III.✓

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Quando estou indo deitar, alguém abre a porta de uma vez me fazendo dar um pulo e me sentar na cama rapidamente. Como o quarto está escuro não consigo saber quem é.

— Quem está ai? — Pergunto.

— Qual seu problema, Jess? Queria que o Estevan te batesse ou que eu mesmo faça isso? — Keel senta na cama sem minha autorização, reclamando.

— Só fiz aquilo porque você falou que não ia me levar. E eu não vou ficar aqui nem que paguem! — Me defendo. Ele me pega pelo braço, me puxando para mais perto.

— Você acha que isso é brincadeira? Acha que agora você pode escolher onde e com quem ficar? — Aperta meu braço enquanto continua falando: — Agora você vai comigo, mas não vai dar palpite sobre nada! Tem pessoas perigosas atrás de mim. E agora, consequentemente, atrás de você também. — Engulo em seco, mas me irrito com a forma que ele fala comigo.

— Olha aqui, pra começar eu não pedi nada disso! Não pedi para que pessoas malucas e sádicas levassem a mim e minhas amigas para que vendêssemos nossos corpos em troca de dinheiro para eles! Não pedi que me trouxessem para cá! Não pedi por nada disso! — Rosno. — E me solta porque você já está parecendo o Estevan. — Ele me larga rispidamente.

— Mas pediu por isso. Por toda essa merda que sua vida vai virar.

— Mais do que já está? Não sei se pode piorar — comento impassível.

— Você ainda não viu o que é viver na merda, garota. Mas vai ver. E vou fazer de tudo para que fique ainda pior. — Olho pra ele, mas não vejo quase nada do seu rosto devido a escuridão. Keel levanta e sai do quarto tão rápido quanto entrou.

Sei que o que eu fiz não foi certo, mas prefiro me aventurar pelo mundo na companhia do Keel do que ficar trancafiada em uma casa junto do Estevan. Mesmo não assumindo, eu confio no Keel, não plenamente, mas confio mais do que no Estevan. E só de pensar que a Mirella vai ficar... Isso corta meu coração. Mas sei que o Estevan vai cuidar melhor dela do que cuidaria de mim. E, talvez, quem sabe, eu volte algum dia e a tire daqui. Só queria que tudo voltasse ao normal. Que Diandra voltasse a ser a mandona chata de sempre, que a Myrcella continuasse sempre concordando com a Dih, que a Mirella continuasse a só ver o lado bom das coisas e ser a medrosa em outras, e que eu... Que eu continuasse a discordar delas!

Lembrando disso parecem anos! E uma mão imaginaria esmaga meu coração, fazendo meu estômago contorcer.

Puxo a coberta e me encolho na cama sentindo um medo avassalador me envolver, um medo de não saber se verei minhas amigas, que considero irmãs, mais alguma vez na minha vida. Um medo de não saber se estou fazendo a coisa certa, de não saber o que vai acontecer daqui para frente. Medo de deixar Mirella. Medo do Keel estar apenas me enganando pra levar de volta para aquele inferno em que estávamos.

°

Sinto um cheiro conhecido e um toque delicado em meu rosto.

— Jess, hora de acordar. Temos que ir.

Ouço ao fundo alguém me chamando, mas não ligo. O toque fica mais firme, me chacoalhando delicadamente.

— Vamos garotinha. Não enrola.

Abro os olhos lentamente e o quarto ainda está escuro.

— Ainda nem amanheceu... quero dormir... — sussurro me abraçando.

— Meu Deus. Como você é difícil. — Sinto me puxando.

— Deixe minha mão aqui! — Não sei se ouço risadas mesmo, mas sei que sinto alguma coisa me envolvendo e me aconchegando em seus braços, que me parecem bem seguros e confortáveis no momento.

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Onde histórias criam vida. Descubra agora