Capítulo 05

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POV Lewy
Uma semana antes.

   Estar sentando na cadeira desse bar, mais uma vez, me faz crer que eu realmente vou aceitar o que quer que Garry esteja armando para mim. Minhas opções saíram de poucas para absolutamente quase nada. Meus pés não param de balançar e minhas mãos suam à medida que o tempo passa e seu corpo não se faz presente. Já é a segunda vez que recuso uma dose de uísque. Se houver uma próxima, não vou pensar em nada a não ser colocada na boca.
   Meus olhos estão grudados na porta no segundo em que ouço a sino, presa a ela, fazer barulho. Seus passos vêm rápidos, mas com um quê de superioridade que me causa ânsia de vômito. Seu sorriso é escandalosamente satisfatório quando nossos olhares se cruzam. Perder uma batalha, da qual sei que estou, mas que não tenho a menor chance de vencer, me mostra, por diversos ângulos, que não sou nada, que não tenho a menor capacidade de conseguir as coisas.
   O silêncio, apenas entre nós — já que o bar, embora seja metade humano e sobrenatural — está bem agitado. Seus dedos indicam que deseja uma bebida e até que ela esteja à sua disposição, ele nem mesmo me olha. Sinto-me estranhamente desconfortável por ter uma conversa, que nāo sei qual será, com ele, num lugar desses. Meus olhos, pela primeira vez, desde que estou sentado nessa cadeira, vasculham o ambiente com atenção. Pego cada pequeno detalhe que não vi ao entrar desesperado pela porta principal.
   Mais afastado de todos, há dois caras — numa mesa com pouco luminosidade — aos beijos. À esquerda, um grupo de amigos riem e bebem algo que desconheço. No centro, um pouco à direita da porta, um enorme grupo de pessoas balançam seus corpos em sintonia ao som que emana da caixa de som. Meu conhecimento em relação à diversidade musical é escasso, uma vez que nāo consigo descobrir o que está tocando antes que Garry comece  a fazer o que mais sente prazer: jogar com as pessoas. Ou melhor, comigo.
   — Algo me disse que teríamos essa conversa aqui. — Concordo.
   — Articulou tudo tão bem que nem tive escolha. — Ele ri. — Estou cansado, Garry. De verdade. Estou farto disso tudo. Eu quero acabar. Só isso. — A primeira vez que estou sendo sincero, numa escala global, com ele.
   Não pareço o convencer, mas de fato, meu objetivo não é esse. Quero convencer a mim mesmo que o que vou fazer é o certo para todos, mesmo que as consequências sejam desastrosas.
   — Isso tudo pode acabar. Eu só preciso do seu “sim”. Sabe disso.
   — No que exatamente estou me metendo?
   — Achei que já tivesse aceitado.
   — Eu já aceitei. — Digo, quando percebo que irá se retirar. Chega disso tudo. — Mas por que precisa tanto de mim? O que eu tenho de diferente dos outros bruxos?
   — Tudo a seu tempo. Não acha que segredos são as melhores coisas da vida? — Discordo. — Bom, eu sim. E é por isso que consigo o que quero.
   A música sai de um ritmo muito agitado, para um lento. Alguns casais deixam a pista de dança e aqueles que estavam sentados, dançam lentamente. Garry estende a mão para mim. Estou aqui para qualquer coisa afinal, por isso levanto. Sua mão pousa em minhas costas, mas não passam daí. Nossos corpos estão próximos, mas pertos do que quero.
   — Só diga o que preciso fazer, por favor.
   — Sabe o que tem que fazer. — Sussurra. — Minha única função é dizer como.

POV Louis
   Estou no meio da floresta, em algum lugar do mundo. O vento passa por meus ouvidos e tenta, bruscamente, me dizer alguma coisa, mas minha capacidade de percepção e dedução está ofuscada pelo frio e fome que consomem meu corpo e meu estado de espírito. A chuva começa a cair de repente e ferozmente. Em segundos, minhas roupas estão encharcadas e estou prestes a ficar hipotérmico. O frio alastrasse em todas as direções, e as aves, que cantavam — mesmo na calada da noite — se foram; restando apenas a escuridão e a mim.
   Reflexos são captados por meus olhos. Alguém ou alguma coisa se move por detrás das árvores que me cercam. Meu corpo entra em estado de alerta e estou pronto para atacar, caso seja necessário. Embora esteja fraco, não vou deixar ninguém chegar perto suficiente a ponto de me causar algum mal. Semicerro os olhos por conta da chuva e, também, com o intuito de deixar a visão mais clara. Medo não é uma definição que se adeque à situação. Pânico, talvez, seja a palavra que descreva com perfeição como as coisas estão acontecendo dentro de mim.
   Mais um movimento; esse, porém, é mais lento e cauteloso. Parece estar me observando e verificando quais são meus pontos e posições mais vulneráveis. Não deve estar sendo tão difícil conseguir isso.
   — Quem está aí?! — Grito, mas a resposta que vem é um corpo veloz em minha direção.
   Só sinto a dor dilacerante corroer minha perna quando começo a correr. O sangue escorre facilmente, mas minha determinação em salvar-me é mais intensa e me dá forças para continuar em fuga. Tropeço algumas vezes antes de cair de uma vez. Minha testa bate a toda velocidade numa árvore e sinto a pele rasgando-se. A dor é contínua, porém, o medo domina-me mais uma vez, e, antes que o meu perseguidor se aproxime mais, estou na estrada. Corro tonto, mas não paro. Não posso parar.
   Meu refúgio, depois de minutos correndo, é atrás de uma cabana que não vi até pouco tempo. Aparentemente, não estou mais sendo seguido, mas consigo sentir-me seguro. Forço a porta dos fundos, entretanto, está travada. Corro para a janela mais próxima quando ouço pés pisando em galhos espalhados pelo chão. Os mesmos galhos que pisei para chegar aqui. Meu coração está acelerado.
   Soco o único vidro que me separa do refúgio da cabana. Os nós dos meus dedos estão sangrando. Espero, como sempre acontece, eles cicatrizarem, todavia, não acontece. Estou sangrado como um humano. O que está acontecendo comigo? Não tenho tempo para responder isso, por hora, preciso me esconder. Meu corpo passa pelo pequeno quadrado e minha pele machuca-se me diversos pontos e continua a sangrar.
   O ambiente está escuro. Meus olhos levam pouco mais de dois minutos para se adaptarem à escuridão. O lugar é arcaico. Paredes de pedra e portas de madeira — mas bem grossas e, visivelmente, pesadas —. Ao invés de lâmpadas, vejo, ao longe, um pequeno lustre. Não está funcionado e só o enxergo porque a luz da Lua bate sobre ele.
   Uma sombra espreitasse pela janela que passei. Não entra, mas é a minha deixa para ir em busca de um lugar mais seguro. Estou de cócoras atrás de uma estante empoeirada. A poeira entra pelo meu nariz e seguro a vontade espirrar.
   O vulto entra.
   Me procura, mesmo que eu tenha certeza que já sabe onde eu estou. Encolho-me mais ainda quando caminha em minha direção, mas para antes de chegar à estante. A luz, fraca que vem do lado de fora, não chega a seu rosto, só que tenho a sensação que conheço a pessoa, mas não consigo pensar direito em meio a tanta tensāo e pânico. Não sei como vim parar aqui ou a razão de estar correndo. Tudo que tenho certeza é que não compreendo nada.
   Não aguento, o espirro sai. O ser derruba a estante, revelando meu esconderijo. O capuz, por uma fração de segundo, me dá pouca visibilidade do rosto, mas é preciso apenas um único passo para que eu saiba quem estava correndo atrás de mim. De repente, todos os meus machucados começam a arder, relembrando-me que ainda estão aqui, mesmo que eu queira esquecê-los.
   — Ken? — Pergunto, com medo da resposta, embora minha visão me dê a certeza de que é mesmo ele. — Por que está fazendo isso?
   Um nó forma-se na minha garganta e minha voz sai igual a de um pequeno garoto. Um menino indefeso e à procura dos pais.
   — Não estou fazendo nada. — Retira o capuz. — Você fez isso comigo. — Seu rosto está totalmente desfigurado. Meu estômago embrulha e meus pulmões secam.
   — Como?
   — Eu... Eu.... — Está tāo confuso quanto eu. — Nāo sei. — Meu corpo é arrastado para outro lugar.

Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)Onde histórias criam vida. Descubra agora