POV Alice
Todas as explicações sobre a origem da Dhana, o que buscava na cidade e sua missão em nos orientar, é demais para qualquer mente, mas, ainda assim, faz todo o sentido. As vibrações que ela transmite, o seu jeito quase hipnótico e impossível de desconfiar, apesar dos grandes questionamentos sobre quem era, sempre envolveram a todos nós na mesma intensidade. Olhá-la, agora, tem outra perspectiva e é difícil não ficar inebriada pela sua serenidade, mas preciso de um momento com meus amigos.
Nossa habilidade de conversar pelo olhar ainda é eficaz, já que é tudo que precisamos fazer para nos dirigirmos à cozinha e deixar os demais a conversar na sala. O ambiente é enorme e me pergunto o porquê dos Dewes terem uma cozinha tão grande se provavelmente se alimentam apenas de sangue. Observo os objetos posicionados harmonicamente e faço isso na tentativa de encontrar o jeito correto de desabafar com eles. Os minutos passam e me dou conta que, honestamente, eles já têm consciência do que suas presenças aqui significam e do que sacrifiquei para que estejam bem e salvos.
Anny senta delicadamente na cadeira no balcão e logo Jerry a acompanha. Zack está com os braços cruzados, um pouco afastado de todos nós. Quero abraçá-lo e me esconder nos seu aperto, mas preciso transmitir a eles que estou bem com essa situação. Teoricamente, não estarei morta. Só preciso ficar anos afastadas do mundo terreno até aprender como controlar os dois mundos. As ancestrais ainda não deram todas as informações sobre como tudo isso vai acontecer, mas tempo será agora que teremos de sobra até que eu esteja apta a ser a guardiã dos nossos mundos.
Lanço um meio sorriso à Anny, que atentamente tenta ler meus próximos movimentos. Isso é algo que ela sempre foi boa em fazer. Raríssimas vezes conseguimos pegá-la de surpresa com nossos atos. É difícil segurar o choro quando seu rosto transmite toda tristeza que minha partida causa a seu interior. Sustentar seu olhar me sufoca por alguns segundos e agradeço quando meus olhos acompanham a mão do Jerry ir em direção a dela. Me perco no contraste das suas peles brancas com o tom amadeirado do balcão.
— Eu entendo, Alice. — Para minha surpresa, a voz do Zack é a primeira a dançar pelo ambiente. Ele está retesado, ainda com os braços cruzados, mas seus olhos emanam um brilho caloroso e aconchegante.
— Mesmo? — Meu tom de voz sai quebradiço. Ele se aproxima dos nossos amigos e os três me encaram por trás do balcão, que é tudo que ainda nos separa.
— Sim. — Ele apoia as mãos. — Digo, não é fácil saber que não a veria nunca mais. — Consigo sentir a dor em suas palavras e seguro o ar pelo máximo de tempo que consigo. Quando o liberto de uma vez é como sentir todo o meu espírito deixar meu corpo. — Tentei ficar bravo com sua partida iminente, mas não é sua responsabilidade. Não tinha escolhas e no fundo eu sempre soube que faria qualquer coisa pela sua família. — Zack deixa as lágrimas saírem e eu o acompanho.
Sinto meu corpo começar a hiper ventilar e controlo a sensação de pânico o máximo que consigo. Jerry e Anny mordem os lábios enquanto fecham os olhos, na tentativa de conter as lágrimas. A ação não surte o que efeito esperado, já que não demoram a completar nosso ciclo de choro. Eles três são necessariamente tudo o que precisei durante minha vida e deixá-los será a coisa mais difícil que já fiz.
— Sinto muito. — O pedido luta com as lágrimas e acha um pequenino espaço na minha garganta para ser ouvido. — Juro a vocês que se houvesse outra maneira...
— Nós sabemos. — Anny me interrompe e faz uma lenta caminhada até o meu lado do balcão. — Não precisa de desculpas, Alice. Tenho muito orgulho de você por tudo que fez para nos salvar. A todos nós. — Seus lábios tremem à medida que fala e mal consigo conter meu nervosismo diante da sua vulnerabilidade.
— E tenho certeza que ainda nos veremos. — Jerry logo fica ao lado da namorada. Sou preenchida por suas presenças e toco seus rostos levemente. Não me importo mais com as lágrimas.
— Eu amo tanto vocês. — Deixo a dor lancinante no meu peito sair junto com as palavras. — Prometo tentar resolver isso tudo.
— Não precisa. — Zack diz atrás de mim e demoro meio segundo para virar meu corpo na sua direção. — Vamos ficar bem e você também. — Ele me fita com seus lindos olhos e posso esquecer de tudo ao mergulhar neles. — Será para sempre meu primeiro amor, Alice. Foi o melhor plano do universo que poderia ocorrer na minha vida. — Ele sorri de leve e leva as mãos à minha cintura. O seu toque acende uma chama no meu interior e fico ofegante. — Droga, vou sentir muito sua falta, mas vou aprender a ficar bem, para que você não se preocupe do outro lado. Todos estaremos bem.
— Eu... — Tenho dificuldade em falar por causa do embargo na voz. — Só quero que fiquem bem. É o que preciso para ficar bem.
— Está tudo bem. — Fecho os olhos e mentalizo todos os momentos gloriosos que passamos juntos. Sou atraída aos nossos melhores risos, festas, viagens e reconciliações. É como um filme perfeitamente organizado para me garantir a paz que necessito para ir até o fim. — Eu te amo demais!
O tom sussurrado das suas palavras revigora meu ser quando chega a meus ouvidos. Sua respiração descompassada colide contra meu rosto e seus lábios não tardam a encontrarem os meus. Por alguns segundos, só permanecemos no contato. Ele inicia os movimentos e não falho em dar passagem à sua língua. E não importa quantos beijos ou que intensidade eles acontecem, nosso ato singelo sempre será a completude essencial ao meu corpo. Toda a tensão e medo desaparecem à medida que nos afastamos. Quando abro os olhos encontro os seus atentos e convidativos. Zack merece toda a felicidade do mundo e precisa saber disso.
— Por favor, não deixe as oportunidades ou... — Ele me lança seu olhar questionador, mas continuo. — Pessoas passarem. Tem que viver todos os dias da sua vida, aproveitar todas as chances de felicidade. Precisa me prometer, Zack. — Imploro e não é capaz de falar, por isso acena com a cabeça afirmativamente. — Todos vocês precisam ser felizes. — Peço depois de encarar meus dois amigos.
Sem que eu peça, os dois vêm até mim e envolvem seus braços no meu corpo. Zack não tarda a fazer parte do abraço em grupo e todo o medo e preocupação deixa meu corpo. Tudo que sinto agora é que posso partir tranquilamente.
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Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)
VampireLivro 1: Me Apaixonei por um Vampiro (História Gay) Livro 2: Me Apaixonei por um Vampiro(Caçadores Imortais - História Gay) "Louis Dewes é o meu declínio e não posso mais continuar a percorrer esse declive, que é uma estrada completamente escura. Nã...