Capítulo 55

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O final de semana seguiu, Alfonso tinha o perfume de Anahí entranhado em seus lençóis, em seu travesseiro, e em sua cama. O sabor de melancia, ainda que fosse leve devido ao vinho, ele ainda podia sentir dos lábios dela. A presença dela ainda parecia viva no seu pequeno apartamento, a voz dela, o simples caminhar pelo corredor, tudo lhe tirou o sono até a segunda-feira.

Segunda-feira que, na empresa, foi igual a todas as outras. No mesmo horário de sempre ela estava lá, aterrorizando a todos com o barulho do seu sapato contra o chão até o elevador no saguão da PATT. Ele a olhava admirado, mesmo sabendo que ela não lhe direcionaria o olhar, ela nunca direcionava. O chão estava lá, sujo para que ele limpasse, e ele o fez, assim que ela sumiu dentro do elevador.

Até o natal não houve nenhum tipo de comunicação entre Alfonso e Anahí. Ele tentou, varias vezes, quase todos os dias, mas não houve resposta dela, nem mesmo um cumprimento. A empresa estava uma correria devido ao natal que se aproximava.

Dulce: Eu já estou indo hoje a noite. Tem certeza que não quer ir comigo e evitar um natal sozinha em casa? –perguntou sentada em frente a ela em sua sala-

Anahí: Sim, tenho certeza que quero evitar um natal em Seattle. –respondeu, encostada em sua cadeira, a encarando- E, eu me dou bem com natais sozinha.

Dulce: Sua vida é um tédio. –falou revirando os olhos- E Theo? Não há mesmo chances de uma reconciliação?

Anahí: Não. Quando ele veio no feriado de Ação de Graças tive a certeza que não iriamos dar certo juntos, nunca. Ele quer uma família, passar feriados na casa da mãe, ter um time de futebol de filhos, e tudo isso. –disse num suspiro cansado- E não é o que eu quero para mim.

Dulce: E você quer o que? Passar o resto da vida assim? Sozinha?

Anahí: Eu não me importo. Eu sou sozinha, não me incomoda continuar assim.

No dia 23 de dezembro, era o ultimo dia de funcionamento da PATT do ano. Após isso, a empresa entrará em recesso, e irá voltar somente no dia 2 de janeiro. Ao contrario do que aquele dia podia ser, ele estava sendo calmo e tranquilo.

Alfonso: Eu nem acredito que teremos uma semana de recesso. –falou animado levando o garfo a boca. Era o horário do almoço e estavam no refeitório dos funcionários-

Emma: Todo ano é assim. Acostume-se com isso. –respondeu, concentrada em seu prato-

Alfonso: Acho que o espirito natalino toca o coração dela, nesta época do ano, não é? –falou com riso-

Emma: Acho difícil. –suspirou- Isso deve ser mais para beneficio próprio, do que um espirito natalino.

Alfonso: Por que? –perguntou confuso, deixando de olhar para a própria comida e olhando para ela-

Emma: A nossa chefinha não gosta muito de inverno. –respondeu- Se ela pudesse nem saía de casa nesse tempo. E como nessa época, o inverno é sempre pior, ela aproveita pra ficar em casa. –deu de ombros-

Alfonso: E como você sabe disso? –questionou, com as sobrancelhas ainda mais enrugadas. Aquilo não fazia o menor sentido-

Emma: Dulce me contou uma vez. Ela é mais acessível do que a senhora das trevas. –ela respondeu com um riso- Mas, você deveria saber disso, já que namoraram. –provocou com um sorriso-

Alfonso: Por isso mesmo. –suspirou, voltando a olhar para a comida. Ele mexia no prato distraído- Ela amava o inverno.

O restante do dia seguiu. Alfonso ficou pensativo depois da conversa com Emma no horário do almoço. Nada daquilo fazia sentido, aliás, fazia sim. Ela agora odiava o inverno, por culpa dele, por causa do acidente, por causa de tudo o que ele havia feito ela passar.

Quase no final do expediente, Alfonso estava no andar da garagem, limpando a pequena área de recepção do elevador, quando o mesmo apitou. Foi uma cena muito parecida com a do primeiro dia dele na empresa. Os sapatos dela fizeram eco no chão, e ele levantou o olhar devagar até seu rosto. Ela o ignorou, satisfeita por seu sapato estar manchando o chão que ele acabara de limpar. Anahí já estava saindo, estava quase na porta para entrar no estacionamento, vendo seu motorista em pé lhe esperando com a postura impecável. Mas antes disso...

Alfonso: Anahí. –a chamou, quando ela já estava na porta, e ela parou, esperando. Ele esperou ela lhe olhar de volta, mas ela não o fez- Feliz Natal. –desejou-

Obviamente ele esperou por uma resposta, mas não obteve. Ela apenas seguiu em frente, continuando seu caminho, cruzando a porta de vidro e indo em direção ao seu carro.

-

Na casa de Anahí, quase a meia noite de natal, Maite havia ligado para ela, desejando um feliz natal, e logo depois Dulce ligou também para se certificar de que ela não havia se matado. Anahí estava em casa, com sua taça de vinho na mão, olhando a cidade pela vidraça. Nevava em Nova York, e ela gostava de ver dali de seu casulo. Ela sentia-se segura, forte, e inatingível. Dali de cima, ninguém poderia lhe fazer mal, ninguém. Todos faziam pedidos naquele dia, e ela queria fazer o seu. Tudo o que ela queria era que aquele inverno acabasse logo.

O natal de Alfonso foi parecido com o dia de Ação de Graças. Teve ceia na casa de Ginnifer, teve vinho, presentes, e uma Louisa animada usando um vestido vermelho e meia-calça preta dando os primeiros passos.

Quando a ceia de natal acabou, Alfonso foi para casa. Ele não conseguira parar de pensar em Anahí. No que Emma havia lhe contado e de todo o resto. Já haviam se passado dez anos, e ela não havia lhe perdoado. Será que um dia ela conseguiria lhe perdoar? Será que um dia ela irá passar por ele e não o ignorar? Será que ela um dia lhe responderá o desejo de feliz natal? Um cumprimento sequer?

Eram muitas perguntas para um futuro incerto.

No dia seguinte, era manhã de natal quando Anahí acordou, sozinha em sua cama. A casa estava silenciosa e vazia sem funcionários. Ela foi para a cozinha e preparou seu café da manhã. Após comer, a campainha tocou. Ela atendeu e não havia ninguém, apenas um pequeno vaso sobre o tapete da porta. Ela o carregou e eram flores de inverno, ela conhecia muito bem. Não havia cartão, e ela olhava as flores com um olhar impassível. Ela só havia dito que gostava de flores de inverno a uma única pessoa. E isso foi há muito tempo. 

-


Alfonso: Você deixou na porta? –perguntou ao porteiro-

- Sim. –disse com um suspiro- Espero não me complicar com isso.

Alfonso: Claro que não. É natal. Quem não gostaria de receber flores numa manhã de natal? -falou animado- Muito obrigado. –ele esticou a  mão, cumprimentando o homem- Feliz natal. –desejou sorridente, deixando o prédio em seguida-

Alfonso pegou seu caminho de volta ao Brooklyn. Estava um tempo congelante, nevava e saía fumaça de sua boca. Ele estava completamente cheio de roupas, mas mesmo assim, ele foi até Manhattan. Ele queria fazer isso. Ele não sabia se um dia ela iria perdoá-lo, não sabia se um dia ela conversaria com ele por mais de meia hora sem tentar humilhá-lo, ele não sabia, não tinha como saber... Mas o que ele sabia era que, o que ele pudesse fazer, para que isso acontecesse, ele faria.

Ele devia isso a ela.

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora