Capítulo 39

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Alicia

Eu não posso acreditar no que o Lucas fez, o Felipe é meu amigo, e ninguém, —muito menos o Lucas—vai conseguir mudar isso.

Depois da aula, volto pra casa junto com Felipe e vejo que minha mãe está em casa, sentada no sofá, provavelmente me esperando, pra quê eu não sei.

  — Oi filha.—ela diz olhando pra mim e, logo em seguida, sorrindo.

  — Oi mãe, tirou folga do trabalho hoje?—Pergunto, enquanto jogo a minha mochila em cima do sofá, e me sento do lado dela.

  — Sim, na verdade eu queria falar com você sobre algumas coisas, ok? — Ela pergunta, se virando pra mim.

  — Tá, claro.

  — Você conversa com seu pai, o biológico, ainda né?

  — Sim, todos os dias, por quê?

  — Bom, eu e ele andamos conversando sobre a proposta de você viver com ele em Vancouver, e achamos que seria melhor pra você que realmente passasse um ano lá. — Eu arregalo os olhos assim que ela me diz isso e abro a boca pra falar, mas ela faz um sinal com a mão pedindo que eu esperasse—Ele viria aqui te buscar, pra você não ir no avião sozinha, já que eu não posso ir junto com você por causa do meu trabalho, e eu realmente gostei da ideia. Filha, você tá demorando demais pra nos dar uma resposta, acredita que seu pai já até decorou um quarto pra você na casa dele? E isso vai ser maravilhoso, você sempre quis viajar pra algum país e agora é sua chance. Eu já percebi que você anda meio triste pelos cantos, e eu não gosto de ver minha filhinha triste por aí, então o que você acha?

Sim, eu sempre quis estudar em algum outro país e sim, eu andava meio triste, mesmo que eu fizesse de tudo pra disfarçar isso. E eu realmente estava demorando muito tempo pra dar uma resposta pros meus pais, e seria mesmo muito legal que eu fosse pra outro país, mas tudo isso me pegou muito de surpresa. Eu pensava que se eu apenas ignorasse isso, alguma coisa do nada faria que eu não precisasse fazer essa escolha.

Eu gostava do Brasil, eu realmente gostava. Mas, era para o Canadá que eu tinha a oportunidade de ir. E ainda tinha a oportunidade de ficar com meu pai.

 — Eu posso te dar a resposta amanhã, mãe?— Pergunto. 

  — Claro que pode, meu amor.— eu já estava me levantando pra sair, mas minha mãe pegou no meu braço—Alicia, eu realmente vou sentir saudades de você, mas ser mãe é colocar a felicidade da filha antes da sua. E eu realmente acho que seria muito bom pra você passar esse ano fora com seu pai. Eu te amo.—Dito isso, ela me puxou para um abraço.

  — Eu também te amo, mãe. Muito.

(...)

Eu já estava decidida da minha resposta, já sabia o que iria fazer. Afinal, eu passei praticamente a noite inteira em claro pensando no que eu faria e finalmente obtive a resposta.

Já estava na escola, faltava alguns minutos para o intervalo e estávamos de aula vaga. 

Eu estava sentada na arquibancada, sozinha, quando alguém senta do meu lado.

Era Felipe.

  — Por que está tão quieta hoje, Alicia?—ele perguntou olhando pra mim.

  — Eu tenho que te contar uma coisa, Felipe.

  — Pode falar.

Contei tudo pra ele, desde o começo. Desde a traição do meu "pai", quando soube do meu pai biológico, quando me apaixonei por Arthur e ele foi para o Canadá, contei da proposta que minha mãe e meu pai biológico para eu ir estudar no Canadá e morar junto com ele. 

Contei absolutamente tudo, coisas que eu nunca tinha falado pra ninguém, eu falei agora pra ele. E eu realmente estava precisando desabafar com alguém, e acho que não teria ninguém melhor que Felipe pra isso.

Contei tudo, menos a minha decisão. Eu contarei para todo mundo só depois de falar com minha mãe.

  — Bom, Alicia. O que eu acho que você poderia fazer é seguir seu coração. O que você acha que é melhor fazer? Afinal, a vida é sua. Não vou dizer que não ficarei triste se você partir, pois estaria mentindo. Mas ficaria feliz se você estivesse fazendo isso por você, e ficaria feliz se você estivesse feliz. E é só um ano, um ano passa muito rápido. Se você for, logo logo estaria aqui de novo. Mas, se você ficar, pode ser feliz também. Nunca sabemos quando algo de novo que te fará bem, acontecerá.

Refleti as palavras de Felipe por uns segundos e realmente concordo. Nós não sabemos quando algo bom ou ruim acontecerá com a gente. Tanto se eu ficar ou ir, poderia acontecer alguma coisa boa. 

Abracei meu amigo por algum tempo. E percebi que Lucas parou o que estava fazendo só pra nos encarar com raiva. Por um momento tive momento de rir de sua cara.

(...)

Depois de me despedir de Felipe, que me deixou em casa como sempre, me deparei com minha mãe sentada no sofá do mesmo jeito que ontem.

  — Oi filha.— ela disse sorrindo, provavelmente deve estar ansiosa pela minha resposta.

  — Oi mãe.—disse enquanto jogava minha bolsa no sofá e me sentava do seu lado.

  — Então, o que você decidiu? Desculpa, mas eu realmente estou muito curiosa com sua resposta.—  foi dela que eu puxei ser tão curiosa. Se bem que meu pai — pelo que eu percebi—também é muito curioso, mas minha mãe com certeza ganha nesse quesito.

Puxei o ar e disse:

  — Eu aceito ir pro Canadá.

***

Depois de cinco anos e meio, onze horas e alguns minutos, temos um capitulo.

Depois de analisar bem todas as possibilidades de coisas pra acontecer, temos um capitulo.

Depois de muitos xingamentos no grupo do whatsapp (a maioria por parte da mandy), temos um capitulo.

Depois de passar uma hora escrevendo, temos um capitulo.

Depois de um ano escrevendo um livro, depois de um ano conversando com gente que gosta do livro, finalmente chegamos ao penúltimo capitulo.





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