Depois que os robôs dominaram o mundo, as coisas ficaram boas para eles. Reconstruíram cidades para eles nos lugares mais afastados, investiram em plantações e indústrias. Era como se os humanos fossem apenas uma praga a ser exterminada, enquanto milhares de robôs viviam uma vida pacata em seu novo mundo. Mas, Yeager queria mais. Ele começou a mandar os robôs capturarem os humanos, e não os matar. Yeager realizou diversos experimentos em vários humanos, mas os testes não funcionavam. E foi aí que ele capturou um garoto. Um garoto forte e corajoso, que daria a vida para salvar uma pessoa. Jake Chase. Jake foi o primeiro em quem o teste funcionou. Depois foram os irmãos Hammer, Anna e Ben, e eu vim logo depois.
O primeiro humano teria a força de mil homens. O segundo, a velocidade humana, multiplicada inúmeras vezes. O terceiro teria o cérebro humano evoluído centenas de vezes mais. E no último, a agilidade, a flexibilidade e eficiência alterados, modificados, transformados.
E assim surgiu a nova espécie: Biônicos - Humanos evoluídos com tecnologia robótica.
Não é possível ser qualquer humano para ser realizada a experiência. É preciso que o organismo do hospedeiro se adapte as novas características. Caso contrário, o organismo iria se confundir, eliminando também as células essenciais para a vida, matando o hospedeiro.
Yeager não queria apenas capturar os humanos, ele queria que os humanos servissem para alguma coisa. E depois que descobrisse como fazer os robôs se adaptarem a nova evolução, ele poderia facilmente se livrar da espécie que tanto desprezava.
Meu problema, é que sou o alvo principal - Por algum motivo, meu organismo se adaptou perfeitamente ao soro. Foi mais do que perfeito, na verdade. Ele não só adquiriu agilidade, como também evoluiu a força humana. O que complica ainda mais, é que o soro dentro de mim se desestabilizou.
Uma vez injetado, não há maneiras de retirar o soro Biônico. Depois de evoluído, não há como diminuir a quantidade. Após expandido, não há controle. Nas simulações de Yeager, caso o soro em mim se ampliasse até ocupar todas as células, destruindo a parte consciente e humana, não iria sobrar nada além do instinto primordial de sobrevivência.
Eu seria uma máquina de matar.
Eu sentia o soro me consumindo, subindo e descendo em minhas veias. Tomando posse de cada órgão. Jorrando em meu cérebro, o controlando. Cada vez em que eu perdia minha paciência era um risco para quem estava perto de mim.
Não haveria nada que pudesse me controlar e seria quase impossível me parar.
Sempre me perguntei porque o soro havia se desestabilizado. Mas nem mesmo Yeager pôde me dar a resposta porque fugi antes mesmo de ele terminar seus testes. Agora ele me persegue constantemente para encontrar um meio de fazer o soro funcionar em seus robôs.
A voz de Anna começa a fazer sentido em minha mente, e eu ergo os olhos. Ao avaliar as expressões dos líderes e dos membros, percebo que algo começava a fazer sentido para eles.
Então, Anna finaliza:
- Só existe uma maneira de vencer Yeager: Biônicos e humanos lutarem juntos.
...
Mesmo com a permissão de andar livremente pelo Refúgio sem uma arma apontada para minha cabeça, ainda recebo olhares duros ou amedrontados. Por um segundo desejo que Biônicos tivessem capacidade de telepatia, e assim eu poderia dizer a todos "ei, eu não vou matar nenhum de vocês, não quero machucar ninguém". Mas como isso é impossível, tenho que me contentar em respeitar todos no Refúgio mesmo quando me tratarem com rispidez.
Os líderes são dispensados. Liberados, Ethan, Jason, Sofia e Lílian seguem para o refeitório. Os gêmeos me cumprimentam quando passam por mim, parecem estar felizes em saber de minhas habilidades. Kevin e Hazel também acenam com a cabeça, mas o restante passa indiferente – era melhor do que caretas. Quando vou sair da sala, Anna me puxa pelo braço e abaixa o tom de voz para que apenas eu escute.
- Você precisa contar a ele – diz a garota, os olhos castanhos agitados. Ela cruza os braços. – precisa contar a Ethan.
Tento ignorar o assunto e viro o rosto.
- Sam... – Anna suspira. – Você sabe muito bem o que tinha naquela seringa que o atingiu.
- E como espera que eu faça isso? – indago, exasperada. – "Ei, Ethan, você é um de nós agora, tente não esmagar sua irmã em um abraço"
- Então, vai mentir para ele de novo? – pergunta e arqueia a sobrancelha. – Sam, é o soro Biônico. Se Ethan não souber controlar...
- Ethan é garoto mais forte e inteligente que conheço – retruco. – E você viu o mesmo que eu: ele nem sentiu nada, nem mesmo uma dor de estômago.
Ela troca o pé de apoio.
- Tudo bem, ele se adaptou rápido, vamos supor isso – Anna fala, e acrescenta logo depois: – Ele ainda pode não saber controlar.
Respiro fundo.
- Quando chegar a hora, eu conto – digo. – Quando eu tiver certeza de que a ideia dos Biônicos não o enoja.
Ela morde o lábio, semicerrando os olhos e franzindo a testa, como se pudesse avaliar cada célula de meu corpo apenas com o olhar.
- E o seu soro?
Cruzo os braços, limpando a garganta e desviando o olhar.
- Você perdeu o controle alguma vez? – insiste Anna.
- Não – respondo, pensando se aquilo era verdade. – Mas ainda não sinto estabilidade.
- Foi o que pensei... – ela recua, novamente me avaliando. – O soro dentro de você é mais forte do que Yeager previu.
- Acha que as simulações são possíveis? – pergunto, tensa.
- Bom, suas reações num campo de batalha eram bem intensas... e você nunca teve um pavio longo – Anna pondera. – Mas eu não afirmaria que as simulações são inevitáveis.
Quando puxo o ar com força e encolho os ombros, Anna toca meu braço.
- São apenas simulações, querida – tranquiliza. – Você não é um monstro.
Meus pesadelos diziam o contrário. Porém, solto os ombros e tento sorrir, concordando. Anna aperta os lábios, ponderando.
- Sabe que existe a possibilidade de Ethan rejeitar o soro, não sabe?
Rolo meus olhos para ela. Sim, eu sei. E isso me deixa apavorada só de pensar. Os vídeos nos arquivos de Yeager mostravam pessoas se contorcendo em ângulos estranhos e sangue escorrendo por seus olhos e narizes... só de imaginar aquilo acontecendo com Ethan sinto um arrepio passar por minha espinha.
- É o Ethan, Anna – eu digo, quase que para mim mesma. –É mais forte do que eu, mesmo quando era apenas um humano.
Anna assente, sorrindo. Ela me indica para ir para o refeitório logo em seguida, e nós caminhamos até lá.
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A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}
Science FictionNova York, 2190. Em um futuro distante, as consequências dos avanços incontroláveis da tecnologia são irreversíveis. Após uma terrível guerra entre os humanos e os robôs, a população humana está quase extinta. Os que restaram, vivem em refúgios há s...