Capítulo 17

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POV Ken

Como um lampejo agudo, meus olhos abrem-se. No primeiro instante, tudo está tão escuro quanto às profundezas do oceano. Abruptamente, focos aleatórios vão surgindo no meu campo de visão. Quando meus sentidos entendem onde estou e o que está acontecendo, os gritos de todos invadem minha cabeça tão intensamente quanto uma descarga elétrica. Estou no cemitério, no dia em que Daenerys executou boa parte da minha família e amigos.

Absolutamente, todos eles, estão aqui agora. Cada um no mesmo lugar que naquela noite. De repente, sinto que esta é minha chance de consertar tudo e tê-los de volta. É a minha oportunidade de salvar as pessoas que morreram por minha culpa. Meus olhos, mesmo não podendo vê-los agora, estão marejados e minha garganta seca. É tudo tão real e intenso que posso sentir que irei explodir a qualquer segundo.

Os sons na minha cabeça ainda são cruéis demais para que eu consiga respirar normalmente. Como costume, mordo os lábios. Porém, dessa vez, parece ser forte demais. Quero gritar e correr para junto deles e impedir a Primeira Bruxa, mas por alguma razão, sinto que não posso interferir em nada disso. Eu sou um mero expectador desse caos terrível.

Minhas pernas falham por meio segundo. Meu corpo esquenta e meu mundo parece sair de órbita quando vejo todos morrendo mais uma vez. Mesmo diante de todo esse cenário não consigo correr na direção do círculo.

Por que não posso consertar isso de uma vez e seguir com minha vida? Com uma vida bela e feliz?

Ao terminar o pensamento mais angustiante que posso ser sugado, tudo some. Ou melhor, todos eles somem. Tudo que resta, além da minha presença, são as árvores balançando na frequência do vento e os pios dos pássaros acrescentando mais ritmo à ventania e ao farfalhar das folhas.

— Nunca vou me acostumar com esse lugar. — Por meio segundo, que parece uma eternidade, sinto todo meu corpo perder a estabilidade. Meu coração volta a seus batimentos tão forte que minha respiração parece mais um sinal de morte do que um sopro de vida. — Sei que nunca irá me ver ou ouvir, não sei o motivo de insistir em falar com você.

— Nick? — Pergunto com os olhos esbugalhados e a respiração por um fio quando giro minha cabeça um centímetro para o lado e vejo meu irmão. Está trajando a mesma roupa do dia que foi vaporizado pela maldita Primeira Bruxa. — É você?

— Você consegue me ouvir? Consegue me ver? — As perguntas vêm apressadas e trazem consigo um misto de alegria e confusão. Seu sorriso se alarga e posso sentir seu coração acelerar quando me abraça.

Mesmo agora, nos seus braços, parece que o toque não é real. Os braços dele não parecem estar ao meu redor. Mas, ainda assim, por mais confuso e inusitado que parece, sei que está aqui e estamos nos tocando. Só não é o mesmo toque de quando estava... Vivo?

— Oh meu Deus, eu nem acredito nisso. — Ele diz, fazendo-me esquecer meus pensamentos tóxicos.

— É claro que posso ouvi-lo. — Respondo quando consigo pensar em outra coisa que não seja o fato de estar aqui. — Por que não ouviria?

— Está brincando? Desde que... — Sua frase corta-se por meio segundo, mas sei o que está prestes a dizer.

— Morreu? — Questiono, mas soa mais como um complemento da frase. — Eu sinto muito por isso.

— Não é sua culpa. — Ele diz. — Mas sim, desde que morri, tento contatar você.

— Esteve aqui durante todo esse tempo? — Olho ao redor. — Onde estamos?

Me Apaixonei por um Vampiro (Caçadores Imortais)Onde histórias criam vida. Descubra agora