Alfonso saiu da sala de Anahí ainda mexido com o que encontrara. Do lado de fora, um par de olhos cor de mel lhe encaravam assustados.
Emma: Meu Deus, quem é você? –perguntou preocupada- Você tinha hora marcada com ela? Ela te atendeu?
Alfonso: Não, não tinha hora marcada. Mas já estou indo embora. –respondeu indo até o elevador-
Emma: Céus, ela vai me demitir. –choramingou sentando-se em sua cadeira- Ou melhor, ela vai me matar.
Alfonso: Se acalme, ela jamais faria isso. –tentou tranquiliza-la-
Emma: Acredite, ela faria. –suspirou- Você não a conhece, ela é a pessoa mais impassível que eu já conheci em toda a minha vida. –disse num sussurro-
Alfonso a encarava confuso, pareciam não falar da mesma pessoa. Ele podia jurar que toda a arrogância e frieza que ele acabara de ver em Anahí, era devido a tudo o que ele tinha feito a ela, e ele entendia, não se orgulhava nem um pouco de seu passado. Mas não, se enganara completamente. Ela era assim com todos, e o que parecia, era que ele ainda não vira nada do que ela agora, realmente era.
Quando Alfonso saiu da PATT naquela manhã, a cabeça parecia trabalhar a mil. Ainda completamente surpreso com a mudança de Anahí, ele não conseguia acreditar que a garota que havia conhecido um dia, não existia mais, que deu lugar a uma mulher - uma belíssima mulher, por sinal – fria, irônica e sarcástica. Mas não era essa mudança que o perturbava tanto assim, e sim o desapontamento que estava sentindo ao ver que a Anahí de dez anos atrás, existia apenas em suas lembranças.
Anahí estava sentada em sua cadeira, virada para a parede de vidro de sua sala, completamente desconectada. Pensando em como o destino lhe preparava isso. Depois de anos, de uma recuperação dolorosa, de perdas irrecuperáveis e lágrimas de perder a conta, lhe colocava frente a frente com o causador de tudo isso, depois de estar blindada contra qualquer encanto.
- ANAHÍ. –gritou se amparando em sua mesa-
Anahí despertou de seus pensamentos, virando-se em sua cadeira. Dulce a olhava impaciente.
Dulce: Resolveu voltar a realidade, bela adormecida? –perguntou debochada-
Anahí: Desculpe. –falou se ajeitando em sua mesa- O que você quer?
Dulce: Quero saber onde você estava.
Anahí: Eu não saí daqui, Dulce Maria.
Dulce: Reformulando. –suspirou, sentando-se a sua frente- Onde você estava com a cabeça que não me ouviu desde a hora que entrei?
Anahí olhou para o relógio na parede, era um pouco mais de dez da manhã.
Anahí: Estava... Pensando na visita que recebi hoje. –contou, encostando-se em sua cadeira-
Dulce: Tem a ver com o pânico que Emma está lá fora? –Anahí deu de ombros, mal falara com sua secretária ainda- Quem a visitou?
Anahí: Alfonso. –despejou- Alfonso Herrera. –ela não conseguiu controlar o riso em seus lábios ao ver a cara de assustada da outra, quase batendo involuntariamente na mesa-
Dulce: Não! –exclamou, quase num gritou, se recompondo- Alfonso? O babaca?
Anahí: O próprio.
Dulce: E o que ele queria? Anahí... –a repreendeu ao ver a amiga sorrindo- Você não...
Anahí: Não, Dulce. Não. –interrompeu- Ele está com problemas financeiros. –riu debochadamente- E veio, humildemente me pedir ajuda. –falou, falsamente comovida. Dulce a olhava como se fosse uma criança vendo seu desenho favorito, completamente excitada-
Dulce: Oh, meu Deus. –expressou- Que filho da puta. –xingou, fazendo Anahí rir- E o que você fez? Me diga que o levou até a porta e deu um chute no seu traseiro.
Anahí: Não. –respondeu- O mandei voltar amanhã, para que eu possa ajudá-lo.
Dulce: Anahí. –gemeu- Coração mole? Jura?
Anahí: Não me subestime, minha cara. –sorriu-
Dulce: Oh, eu tenho uma ideia maravilhosa. Você pode fazer um remake de Efeito Borboleta e obrigar ele a se casar com você. –propôs empolgada. Anahí gargalhou-
Anahí: Não seja ridícula, Dulce Maria. –falou entre o riso- Não se preocupe, eu sei exatamente o que fazer. –o riso já era quase nulo, deixando apenas um sorriso em seus lábios, ela mexia numa caneta distraidamente apoiando seu braço sobre a mesa. O olhar parecia distante, mas estava completamente focado-
-
Já era noite no apartamento de Ginnifer quando a mesma chegou do trabalho. Após um banho, ela sentia-se exausta com todo o seu peso. Na sua cozinha havia um cheiro maravilho de comida italiana.
Ginnifer: Céus Alfonso, que cheiro incrível é esse? –perguntou aparecendo no balcão de sua cozinha americana, onde Alfonso estava concentrado no fogão- Sabe que a única coisa triste em você conseguir seu apartamento de volta, é que eu perderei meu cozinheiro.
Alfonso: Não seja interesseira Ginni. –brincou-
Ginnifer: Como você aprendeu a cozinhar assim tão bem? –perguntou com os olhos brilhando ao ver seu prato que ele acabava de montar a sua frente- Só de ver eu posso sentir que está delicioso. -falou, fazendo Alfonso rir-
Alfonso: Consequências de morar sozinho. –respondeu-
Muita coisa mudou na vida de Alfonso depois que sua mãe morreu. Quando ele viu sua mãe entre a vida e a morte em um hospital, com diversos problemas causados pela sua ativa vida trabalhadora, ele se sentiu extremamente culpado. A mãe havia morrido por um ataque cardíaco, mas isso não o impediu de ver que tudo isso havia sido porque ela trabalhava dia e noite para poder sustenta-lo, e Alfonso nunca havia se arrependido tanto na vida, quanto não ter dado valor a isso. Agora, completamente sozinho, ele faria qualquer coisa para ter a mãe de volta, o que era completamente impossível. E com isso veio sua maturidade. Ele ainda tinha sim defeitos, muitos deles, mas nem se comparava ao que foi um dia.
Ginnifer: E então? Você foi falar com a sua amiga, que estudou com você? –perguntou após a refeição. Ela lavava os pratos enquanto Alfonso os enxugava-
Alfonso: Sim. –respondeu num suspiro- Ela está tão diferente Ginni. Não é mais a mesma que eu conheci.
Ginnifer: Mas isso é normal, Alfonso. Já se passaram dez anos. Todo mundo muda, você mesmo mudou, pelo que me disse.
Alfonso: Sim, mas é diferente. Não sei se a mudança dela foi para algo bom. –ele olhava para os pratos mas sua mente só via a mulher que havia encontrado pela manhã, até seu perfume ele ainda conseguia sentir- Ela era um garota doce, gentil, amável... E hoje eu a encontrei fria. Se você visse o pânico que a secretária tem dela... A Anahí que eu conheci jamais deixaria alguém tão amedrontado daquele jeito. –comentou pensativo-
Ginnifer: Alfonso, aquilo é ambiente de trabalho. Talvez ela não seja assim na vida pessoal. Tente se manter confiante, ela vai te ajudar.
Não existia pessoa mais confiante e positiva quanto Ginnifer. E por isso Alfonso a adorava tanto, ela sempre lhe dava as palavras que ele precisava ouvir, mesmo sem saber. Ela o confortava, o aconselhava, como uma irmã que nunca teve.
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365 Dias de Inverno
FanfictionO inverno pode ser impiedoso quando quer. A chuva não cessa, e não ameniza em nada a dor que um inverno turbulento pode causar. Alfonso era o mundo de Anahí. Mas esse mundo acabou sendo levado pela chuva. Tudo se foi, tudo. A água levou o carinho...