XLVII.✓

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Abraço o Keel mais forte ao entrarmos na sala em que Alberto está, dona Clara e Beth estão aqui, na cama a Louise e a Lexa estão sentadas junto com seu pai. Ele me olha e sorri em meio a um tosse descontrolada.

— Ve... Venha a-aqui... Jessi... ca — sua voz está no fim. Sento ao lado da Lexa e ele segura minha mão com a sua extremamente trêmula. — Es-estou morrendo... Quero que saiba que... Que... Eu me arrependo, querida. — Seus olhos parecem lutar pra ficar abertos, minha mão segura a dele mais firme e sinto meu estômago embolar e meu coração falhar. — Sei qu-que não importa agora, m-mas... você precisa saber... Eu me arrependo de ter d-deixado você e sua mãe... Isso é sincero, não es-estou dizendo por causa da sua ameaça — fala olhando para alguém atrás de mim, franzo a testa e olho na mesma direção, o Kendall. Como assim ele o ameaçou? — Eu realmente me arrependo... E quis compensar cuidando delas, ma... mas não vou conseguir concluir i-isso... — Louise senta do meu outro lado e quando eu olho novamente para trás não há ninguém. — Não consigo lutar mais, queridas. Não consigo...

— Papai... — Lexa sussurra e só agora percebo que ela está chorando.

— Amo vocês, minhas meninas — ele fala tocando a Lexa e depois a Louise, então me olha e sorri. — Também amo você, Jessica.

Desvio o olhar e sinto sua mão escorregando da minha.

— Prometa que vai cuidar delas — pede.

— Não vou prometer nada a você, Alberto, não merece isso — falo e ele sorri concordando. — Eu farei o que acho certo.

— O-bri-ga... do — sussurra e outra crise de tosse o atinge, dessa vez o lenço volta ensopado de sangue.

— Eu serei melhor pra ela do que você foi pra mim, pode ter certeza — acrescento o olhando e ele da um último sorriso, então eu vejo a vida fugir de seus olhos e sua cabeça cair para o lado. Lexa está convulsionando de tanto chorar, Louise também chora. Sem pensar eu as abraço trazendo para perto e elas me agarram chorando mais forte. Não consigo sentir nada, continuo olhando meu pai morto e não sinto absolutamente nada. Isso me transforma num monstro? Uma pessoa assim seria capaz de cuidar de duas crianças?

Não sei quanto tempo depois, braços surgem ao meu redor e mãos no meu rosto fazendo eu parar de encarar Alberto morto, Kendall me olha claramente preocupado, então me abraça. Sinto alguém puxando as meninas de mim e meu primeiro extinto é tentar segurá-las, mas acabo soltando quando percebo se tratar da Clara. Abraço o Ken e vejo vários médicos e enfermeiros entrando no quarto, meu namorado me leva pra fora e encontro Louise e Lexa sentadas na poltrona abraçadas, já não choram mais. Fico em pé ao lado delas com o Keel junto de mim, ainda vejo a expressão do Alberto passando na frente dos meus olhos e ela se mistura com vários outros acontecimentos. Quando mamãe morreu, quando Donovan me entregou ao internato mesmo tendo prometido a minha mãe que cuidaria de mim, imagens da noite em que eu e minha amigas fomos sequestradas, do Ivan estuprando a Diandra, do Estevan ficando com a Mirella, daquele homem me estuprando, depois eu arrancando seu pênis com a boca, do Ken sendo baleado e eu matando o Thereese, depois o Keel me abandonando e o sentimento que eu senti...

Tudo parece explodir na minha mente de uma vez, eu só abraço com força o Ken sabendo que vou demorar muito para perdoá-lo por completo, mas também que sem ele eu não conseguiria ser completamente feliz. Agora imagino essas meninas no meu lugar, passando por tudo que passei. Por Deus! De jeito nenhum posso permitir, elas são sangue do meu sangue!

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Onde histórias criam vida. Descubra agora