Capítulo 37

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No dia seguinte, Alfonso chegou a empresa já esperando sua carta de demissão. Foi até seu setor, nos vestiários, mas nada. O trataram normalmente, e então, ele vestiu seu uniforme, e começou o roteiro para aquele dia. Viu Anahí chegar, passando normalmente pelo saguão, caminhando até o elevador. Os sapatos, como sempre, manchando o piso. E então, ele percebeu que tudo estava, estranhamente, bem.

Anahí estava... Perturbada. Mal havia conseguido dormir pensando no beijo do dia anterior. Ela não esperava por aquele beijo, mas havia sido desgraçadamente delicioso. Ela fechava os olhos e ainda podia sentir os lábios dele rudes se forçando contra os seus. A língua árdua e dura dentro de sua boca. Nem mesmo o trabalho conseguiu livrá-la de tais pensamentos.

- Anahí... –chamava uma voz na sua mente- Anahí. –insistiu- ANAHÍ!

E então, ela se assustou. Não era sua mente, era Dulce Maria.

Dulce: O que há com você? –perguntou em frente a sua mesa- Eu estou lhe chamando há horas, você nem mesmo escuta.

Anahí: Nada, não há nada. –suspirou, voltando sua atenção a Dulce-

No final das contas, o trabalho se fez eficiente, e Anahí conseguiu concentrar-se. Houveram varias reuniões naquele dia, obrigando-a a esquecer qualquer outra coisa que não seja relacionado a empresa.

Com Alfonso, as coisas não eram tão diferentes. Alias, eram sim. Com ele era ainda pior. Quando chegou em casa, após beijá-la asperamente naquele dia, ainda sentia seu corpo inteiro como se estivesse pegando fogo. Era raiva e desejo se misturando numa mesma veia. O gosto dela agora mais recente do que o beijo anterior, tirou qualquer pensamento de sua cabeça que não fosse ela. Era pior que uma droga, era pior do que qualquer outra coisa viciante que pudesse existir.

Agora, que ele estava na empresa novamente, num novo dia, agradecendo a Deus por milagrosamente não ter sido demitido por beijá-la daquela forma, ele sentia-se ainda mais temido. Ele não confiava mais em seus desejos, em seus atos, em seus instintos ou em até mesmo na sua racionalidade. Ele se lembrava do perfume dela a todo momento, ansiando por vê-la, quando ouvia o toc-toc de saltos contra o chão, ele temia ser ela, mas não a viu mais naquele dia. Até mesmo quando subiu até o ultimo andar para limpar sua sala, ela já havia ido. E então, ele se inebriou com seu cheiro, na mesma sala onde tomou seus lábios com tanta raiva.

Quando Alfonso chegou em casa, encontrou o conforto de sua mente: Louisa. Ele a amava, amava passar horas tentando tirar nem que seja um pequeno riso da menina. Ela o fazia se sentir melhor, lhe fazia esquecer tudo o que ele passava durante seu longo dia, o fazia esquecer as provocações e humilhações de Anahí, e quase, eu disse quase, o fazia esquecê-la por completo. Louisa era um bebê lindo, loira como o pai, e com os olhos azuis do mesmo. Alfonso adorava olhar os olhos da menina, lhe lembravam muito um par de olhos azuis que conheceu há alguns anos, tão inocentes quanto. E assim, ele nunca conseguia se livrar por completo de suas lembranças em relação a Anahí. Seja a de hoje ou a de dez anos atrás, ela sempre estava lá.

Ginnifer: Você pode, por favor, me devolver a minha filha? –falou, tentando pegar a menina pela quarta vez dos braços de Alfonso- Ela tem que dormir, Alfonso! –ralhou-

Alfonso: Tome. –ofereceu, esticando os braços, carregando a menina. Mas quando ele o fez, a menina abriu o berreiro, Alfonso a puxou de volta, e ela parou. Ele sorriu feito um idiota- É ela que não quer você.

Ginnifer: Como isso é possível? –perguntou indignada- Eu a gerei por nove meses em meu ventre. Fiquei gorda igual uma baleia, tive enjoos terríveis, eu... Eu... Eu. Comi. Areia. –rugiu entre os dentes, fazendo Alfonso gargalhar. Louisa o imitou- Como ela pode preferir você, a mim?

Alfonso: Aceite. –falou rindo- Josh, já aceitou. –eles olharam para o sofá ao lado, e Josh estava de cara fechada passando os canais da tv. Minutos antes ele tentara pegar a filha, mas aconteceu a mesma coisa-

Ginnifer: Certo. –disse cruzando os braços- Pois então, a faça dormir. –propôs- Eu tenho algo, que você não tem. –falou sugestiva, e Alfonso revirou os olhos-

Não deu outra. Horas depois, cansada de brincar com Alfonso, Louisa começou a passar as mãozinhas fechadas nos olhos, coçando-os, avisando que o sono se aproximava. Ela varria a sala com os olhos, e via os pais juntos em um sofá, há alguns passos. Alfonso a ninou, mas não foi o suficiente. Ela deu alguns gritinhos, chamando a atenção dos pais, ou até mesmo a da mãe, que era quem mais a interessava, mas eles a ignoraram. Rindo por dentro ao ver o esforço da filha em querer chamá-los. Mas logo, ela irritada, começou a chorar, e Alfonso não conseguiu a acalmar.

Ginnifer: Eu deveria fazer você dar o seu peito a ela. –brigou, se levantando e indo até eles. A menina imediatamente esticou os braços em direção a mãe- Vem minha pequena traidora.

E agarrada ao peito da mãe, logo ela adormeceu, sendo deixada em seu berço, pela mãe. Alfonso se despediu dos amigos, e foi apara seu apartamento. Agora sim, seu dia acabara.

Naquele dia, Anahí havia chegado mais cedo que o normal em sua casa. Sem muita capacidade para continuar se afundando em contratos, relatórios e reuniões, ela sentiu-se exausta. Quando chegou em casa, o silêncio estava lá, como sempre. Mas ela gostava. Era um sinal de que ela finalmente estava em casa. Ela encheu a banheira, e se permitiu ficar de molho por minutos sem fim. Horas depois, os empregados serviram o jantar a ela, que sentou na cabeceira da enorme mesa, e jantou, sozinha e com o mesmo silêncio do restante da casa. Quando ela terminou, os empregados retiraram a mesa, e só então se retiraram da casa. Eles não dormiam lá, mas estavam até após o jantar. Anahí foi até sua sala de estar, acomodando-se na poltrona, com uma taça de vinho nas mãos, olhando a ilha iluminada pela vidraça. O silêncio estava lá, enchendo seus ouvidos. E quando era assim, ela não permitia que as vozes de seus pensamentos soassem mais alto que o silêncio de sua casa. Ela simplesmente, se desligava. Pensava nos pais, pensava em tia Daphne, e só.

Bom, cada um tem sua maneira de recarregar suas próprias energias, não é mesmo?

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora