Capítulo 25

3.8K 222 156
                                    

Aquela noite foi longa para Alfonso, que ficou até tarde pesquisando na internet sobre Anahí. Buscou tudo o que podia para ter a certeza que Anahí Portilla, a famosa empresária milionária de Nova York, era a mesma que ele conheceu um dia. No final das contas, ele teve a certeza. Na internet contava tudo sobre ela, sobre a morte dos pais – criadores de seu império – e sua graduação em Cambridge, há cinco anos. Em tudo o que dizia a respeito dela, falava também sobre a tão requisitada advogada Dulce Maria, que serviu para que ele fechasse o quebra-cabeça. Apesar de não ter nenhuma foto sequer de Anahí na intenet, ele não tinha mais dúvidas.

E sobre o sofá de Ginnifer, Alfonso deitou com o coração cheio de esperanças. Esperança de que sua vida possa melhorar a partir da sua visita a Anahí. Esperança de uma noite melhor para suas costas, esperança de sua privacidade de volta, e de todo o resto.

Antes de o sono vir, Alfonso deixou-se lembrar de Anahí. Fazia tanto tempo que não a via, que sequer soube qualquer coisa sobre ela. A ultima vez a vira, ela estava no hospital, em coma. E antes do coma, ele lembrava muito bem do rosto dela encharcado após o ver na cama com Angelina. Antes disso, ela sempre foi a garota mais doce que ele já havia conhecido, ela era compreensiva, honesta e altruísta. Apesar de tudo o que ele fez, ela o amava, e jamais lhe negaria ajuda.

Na manhã seguinte, Alfonso saiu da casa da amiga junto com o sol, para pegar o metrô para atravessar do Brooklin a Manhattan. Ainda era muito cedo quando ele chegou em frente ao enorme prédio da Portilla American Telephone & Telegraph (PATT). Alfonso entrou, identificando-se como visita a Sra. Portilla, como todos lá chamavam. Quando entrou no elevador, ele se sentiu nervoso sem saber o que poderia encontrar quando chegasse ao topo do arranha-céu. Quando o som do elevador chegando ao seu destino lhe despertou de seus pensamentos, ele saiu no andar da sala de Anahí. No espaço de recepção, não havia ninguém na mesa onde deveria ter, a porta da sala estava fechada com uma placa de metal escrito Anahí Portilla – CEO. Na portaria do prédio haviam lhe informado que ela já havia chegado, mas agora, olhando para a mesa da recepção podia ver que ainda era cedo demais.

Respirando fundo, Alfonso bateu na porta da sala dela, três batidas, e ele girou a maçaneta.

Alfonso já tinha a imagem certa do que iria ver ao abrir aquela porta. Anahí, obviamente alguns anos mais velha, mas ainda com o mesmo rosto angelical, os óculos de grau no rosto, as roupas recatadas e os cabelos sem brilho e presos, e rindo ironicamente ele até pensou que ela pudesse ter mantido a franjinha. 

Mas definitivamente, não era essa a imagem que ele estava tendo.

Havia uma mulher, uma deslumbrante mulher, de costas para ele, e de frente para a enorme parede de vidro que havia atrás da mesa. A mulher tinha uma corpo bastante escultural, desenhado pela saia lápis preta que usava, e uma blusa branca de seda. Os cabelos caíam por suas costas em cachos brilhosos nas pontas. Ela tinha na mão esquerda alguns papéis, no qual os lia, enquanto a outra mão estava apoiada em sua cintura.

Alfonso pensou na possibilidade de estar na sala errada, e até voltou a olhar para a porta, e a placa com o nome dela lhe fez descartar essa possibilidade. Ele avançou um pouco e em cima da mesa, havia outra placa com as mesmas informações.

Anahí: Emma, traga o meu café. –falou ainda de costas- E quem sabe eu perdoo o seu atraso. Eu já estou aqui há horas.

A voz firme dela fez Alfonso tremer. E o silêncio continuou.

Alfonso: Eu não sou... Emma. –conseguiu dizer, segundos depois-

Anahí havia acordado cedo naquele dia, indo mais cedo do que de costume para a empresa, e para completar, sua secretária não havia acordado tão cedo como ela. Entrou em sua sala, e com a vista para sua tão querida Manhattan, ela analisava alguns papéis para a reunião de logo depois, quando as batidas na porta soaram, ela podia apostar que era Emma, entrando para se desculpar do seu horário daquele dia não ter sido igual ao dela.

Mas quando outra voz surgiu no lugar da de Emma, os olhos dela saíram do papel e foram para a paisagem bem a sua frente, mas completamente desfocados. Nem que vivesse mil anos, ela se esqueceria daquela voz. Um frio percorreu por toda a sua espinha trazendo lembranças que estavam enterradas dentro dela.

Quando Anahí se virou, segundos depois após ouvir a voz dele, ela encontrou Alfonso a sua frente, dez anos depois, lhe olhando tão surpreso que ela sentiu o estômago embrulhar.

Anahí: Desculpe? –perguntou após colocar os papéis sobre a mesa-

Alfonso ainda estava completamente deslumbrado com a mulher que estava bem a sua frente. Ela estava completamente diferente de dez anos atrás, mas olhando nos seus olhos, ele tinha certeza que era ela, era Anahí. 

Alfonso: Oh, Anahí. –respondeu- Sou eu, Alfo...

Anahí: Eu sei quem você é. –interrompeu- Quero saber o que você faz aqui.

A voz autoritária de Anahí calou Alfonso. Ele ficou a encarando, enquanto ela lhe mandava um olhar completamente frio.

Alfonso: Eu queria falar com você. –respondeu, agora mudando sua postura, de alguém confiante, para alguém receoso-

Anahí: Deixe-me sentar. –falou sentando em sua cadeira- Porque eu estou morrendo de curiosidade para saber o que você tem para falar comigo.

Irônica, era mais uma atribuição que Alfonso dava àquela Anahí.

Mas ainda encorajado, ele sentou-se a sua frente, mesmo não sendo convidado, e começou.

Alfonso: Nossa, eu pensei que nunca mais veria você. –falou num riso, abaixando a cabeça-

Anahí: Olha que coincidência, eu também. –disse num suspiro, encostando-se na cadeira- Vamos, eu não tenho o dia todo.

Alfonso: Anahí, -tentou- Eu vim formulando tudo o que tinha para te dizer desde quando vi ontem seu nome no jornal... –pausou, suspirando- Mas agora, nada o que eu tinha a dizer parece fazer sentido.

Anahí: Diga de uma vez, ou eu terei que mandar você sair. –falou revirando os olhos-

Apesar de realmente estar curiosa para saber o que ele quer tratar com ela, Anahí parecia se sentir sufocar com aquele encontro inesperado.

Alfonso: Me desculpe. –pediu- Bom, você deve se lembrar que eu não tinha ninguém além da minha mãe, e ela faleceu há alguns anos. –suspirou- As coisas vêm se complicando desde então. Eu estou em uma situação muito complicada, não consigo um emprego, e estou na casa de uma amiga, que está grávida e que precisa que eu pare de ser seu hospede... –ele a encarou e ela o olhava com as sobrancelhas enrugadas- Eu não queria estar aqui lhe contando tudo isso, mas é que eu realmente não sei mais o que fazer. Se você puder me ajudar, eu juro que pagarei tudo.

Anahí: Deixe-me ver se eu entendi. –falou com um sorriso irônico- Você quer dinheiro emprestado? Você aparece aqui, dez anos depois de ter feito o que fez comigo, para me pedir dinheiro? É isso?

Alfonso: Anahí, por favor. –a encarou- Eu realmente preciso da sua ajuda. Eu sei o quanto errei com você...

Anahí: Não. -o interrompeu outra vez- Você realmente não sabe.

Alfonso a olhou desanimado. Ele realmente havia se enganado. Anahí não era mais a mesma que conheceu um dia, e ao contrario do que imaginava, olhando agora em seus olhos, ele podia ver o quanto foi ingênuo ao acreditar que ela teria o perdoado.

Alfonso: Me desculpe por ter ocupado seu tempo. –disse se levantando-

Anahí permanecia calada, encostada em sua cadeira. A cabeça estava em um turbilhão de pensamentos.

Anahí: Alfonso... –o chamou, quando ele já estava quase na porta, o fazendo se virar para ela- Sinto muito, por sua mãe. Não por você.

Ele assentiu, voltando em direção a porta, quando a voz dela soou outra vez.

Anahí: Passe aqui amanhã, eu vou ver o que posso fazer por você. –ele ia se aproximar outra vez dela, com um sorriso lutando para aparecer em seu rosto, mas antes que ele desse um passo, ela voltou a dizer- É só isso. –falou, voltando sua concentração aos papéis em cima de sua mesa-

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora