Capítulo 24

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POV Ken

Encaro minhas mãos em silêncio enquanto Trevis caminha pelo quarto, impaciente. Meus olhos ardem um pouco e minha boca está começando a ficar seca demais, e não sei se pelo clima insano que muda drasticamente ou pela apreensão que consome cada entranha do meu corpo. Lia está dentro do banheiro, ainda desacordada, há por muito tempo. O pânico começa a instalar-se em mim e minhas pernas estão fracas.

Daenerys aparece na porta do quarto e com a cabeça pede que eu a acompanhe. Trevis me encara sério e posso compreender seu olhar de reprovação quando me levanto. O peso do mundo parece não querer me deixar andar e luto contra essa força.

— Não consigo entender o motivo dela ainda estar aqui. Depois de tudo o que fez contra você e sua família, por que confiar? — Respiro fundo e mordo com precisão os lábios algumas vezes antes de concretizar algum pensamento.

— Daenerys está sob controle. Sob o meu controle. Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. — Finalmente minhas pernas obedecem e tentam me levar para o fora do quarto.

— Sabe mesmo, Ken? — Ele pergunta de forma irônica. Em reflexo, estou encarando-o novamente. — Aparentemente, você não sabe de nada do que está fazendo. Duas pessoas transformadas e você acredita estar sob controle das coisas? — Ele está alterado, de uma forma que nunca vi antes. — Me deixa esclarecer uma coisa: atos geram consequências. Se por acaso sairmos daqui, se derrotarmos os Caçadores, outros virão atrás de todos nós. O que estamos fazendo é proibido. Temos regras no mundo vampiro, Ken. Não pode fazer isso. Eu não posso fazer isso.

— Então, por que o fez? Se é tão errado salvar vidas dessa forma, por que continuou fazendo? — Uso do mesmo tom que ele. — Eu não sei o que espera ganhar falando sobre certo e errado, mas veja ao redor, Trevis. Não temos tempo para isso.

— Você é a pessoa mais falsa moralista que conheci em todos esses anos de existência, Ken. Você prega a ideia de estar fazendo as coisas pelo bem maior, mas não. Você só pensa em você, em como não pode permitir que algo que considera ruim aconteça para que não se sinta mal. Essas duas vidas tinham sido perdidas. Primeiro Sam e agora Lia. Acha que ela vai acordar? Eu acho que não. Já se passou muito tempo.

Engulo em seco muitas vezes e forço as palavras a saírem. A voz está perdida e o amargo na boca está tão presente que é difícil me concentrar em outro coisa.

— Se ela está morta como diz... — Travo um pouco, desejando que não seja verdade. — Não teremos cometido dois erros.

— Pode ser que não, mas não vai ser a mesma coisa. Ela deve estar agonizando no mundo dos mortos sobrenaturais, quando poderia ter tido uma passagem mais tranquila. Entenda de uma vez por todas, garoto: tudo que você fizer, terá consequências. Descobri isso da pior maneira possível. Você não precisa sofrer tanto para finalmente entender.

— Agradeço pelo conselho. Não mudo minhas escolhas. Pensar nisso tudo não vai mudar o passado. O que está feito, está feito. É isso. Não tem volta.

— Eu tenho muito o que fazer. — Ele diz depois de muito me encarar com incredulidade. — Preciso recuperar minha filha. Se quer continuar agindo como se soubesse de tudo e não precisasse de ajuda, tudo bem. Faça suas escolhas. Eu estou fora. Boa sorte em ajudar Lia, se ela acordar.

Seu corpo passa por mim como um raio e preciso de alguns minutos sozinho para absorver suas palavras.

♥ ♣ ♥

O som dos passos chega a meus ouvidos quando consigo ter certo controle sobre minhas ações. A forma que Trevis saiu e as coisas que disse me atingiram em pontos sensíveis demais. Minha cabeça está em uma viagem interna que tenta me deixar mal a cada segundo e apenas não permito afundar profundamente porque não temos tempo para isso.

Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)Onde histórias criam vida. Descubra agora