Capítulo 81

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As horas continuaram intermináveis na sala de espera naquele dia. Enquanto Alfonso estava quieto, vendo sua vida inteira passar diante de seus olhos, sentado sob o sofá, Dulce e Maite andavam de um canto a outro, inquietas. A demora só fazia Alfonso sofrer ainda mais, com pensamentos impróprios, com suspeitas dolorosas e com a angustia da espera.

Era quase meio dia quando o médico voltou a sala de espera. Alfonso imediatamente correu até ele, sem dizer nada, sem perguntar nada.

- Acabamos com a cirurgia agora. –começou- Sua filha nasceu Alfonso, está bem, é saudável, e foi levada para o berçário. –disse com um sorriso de canto- Ela está na incubadora, mas sairá em breve. Apenas porque está um pouco abaixo do peso.

Alfonso suspirou longamente aliviado, sentindo uma lágrima fina escorrer de seus olhos. Deus, ele nunca havia chorado tanto em toda a sua vida. Parecia que um elefante saíra de suas costas. Mas não durou muito tempo. Logo algo riscou sua mente, e ele se alarmou outra vez.

Alfonso: E Anahí? –perguntou com medo- Como ela está?

- Ela teve outra convulsão durante a cirurgia. –disse com um pesar que Alfonso tentou ignorar- Para salvá-la, eu tive que a colocar em um coma induzido.

Coma induzido.

Coma.

Coma.

A palavra parecia ecoar dentro da cabeça de Alfonso. Anahí estava em coma, outra vez.

O que se ouviu depois foi um choro alto de Dulce, que foi abraçada por Maite. Alfonso permaneceu paralisado em frente ao médico, como se seu corpo flutuasse sob o chão.

- Se acalmem. –pediu o médico- Nós iremos diminuir os medicamentos, para que ela volte à consciência.

O ar parecia voltar aos poucos agora para os pulmões de Alfonso. Havia uma esperança, pequena que fosse, mas havia.

Maite: Ela vai acordar? Ela está bem? –perguntou apressada, abraçada a Dulce-

- Vamos examiná-la melhor quando acordar, mas ela não mostra nenhuma alteração. Ela está bem e deve acordar no final da tarde. –respondeu- E ficará um tempo em observação.

Alfonso: A minha filha, eu quero ver a minha filha. –se pronunciou-

O médico assentiu e Alfonso o seguiu até a maternidade. Dulce e Maite os acompanharam.

Na entrada do berçário, Alfonso se preparou com as roupas hospitalares, assim com as outras duas. Ele entrou primeiro, se cercando de bebês, mas olhando mais a frente, numa incubadora, um pequeno bolinho cor de rosa dormia.

Ele se aproximou e era ela, tão linda como ele imaginou. Era Mariah.

Era o bebê mais lindo que ele já havia visto na face da terra. A pele era avermelhada de tão branca, como Anahí. Os cabelos, pequenos fios finos, negros como os dele. Os olhos fechados, mas ele poderia jurar que eram azuis como os de Anahí. E ela seria o seu bem mais precioso, assim como Louisa, assim como Anahí. Ele seria o homem mais feliz do mundo por tê-las.

Após incontáveis minutos, Alfonso foi retirado do berçário, dando lugar a Dulce e logo depois Maite. Todas ansiosas para verem a menina, que nem mesmo havia percebido a presença delas lá, adormecida.

Alfonso: Doutor, eu preciso ver Anahí. –ele falou, encontrando o médico na saída da maternidade- Por favor.

- Ok, eu deixarei que você entre para vê-la. –respondeu- Mas será rápido.

Ele caminhou pelo corredor e Alfonso o acompanhou, animado. Ele sabia que tudo ficaria bem, como sempre sonhou. Havia esperança.

Quando Alfonso entrou no quarto onde Anahí estava, o baque foi pior do que ele imaginava. Ele se aproximou da cama, e Anahí estava pálida, inconsciente, sem vida... E era horrível vê-la daquele jeito. Ele lembrou-se de dez anos atrás, quando a viu em coma no hospital após o acidente. Já era a segunda vez que ela passava por aquilo, e ele não poderia suportar que durasse todo o tempo que durou a ultima vez. Ele não suportaria que durasse nem mais um segundo. Ela precisava ver a filha deles, o quanto ela é linda. Ela precisava voltar, voltar para ele.

- Nós já diminuímos os remédios, aos poucos ela vai voltando à consciência. –avisou, no lado contrario da cama de onde Anahí estava- Vou deixar você mais a vontade, mas não demore. –falou e logo em seguida saiu do quarto-

E lá estavam os dois, a sós. Alfonso a olhou por segundos em silencio, o coração apertado vendo-a daquele jeito. Lhe doía tanto.

Alfonso: Anahí, nossa filha é a coisa mais linda do mundo. –falou com a voz baixa, passando uma das mãos levemente por sua cabeça, enquanto a outra segurava sua mão- Ela é tão pequena, que parece mais uma boneca da Louisa do que um bebê de verdade. –falou num sorriso- Ela ainda não abriu os olhos, mas eu tenho certeza que são iguais aos seus. –ele pausou e o silêncio reinou outra vez. Anahí permaneceu do mesmo jeito, adormecida- Você precisa voltar, Anahí. –voltou a dizer- Ela precisa de você, eu preciso de você. –disse num suspiro, olhando fixamente para seu rosto, como se ela estivesse acordada prestando atenção- Eu não posso perder você de novo. –a voz embargou, segurando um choro que doía, apenas por imaginar não tê-la outra vez- Eu amo você, eu juro que eu amo você.

A lágrima não resistiu e escorreu de seus olhos. Ele se aproximou dela beijando sua testa demoradamente, sentindo o perfume dela ainda que fraco, exalar. Só Deus sabia o quanto ele sentia falta dela, do perfume dela, da vida deles juntos. Que apesar de haver muita coisa errada, apesar dela ainda não o aceitar, ele amava viver daquela forma.

Mais alguns minutos depois, Alfonso foi retirado do quarto. Mas ele não havia saído por completo, seu coração havia ficado lá, completamente. 

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora