A Novata
Sexta-feira é um dos dias mais agitados no departamento, cheguei às 7h da manhã para terminar o relatório do caso dos Hamilton, mesmo trabalhando até tarde no dia anterior ainda faltava algumas folhas de relatório para finalizar e revisar, e por fim a intimação para dar voz de prisão ao acusado que também era marido da vítima. Olhei para a pilha de folhas e pastas a minha frente e me recusei mexer naquele caso logo cedo, se eu tivesse que ler mais uma linha do nome Hamilton eu enlouqueceria, decidi analisar as fotos do meu caso mais recente, pedi a Gonzáles que analisasse os vídeos de segurança que conseguiu e Enzi havia ido falar com a legista para ver se ela estava perto de conseguir alguma pista do motivo da morte. Olhava a foto do rosto da vítima e as escoriações em seu pescoço, quando fui surpreendida pela voz de alguém ao meu lado.
_ Nossa essa moça teve uma morte bem ruim!- Disse a mulher ao meu lado.
Tomei um susto com a voz tão perto e ao me recuperar percebi quem poderia ser. A mulher tinha olhos castanhos escuros e tinha o cabelo negro amarrado em um rabo de cavalo, calça jeans justa e botas de cano longo, uma blusa polo branca, na cintura tinha um cinto que servia de apoio ao distintivo, sua pistola estava em um suporte na perna direita. Não tinha dúvidas essa fedelha era minha nova parceira. Enquanto eu a analisava ela continuou a falar.
_Nossa você é bem séria não é? Bom, de qualquer forma estou muito feliz de ser você a minha parceira, me chamo Lisa Macclain O'brien e então quando começamos?
Fechei os olhos e passei a mão no rosto, tudo que eu precisava era trabalhar com uma pessoa sem noção nenhuma, eu tinha que fazer ela desistir de ser minha parceira definitivamente, já era bem difícil lidar com alguém experiente, Joshua era mais do que experiente quando morreu em campo, a lembrança do meu amigo sendo baleado era ainda vívida em minha memória e aquela garota era parecida demais comigo quando entrei para homicídios, tudo nela era empolgação e orgulho, eu não queria ser responsável por um novato, eu não era a pessoa certa para ajudá-la.
_ O que foi? Precisa de alguma coisa? Você está pálida!- Disse Lisa agitada.
_ Não obrigada, enfim como disse que se chamava mesmo? - Falei de uma forma desinteressada.
_ Lisa Mc..
_ Entendi, sente-se ou prefere passar seu primeiro dia em pé?- A cortei em um tom ríspido.
Lisa se sentou e seu semblante agora era desanimado, aquela reação não era o que eu esperava, mas quem sabe assim ela não pediria para trocar com alguém não é?
Continuei tentando prestar atenção nas fotos e isso despertou o interesse da mulher a minha frente, Lisa tentava olhar as fotos de relance para que eu não percebesse, aquilo me faria rir se eu não estivesse tão decidida em trocar de parceiro ou melhor, não ter nenhum. Mas Lisa pelo visto não era do tipo que aguentava ficar quieta por muito tempo então logo se manifestou.
_ Então, como devo te chamar? Chefe? Senhora Valdez? Rubí?
Levantei o olhar para encará-la e ela estava visivelmente incomodada com meu silêncio, fechei a pasta com as fotos e cruzei os dedos em cima.
_ Bom pelo visto você quer conversar, vamos aos seguintes pontos, primeiro: não gosto de gente que fala mais que o necessário; Segundo: não sou babá de ninguém então espero que esteja pronta para se livrar de suas próprias enrascadas. Terceiro: eu mando você obedece, entendeu tudo?
A mulher de traços marcantes parecia considerar o que eu havia acabado de dizer e depois de respirar fundo concordou com um simples "sim senhora". Revirei os olhos e tentei amenizar as coisas, afinal ela também não precisava me odiar.
_ Já que vou ter que trabalhar com você, me chama de Rubí está bem?- Disse voltando atenção para meu celular que não tinha nada demais, porém serviu para não ter que encará-la sorrindo.
Por volta de 12:00h recebi a intimação para prender o culpado do caso Hamilton, como Richard Hamilton poderia reagir de uma forma agressiva pedi que a dupla dinâmica Gonzáles e Enzi fossem comigo e Lisa. Chegamos à casa do acusado sem sirenes para não ter tentativa de fuga e não assustar os vizinhos.
_ Lisa espere aqui, por enquanto você só observa ok? - Falei para a mulher ao meu lado e que surpreendentemente acenou positivamente.
Sai do carro com o mandato em mãos sendo seguida pelos os outros dois rapazes que preferiram ficar com armas em punhos.
_ Senhor Richard? Senhor Richard abra aqui é a detetive Rubí do departamento de polícia de Mewtown City! Se o senhor se recusar a abrir teremos que invadir!
Dei um tempo para tentar ouvir alguma coisa na casa, mas o que eu ouvi foi bem diferente de simples passos ou qualquer som comum, vi de relance alguém correndo ao lado da casa e a voz de Lisa pedindo para que alguém parasse, eu e os dois detetives nos entreolhamos e corremos para os fundos, nos deparamos com Lisa subindo agilmente um muro e pela altura preferimos pegar os carros e dar a volta, pois a casa ficava em um conjunto de casas onde os fundos sempre davam para o quintal de um vizinho, viramos na esquina e presenciamos Lisa pulando em cima de um homem como se fosse um jogador de futebol americano, seria cômico se não estivéssemos tão surpresos.
Descemos dos carros a tempo de ver Lisa imobilizando o homem e constatei que era o acusado vestindo apenas roupão e samba canção. Enzi tomou a frente para segurar o homem que tentava se soltar e eu me apressei a dizer seus direitos.
_ Senhor Richard Hamilton, está preso pelo assassinato de Margaret Hamilton, você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você no tribunal. - Disse tudo mecanicamente enquanto Enzi algemava o homem e o levantava com um puxão que fez o homem parecer um garoto, Gonzáles ainda parabenizava a novata, nos encaminhamos para o carro e o trancamos lá dentro e só então respirei fundo.
_ Garota que bela corrida hein e nem vou falar do bloqueio no indivíduo, foi bem em cheio. -Disse Enzi fazendo gesto de colisão com as duas mãos e sorrindo.
_ Pois é Enzi eu só vi um vulto branco correndo e do nada bam! O cara estava no chão! Muito bom!- Disse Gonzáles empolgado.
Sorri com a empolgação dos rapazes e tive que admitir que a novata mandou bem, mas preferi guardar pra mim essa informação então só me direcionei para a parte do motorista e buzinei para que parassem de papo e pudéssemos ir para o DPMC.
A vigem até o departamento foi rápida, Lisa só encarou a janela o tempo todo e eu não quis puxar assunto. Entregamos o culpado para ser registrado e preso e subimos para o andar da homicídios que graças à dupla dinâmica já sabiam do feito de Lisa o que gerou uma salva de palmas para ela, a mesma ficou vermelha na mesma hora, me esgueirei para sala do meu chefe para tentar mais uma vez a troca de parceiros, entrei ao ouvir a permissão dele.
_ Boa tarde chefe. - Disse ao entrar.
_ Olá Valdez, fiquei sabendo da atuação de sua nova parceira, que bom que estão se dando bem. Vi que terá que frequentar a terapia e espero que você compareça a todas as sessões. Enfim o que deseja?
_ Bom, queria falar justamente sobre a novata... Como percebeu ela é esperta, talvez se o senhor a colocar com outra pessoa ela possa, não sei, evoluir mais rápido... Sinto que não sou a pessoa certa para isso senhor.- Disse tudo em alguns gaguejos e suspiros e aguardei a resposta.
_ Valdez pelo que vi ela é altamente apta para o serviço e não vejo porquê de não ser você a referência dela. Está com medo que ela tome seu lugar?- disse ele sorrindo com deboche.
_Não senhor e se isso acontecer eu não me importaria eu só...
_ Valdez se não há razão cabível para que eu a troque de parceiro então espero não vê-la tão cedo nesse escritório a não ser para entregar seu relatório que está atrasado, agora se não me engano você tem um novo caso para resolver!- Disse ele sem paciência.
Vi minhas únicas esperanças irem pelo ralo, ou ela mesma pedia transferência ou eu teria que me acostumar a uma nova "amiga".
**** Temos um instagram dedicado aos meus livros sigam lá @isis.s.m e vamos bater um papo!!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Detetive
Roman d'amourSe me perguntassem qual era meu sonho quando eu tinha 12 anos eu diria que seria ser psicóloga como meu pai, porém aos 13 anos eu desisti de entender as pessoas, quando meu pai morreu na minha frente em um assalto esse sonho mudou. A partir de então...