Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)

Capítulo 29

POV Alice

      Os momentos seguintes à minha revelação parecem deixar todos catatônicos, muito perdidos dentro de si. Depois de muito insistir, consegui convencê-los a se reunirem na sala de estar e, desde então, continuam perdidos dentro dos próprios pensamentos. Nenhum deles é capaz de me encarar por muito tempo. Por alguns segundos, minha mente exige ser consumida pelo sentimento de culpa e enorme fracasso diante de toda a confusão que os Caçadores trouxeram na sua rápida estadia em Mystery City. Mas não havia escolhas para mim e nem para eles. Esta é a melhor, dentre todas as terríveis possibilidades, que poderia ter acontecido.

      O som da chuva ainda é estridente e os brilhantes raios refletem parte da sua luz no ambiente interno da sala, mesmo que ainda seja dia. Os pingos de água colidem ferozmente contra a enorme janela que dá uma visão perfeita da rua. Os corpos ainda estão jogados pelos cantos, como lembranças vívidas de todo o caos e destruição que nos assombraram durante semanas que mais pareceram anos.

      Depois de um longo silêncio que se fez necessário para acalmar o turbilhão de sentimentos e pensamentos presos em minha cabeça, finalmente direciono meu olhar para onde a maior parte deles estão: próximos aos sofás e poltronas da sala. A casa, apesar de tudo, permanece arrumada. As poucas pinturas a óleo presas à parede chamam minha atenção pelos milésimos de segundos em que continuamos em silêncio.

      Zack e Kennedy saem da cozinha em silêncio e os olhos do meu namorado estão incrédulos quando encontram os meus. Perco o fôlego quando cai a ficha de que almejei tanto sua presença aqui e, quando ele finalmente retorna ao plano terreno, é minha vez de partir. Não faço a menor ideia do que me aguarda do outro lado, de como será todo o processo de transição e muito menos quem me tornarei quando assumir o posto que meu avô ocupou por tantos anos.

      Com extremo esforço, Ken vira sua cabeça em direção a mim. Seu corpo continua sentado no sofá e sua expressão é inerte, como se nada mais fosse capaz de afetá-lo. Seus dedos brincam uns com os outros e é justamente por isso que sei o quão nervoso está. Quero garantir a todos que ficarei bem, porque isso estava destinado a acontecer. Talvez, a responsabilidade tenha sido do meu avô, que nos amaldiçoou. Mas, no fim, ter o poder salvá-los não soa como uma completa maldição para mim.

      Movimento os lábios muitas vezes, na tentativa de materializar minhas ideias em palavras. Preciso confortá-los um pouco. Têm que entender que não é uma perca. Nós ganhamos. Preencho todo o meu interior com a certeza das minhas escolhas e o quão bem elas farão a todos, mas minha oportunidade de falar algo se vai quando Dhana desce a passos lentos a escada.

      Quando seu corpo está na metade do percurso, um estrondoso trovão reverbera na cidade e nos assusta momentaneamente, mas não é capaz de atrapalhar a gloriosa caminhada dela a nosso encontro. A chuva e os sons dos seus saltos são os únicos ouvidos agora.

      — Não deveria ter feito isso. — A voz do Ken surge no ambiente extremamente controlada. Ele continua sem me olhar, mas sei que fala comigo. — O plano era que todos nós ficássemos aqui. Vivos! — Ele levanta de supetão, mas não executa mais nenhum movimento. — Você devia ter seguido o plano.

      — Por favor, Ken, precisa entender que não havia outra saída. Se tivesse, eu teria recorrido a ela. — Asseguro e tento me aproximar lentamente. — É meu destino estar ligada ao plano espiritual e eu tive a chance de iniciar com um grande propósito: salvar a todos que amamos.

      — Nem todos. — Ele é rápido em justificar. — Você não estará aqui, então pode garantir que todos que amamos estarão salvos. — Percebo que morde o lado interno da boca para suprimir o choro. Seus olhos brilham e sei que está cansado de lutar contra tudo. — Não posso perdê-la, Alice. Tudo que fizemos durante todos esses foi odiar um ao outro. Precisamos de mais uma chance para salvar nossa relação. Partir assim não é justo. — Um nó parece estar preso na sua garganta e sua voz falha em vários pontos da sua confissão.