Capítulo 6 - Ethan

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A imagem de Marcel sendo baleado assombrou meu sono a noite inteira.

Eu ainda consigo ouvir os tiros. E me lembro muito bem daquele dia.

Estávamos animados pelo fato ser uma semana farta na colheita do Refúgio. Nossa missão era fazer um perímetro em volta do Refúgio 17. O Esquadrão 18 nos acompanhava. Kevin, o líder de nossos parceiros, disse que seria mais rápido se nos separássemos. E Max concordou.

Marcel estava na frente de nosso grupo, pois era o melhor com pontaria. Não fazíamos ideia de que havia escoltas robôs por perto. Ele levou três tiros no peito.

Me lembro de Jason e Lílian arrastando o corpo de Marcel pela poeira. Me lembro do Esquadrão 18 retornando e tentando nos defender. Me lembro de Sofia tentando desesperadamente socorrer Marcel, mas todos sabíamos que ele não sobreviveria. E ainda sinto a dor no ombro, causada por um tiro de raspão que levei para ajudar Lílian.

Ainda consigo ouvir o som de um piano ecoando, no dia da Homenagem de Marcel. Me lembro de estar em cima do palco, com as mãos atrás do corpo, ao lado de Sofia e Max, enquanto Joe tentava dizer que Marcel não havia morrido em vão. E consigo me recordar de fazer o cumprimento da resistência: O punho fechado sobre o ombro. Era nossa forma de dizer que ainda estamos juntos, e que iríamos honrar o nome do companheiro perdido. Mas todos nós sabíamos: Marcel, assim como muitos outros, não iria ser vingado tão cedo.

Esfrego o rosto enquanto me levanto da cama para o segundo dia de treinamento. Reviro os olhos ao ver Jason com a boca aberta roncando, o antebraço com o protetor por cima dos olhos.

Bato várias vezes em sua bochecha, da mesma forma que ele fez comigo.

- Acorde, acorde, acorde, acorde.

Ele responde com grunhido, mas volta a dormir. Max não está no quarto, o que me faz pensar que ele já deve estar no refeitório. Troco de roupa, colocando meu cordão, e sigo para a ala de treinamento. Ao chegar, observo Sam recolocar as facas no lugar e sorrio para ela enquanto se senta no chão, girando uma faca minúscula nos dedos.

Ela responde com um aceno.

- Vai fazer outra demonstração de como é melhor do que eu hoje? - pergunta.

Dou de ombros, sorrindo. Sigo até o Paredão de armas e pego cinco adagas. Me aproximo do alvo mais próximo de Sam e lanço a primeira faca. Sam encara o alvo e sorri ao ver a lâmina fincada no centro. Ela me olha e arregala os olhos, sacudindo as mãos ironicamente. Soltando um suspiro, a garota demonstra o que quer que eu faça, tampando os olhos.

Reviro os olhos e viro em sua direção, tampando os olhos com a mão direita e respirando fundo. Puxo três facas e as atiro.

Retiro a mão de meu rosto e percebo que Sam continua encarando o alvo com a expressão normal, o que me faz pensar que não acertei o alvo.

Mas quando me viro, vejo as três facas no meio e encaro Sam.

- Nenhum reconhecimento? – pergunto.

A garota dá de ombros, indiferente. Arqueio a sobrancelha e lanço a outra faca, mas dessa vez de costas para o alvo.

Para minha surpresa, a faca atingiu o ponto exato do alvo, a alguns centímetros das outras. Sam se levanta e cruza os braços enquanto gira a pequena faca na mão direita, me lançando um sorriso sarcástico.

- Nem você acertaria de tão longe - retruco bufando e seguindo em direção até o alvo para retirar as adagas.

Escuto Sam gargalhando.

- Eu acertaria você em movimento.

Aceno preguiçoso com a mão esquerda enquanto pego a última faca.

A Rebelião {1°Vol. Da trilogia A Rebelião}Onde histórias criam vida. Descubra agora