Capítulo 31

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Para Alfonso, tudo ficou muito nublado. Ele ainda sentia o gosto dela em sua boca, o gosto do beijo, e isso o inebriava de uma forma incontrolável. Os lábios dela ainda cheiravam desgraçadamente como dez anos atrás. Ele ainda estava estagnado no corredor, a respiração demorava a voltar ao normal. Aquele beijo havia sido... Ele não sabia. Não conseguia achar palavras para descrever aquele beijo.

Ele lembrou-se de dez anos atrás, quando ele lhe deu o primeiro beijo. Ela era totalmente inexperiente e ela aos poucos foi se aperfeiçoando, e no final das contas, ele adorava beijá-la. Era um beijo doce, como de nenhuma outra, doce como ela era. E agora, havia sido um beijo completamente diferente, foi um beijo fugaz, assim como ela é agora. Agressivo, mas ainda sim, extremamente prazeroso.

Havia perdido completamente o controle. O perfume, o cheiro dos lábios dela lhe embriagaram completamente, e foi impossível resistir. Ele estava confuso, confuso demais. Não podia se deixar deslumbrar outra vez. Anahí era superior a ele, estava irrevogavelmente acima dele, e ele não podia se deixar mexer por isso outra vez. Ele não era mais isso, havia mudado, e não voltaria mais a ser.

Quando Anahí chegou em seu andar novamente, entrou em sua sala furiosa, batendo com força a porta. Ela tentava se acalmar, controlando a respiração, mas era o mesmo que dar murros em ponta de faca. O seu almoço estava lá sobre a mesa - que Emma milagrosamente havia conseguido -, mas não conseguia nem mesmo sentir vontade de comer. E não comeu. Horas depois, ela ainda estava com a mesma raiva, incontrolável, mas aparentemente mais calma. Voltou às suas atividades, ocupando a cabeça, e foi o melhor a se fazer.

Dulce apareceu por fim, horas depois, mas só o que conseguiu de Anahí foi o seu silencio. No meio da tarde, as duas entraram em reunião com alguns executivos.

Alfonso, ignorando o aviso de que havia sido demitido, continuou com seus afazeres. Estava completamente distraído, a cabeça em um turbilhão por causa de um beijo.

- Alfonso, estão chamando na sala de reuniões. –avisou sua superior- Algo a se limpar. Vá até lá. Seja discreto. –mandou e ele assentiu, seguindo para o elevador-

Quando Alfonso entrou na sala de reuniões, suspirou frustrado. Anahí estava na cabeceira da mesa, falando muito concentrada. O rosto sério, a testa meio franzida e a expressão completamente dura. Ele entrou tentando fazer o maior silencio que pôde. A porta ficava na lateral da mesa, e isso ajudou para que ele entrasse e não fosse percebido por ela. Porém, logo seus olhos se cruzaram com os de Dulce, que estava sentada ao lado de Anahí. Ela mandou um sorriso irônico, erguendo uma das sobrancelhas, e ele desviou o olhar, para logo achar uma pequena poça de café derramado no chão aos pés de Dulce. Ele avançou, para limpar, e Anahí continuava falando e todos estavam com os olhos sobre ela. Por um momento, prestando um pouco atenção no que ela falava, ele se lembrou dela há dez anos, falando sobre hipotenusas e catetos, tentando explicar a ele. Foi inevitável não sorrir com a lembrança.

Mas ele ficar invisível aos olhos dela não durou muito tempo. Ela o viu quando ele ainda estava abaixado limpando o chão próximo a cadeira Dulce. Anahí já havia acabado de falar, e agora era Dulce quem falava. Alfonso juntou os pedaços da xícara que havia caído e após isso, limpou o chão sujo. Ele sentia o olhar de Anahí queimar sua pele como um laser. Quando acabou, ele suspirou aliviado, sentia-se sufocado, saiu arrastando seu carrinho de volta para a saída da sala. Porém, antes que chegasse lá...

Anahí: Você não limpou tudo. –falou, e Alfonso tremeu com a voz dela. Todos lhe olharam, e ela, sem nem olhar para ele, escorregou o braço pela mesa ao seu lado, derrubando um copo com água que estava ali-

O barulho do vidro quebrando ao chão chamou a atenção de todos. Logo ela voltou a falar, mudando o foco da reunião novamente para ela e falando sobre o assunto de antes. Os olhares voltaram para ela. Alfonso a olhava chocado, paralisado em seu canto. Quando um homem começou a falar, ela o olhou e ele continuava parado, ela estalou os dedos sugestivamente, e ele despertou. Indo até ao lado dela, para limpar o copo quebrado.

Anahí desceu o olhar para dele, abaixado ao chão ao seu lado, e sorriu de canto. Ela sentia-se... Vingada, pelo beijo de mais cedo. Agora, mais calma, obviamente não o demitiria, ele devia dinheiro a ela, e ela não o deixaria ficar com ele, sem lhe pagar de volta. Obviamente, não por ela precisar do dinheiro que o emprestou, mas sim por todos os outros motivos que nós já conhecemos. Ela tinha o rosto apoiado na mão direita, que estava sobre o braço da cadeira que estava sentada. Ela ainda o observava, deliciada com a cena. O macacão dele estava com os primeiros botões abertos, mostrando um pouco do seu peito, assim como mais cedo, quando se beijaram. E ela não era hipócrita de dizer que não havia gostado, o filho da puta ainda beija maravilhosamente bem, mas isso não significava que ela havia caído ou que cairia ajoelhada aos pés dele, apaixonada. Longe disso. Ela gostava de apreciar coisas bonitas, e aquela cena era maravilhosa.

Quando Alfonso acabou de limpar o estrago que ela havia feito, saiu da sala, agora sem mais copos quebrados e chão sujo. A reunião acabou, todos saíram da sala, Anahí foi a ultima a sair, e antes que saísse, Alfonso voltou. Ela estava de pé, rumo a porta, ele parou a sua frente, quieto.

Alfonso: Anahí, por favor... –pausou para um suspiro. Ela o encarava com a mesma postura de sempre, impassível- Não me demita. Eu preciso muito do emprego, e tenho que pagar o empréstimo que você me fez. Me desculpe pelo que aconteceu.

O silencio dominou a sala, ela o olhava como se o analisasse. Que tolo.

Anahí: Ok, mas não volte a aparecer no meu caminho. –respondeu. Ele assentiu mas ela já saía pela porta, sumindo-

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora