Capítulo 80

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O caminho até o hospital foi desesperador. Após deixar Louisa com Margot que estava dormindo lá nos últimos dias devido ao estado de Anahí, Alfonso a levou para o hospital. O médico foi avisado durante o trajeto enquanto Alfonso dirigia nervoso, mudando a visão entre Anahí e a direção durante todo o caminho.

Alfonso estava correndo contra o tempo, tentando chegar no hospital o mais rápido possível. O coração estava apertado, o sangue parecia fugir de suas veias.

Quando ele chegou ao hospital, imediatamente alguns enfermeiros vieram, o ajudando a tirar Anahí do carro e a colocando em uma maca. Alfonso acompanhou ao lado dela, até chegarem no corredor da clinica. Ele segurava a mão dela quando sentiu ela soltar um suspiro, no meio de toda a movimentação da equipe médica.

Ele se alarmou, sentindo o sangue voltar a correr. Se aproximou dela, que olhou o teto confusa, as sobrancelhas franzidas, confusa, cheia de dor. E então, ela gritou.

Alfonso sentiu o chão fugir de seus pés novamente. Ela gritou outra vez, a testa suada, o rosto pálido, carregando algumas lágrimas que escorriam de seus olhos.

Alfonso: Anahí, por favor, como você está? –perguntou desesperado, mas ela não respondeu. Ela gemeu, quase gritando outra vez- Por favor, fique calma, dará tudo certo. –ele falou, os olhos marejados, sofrendo tanto quanto ela. A dor dele era quase tão física como a dela- Eu prometo, vai ficar tudo bem. –ele estava inclinado sob ela, segurando sua mão, caminhando junto com a maca pelo corredor-

Anahí: Alfonso... –grunhiu entre os dentes, ofegante, os olhos encharcados, apertando sua mão com a ultima força que lhe restava-

Alfonso: Não, não fale nada. –pediu, sem se importar com suas próprias lágrimas- Não chore, vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem... –ele sussurrava repetidas vezes no ouvido dela, querendo convencer não só a ela, mas a si mesmo também-

Anahí: Mariah. –a voz dela soou baixa, rouca, rasgada de dor. Alfonso a encarou confuso, e ela continuou- O nome dela, é Mariah. –completou-

Alfonso: Não pense nisso agora. Vamos conversar sobre isso ainda. –respondeu passando rapidamente a mão sob o rosto, limpando-o-

Anahí: Coloque o nome dela de Mariah, por favor. –ela disse outra vez, agora com um suspiro, fechando os olhos lentamente, sentindo-se zonza-

O médico dela apareceu, e ele levou Anahí para uma sala onde Alfonso não podia ter acesso. Ele ficou imobilizado no mesmo lugar, olhando pelo caminho em que a maca dela seguiu. Os olhos dele não a via mais, mas seu coração doía barbaramente pela falta dela.

Se arrastando, ele chegou até a sala de espera. Lá as lágrimas vieram novamente em seu rosto, a dor era quase insuportável. As mãos tremiam, e nem mesmo conseguiam fazer seu papel de limpar o seu rosto.

Era madrugada e a sala de espera estava vazia, o hospital estava parcialmente silencioso, e as horas custavam a passar.

Nos primeiros raios de sol, Alfonso ainda permanecia no mesmo lugar, no mesmo sofá e na mesma posição. Os olhos agora rasos e vermelhos, com a angustia da espera.

Ainda pela manhã, Dulce e Maite invadiram a sala de espera, afoitas como sempre, buscando por respostas que Alfonso não tinha.

Dulce: Nós fomos ao apartamento, e só estava Louisa com Margot. –contou- Ela nos contou e viemos correndo. Como ela está Alfonso? –perguntou. As duas em frente a ele, que estava sentado em um sofá estático-

Alfonso balançou a cabeça negativamente, varias vezes, calado por alguns segundos, antes de confirmar o que já dizia silenciosamente.

Alfonso: Eu não sei, eu não sei de nada. –disse com a voz carregada ainda de um choro preso, sentindo-se inútil, impotente. Ele olhava para um ponto fixo no chão, mais perdido do que qualquer um ali naquele hospital-

Maite: Como não sabe? -perguntou preocupada-

Alfonso: Ainda não saíram de lá de dentro desde a hora que a levaram. –respondeu com a voz quase como que automática-

Assim que a voz de Alfonso calou outra vez, houve um som da porta de entrada da sala sendo aberta. E o médico estava lá.

Alfonso se levantou imediatamente, ultrapassando Dulce e Maite e prontamente ficando de frente para ele.

Alfonso: Por favor, o que está acontecendo? Como elas estão? –falou desesperado, e o médico suspirou. Alfonso queria acreditar que aquilo havia sido um ato involuntário, mas seu coração gritava dizendo o contrario-

- Alfonso, as coisas não estão nada bem. –começou, e os ouvidos de Alfonso pareciam zunir- Quando nós a pegamos, Anahí estava quase inconsciente. Ela está muito fraca, e sua pressão estava muito alta, e estávamos tentando estabilizar. Vamos ter que fazer o parto, caso contrario, Anahí estará correndo sérios riscos de vida.

Alfonso: Mas não está cedo demais para a bebê nascer? –perguntou, sem saber como, com que forças, nem de que maneira-

- Não muito, ela acabou de completar oito meses, e creio que esse não será o maior dos problemas. –falou, suspirando no final da frase. Alfonso estava a sua frente, e logo atrás Dulce e Maite- Poderá haver complicações na hora do parto. Eu sei que é horrível isso que eu vou perguntar, acredite eu nunca me acostumarei a isso, mas... –ele deu uma longa respirada, para só então voltar a dizer- Eu farei o possível para salvá-las. Mas eu preciso que você me diga quem eu devo salvar, caso seja necessário priorizar o atendimento a uma delas.

Quando ganhamos o dom da vida, nós nascemos, crescemos e morremos. Nascer é a parte mais ignorada por nossas lembranças, mas logo então vem o crescimento, onde nos conhecemos, nos descobrimos e descobrimos o mundo. Mundo este que nos apresenta todas as emoções e sentimentos que sentimos ao longo da vida. Onde, definitivamente, nos faz viver. Já morrer, nunca é uma opção, não nas maiorias das vezes. Nós nunca pensamos na morte como algo bom. Nunca pensamos ou a planejamos quando deverá chegar, tampouco a desejamos.

Mas naquele exato segundo, daquele dia, daquela manhã, Alfonso desejaria não viver aquilo. Como ele seria capaz de escolher entre Anahí e sua filha? Como ele poderia pesar o amor que sentia por cada uma delas e simplesmente escolher? Ele não podia.

Ele nunca quis ser pai, nunca pensou sobre isso, e foi. Ele já era pai. Não só pelo fato de ter Louisa, mas ele já se sentia pai daquele bebê desde o dia em que descobrira sua existência. Ele havia nascido para ser pai daquela menina. Conhecer Anahí, ter feito o que fez no passado, se arrepender, se apaixonar por ela, tudo isso havia acontecido para que ele pudesse ser pai daquele bebê. E como agora ele poderia não optar por sua vida? E Anahí... Deus, isso sim ele nunca pensou que aconteceria. Ele nunca pensou que a amaria do jeito que amava. Ela era a mãe da sua filha, e ele a amava tanto... Tanto que ela nem imaginava. Haviam vivido tão pouco. Haviam perdido tanto. Tanto tempo, tantos momentos, tantas felicidades... Eles só haviam perdido, desde quando se conheceram. E agora, quando finalmente ganharam, quando finalmente caminhavam, ele teria que escolher? Não era justo.

Mas ninguém havia lhe dito que a vida era justa.

Alfonso: Anahí. –respondeu com a voz baixa, segundos depois de silencio. Ele abaixou o olhar e caminhou de volta ao sofá- Salve Anahí. –repetiu-

Fora seu coração que falara. Machucado, esmagado e sangrando, mas ainda sim, ele falara.

O médico se ausentou novamente e agora, num completo e pesado silencio, estavam os três na sala de espera. As horas se passavam e o silencio permanecia. Dulce e Maite estavam em um outro sofá, quietas, caladas, com as mãos unidas como se rezassem silenciosamente. Enquanto Alfonso, pensava e repensava todos os erros que já havia cometido na vida, que não eram poucos. Talvez naquele momento estivesse pagando por todos eles, por seus pecados irreparáveis, pelas dores que causou. Fora difícil o que fizera, e por mais doloroso e cruel que fosse, ele sabia que esse não havia sido mais um erro.

Como ele poderia viver num mundo sem Anahí, depois de amá-la?

365 Dias de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora