POV Ken
O pôr do sol anuncia o fim de mais um terrível dia e o início de uma noite que pode ser longa e torturante demais. A persiana do meu quarto me dá a clara visão de uma lua quase sem cor, surgindo no céu gradativamente, como se estivesse pedindo permissão para passar e externar seu encanto.
Passo as mãos pelos braços, tentando absorver com mais praticidade tudo o que vem acontecendo conosco e quais nossas reais chances de ganhar. Estamos andando em círculos e travando brigas internas, esquecendo-nos de quem são nossos verdadeiros inimigos.
A ideia de estar perdendo bloqueia qualquer possibilidade de pensamento positivo emergir em minha mente. Nem sequer consigo idealizar um plano maior, onde podemos ter uma vantagem, mesmo que pequena.
Forçadamente, meus olhos descem do céu e fitam a rua. Está tudo muito quieto e sem vida. As casas estão com portas e janelas abertas. Alguns corpos enfeitam, desordenadamente, as ruas e carros estacionados. Meu estômago revira de imediato, tentando processar essa cena grotesca.
— Você não tem a menor ideia do que fez. — Trevis surge a meu lado.
Ele chega sorrateiramente, mas não me assusta com sua súbita pontuação. Apenas evito olhar em seus olhos, que me obrigarão a enxergar o tamanho da burrada que fiz.
— Eu tomei medidas desesperadas. — Saliento com cautela, buscando convencer mais a mim do que a ele. — Não poderia deixar que mais alguém morresse.
É meio irônico pensar em não morrer quando a cidade inteira está morta. É triste pensar que poderia ter impedido metade dessas desgraças se tivesse saído do meu casulo... Da cápsula que achei estar me protegendo, mas que na verdade, apenas tapava meus olhos da cruel realidade escancarada à minha frente.
— Vai transformar todos os outros agora?
Assimilo cada sílaba de sua pergunta.
Concentro-me piamente para compreender meus pensamentos.
Os sentimentos conflituosos parecem consumir todo meu corpo, sufocando-me como gás tóxico.
— Se for preciso, sim. — Confesso em tom baixo, olhando para o céu novamente.
As estrelas precisam me dar algum conforto.
— Não estava brincando quando mencionei haver regras. Não podemos simplesmente esquecer que existe uma ordem vigente no nosso mundo.
— E quais seriam as regras idiotas que proíbem salvar vidas?
— Salvar vidas?! — Ele questiona de modo irônico, conseguindo minha atenção mais depressa do que possa acompanhar. — Acha que salvamos a vida dele? Nós o condenamos, Ken. Ele nunca mais será o mesmo, não poderá fazer as coisas que gosta. Isso aqui não é viver.
— Ele entenderá. — Forço-me a acreditar.
Ele tem que acreditar.
— Ele não queria morrer. — Prossigo num tom mais ameno.
— Quando chega o momento ninguém quer morrer. As pessoas acham que não estão preparadas para o que pode vir depois daqui, mas na verdade, elas não querem passar anos e anos vivendo sem um destino e certas que naturalmente não terão um fim. A eternidade não é uma dádiva, é uma doença.
Preciso recompor minhas ideias e dispersar suas razões. Trevis tem a estranha mania de fazer pontuações que me fazem refletir durante horas, mas que não me levam a lugar algum.
— Eu fiz uma escolha. — Informo com rapidez, encarando seus olhos gélidos.
— Você fez uma escolha que não era sua. Espero que Sam possa lhe perdoar por arruinar tudo para ele.
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Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)
VampireLivro 1: Me Apaixonei por um Vampiro (História Gay) Livro 2: Me Apaixonei por um Vampiro(Caçadores Imortais - História Gay) "Louis Dewes é o meu declínio e não posso mais continuar a percorrer esse declive, que é uma estrada completamente escura. Nã...