Deixo o outro assunto de lado e mudo a conversa no meio de outra garfada.
- Você já sabia que havia um robô grandão no meio deles, não é? – pergunto a Anna me lembrando da missão. A ruiva assente. – Como?
Ela me lança um olhar rápido e depois volta a olhar para a tela do aparelho.
- O nome dele era Wilson – explica. – Ele era um cara legal.
Arqueio a sobrancelha.
- Como assim "legal"?
A garota tira os olhos do notebook por um instante, mas volta a olhar para o objeto.
- Ethan, os robôs tinham vida própria. Eles também sonhavam, também se imaginavam com filhos e uma família. E o que os impediu de ter isso foram os humanos.
- Robôs podem ter filhos?
Ela ri, e sua expressão fica suave.
- Bom, não da mesma forma que os humanos; os robôs podem criar seus filhos por meio de um programa, mas existem várias tecnologias que deixam isso o mais humano possível. O tecido que protege os "ossos" deles, é feito de pele humana legítima. Ou seja, ela envelhece. Isso permite que os robôs tenham uma vida normal – continua Anna, em seguida seus olhos brilham em empolgação. – Gostaria de poder mostrá-los interiormente, você iria se admirar. É impressionante como os humanos conseguiram criar órgãos, veias, sangue...
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A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}
Science FictionNova York, 2190. Em um futuro distante, as consequências dos avanços incontroláveis da tecnologia são irreversíveis. Após uma terrível guerra entre os humanos e os robôs, a população humana está quase extinta. Os que restaram, vivem em refúgios há s...