XXXIII.✓

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Kendall parecia um menininho envergonhado, arrependido, toda vez que veio falar comigo. Isso já fazem três meses. Ele sempre me para na entrada do prédio ou quando vou na casa da Mi. Não desiste nunca. Mirella me contou que uma vez ele foi lá e desabafou pra ela falando sobre mim. Disse que nunca gostou de ninguém, não sabia como lidar, mas que sabe que o sentimento que tem por mim é forte demais e ele não consegue segurar, só quer me ver a todo momento e saber como estou. Isso me fez ver o quanto ele está arrependido, o quanto está tentando.

Caralho, fazem três meses desde que ele voltou!

Aproveitei que o Otavio foi viajar para encontrar um carinha dele e liberei a entrada do Kendall com meu porteiro. Quero falar com ele por algum motivo. Para minha completa infelicidade e ego ferido, eu sinto falta daquele cretino. Meu coração é tão ridículo que continua sentindo falta do imbecil do Kendall mesmo depois do que aconteceu.

Pode parecer que estou exagerando, mas não. O que eu senti quando me vi sozinha anos atrás foi tão horrível, não desejo isso pra ninguém. Foi um sentimento tão ruim, me consumiu por algum tempo que a única coisa que eu fazia era ir trabalhar e voltar pra casa, tudo no automático. Eu me senti tão vazia, tão inútil...

Vendo agora eu parecia adolescente na fase emo gótica. Mas agora eu estou madura, cresci e aprendi.

Eu, mas aparentemente meu coração é uma parte separada.

Estou sentada no sofá assistindo um seriado que lançou recentemente na TV que eu simplesmente estou viciada, quando a campainha toca. Por algum motivo eu sei que é ele. Olho minha vestimenta, uma blusa de frio de crochê vermelha que chega na metade das minhas coxas, então confirmo que não tem nada de vulgar que o vá distrair e abro a porta. Ele me observa levemente surpreso e coça a cabeça bagunçando seu cabelo.

— Por que o porteiro me liberou? — É a primeira coisa que pergunta e eu sorrio, isso faz ele desviar o olhar para minha boca e abrir um sorriso também.

— Tanta coisa pra perguntar e é essa que faz? — Dou espaço e volto a sentar, logo ouço a porta fechando e o Fry correndo e latindo. Keel aparece ao meu lado com meu neném no colo e eu aponto o sofá. Fry se remexe lambendo a mão do Keel e eu quero muito sorrir ao ver ele ajeitando meu bebê no seu colo de uma forma que fique confortável mesmo com a cadeirinha de rodas.

— Você não vai me xingar ou ser irônica por eu estar aqui? — Keel pergunta me olhando.

— Não — respondo simplesmente.

— Por quê? — Olho pra ele que tem o olhar suplicante.

— Eu liberei sua passagem lá em baixo, Kendall. — Sua expressão fica mais animada.

— Isso significa que você tem uma resposta? — Sua voz sai espontânea.

— Não, isso significa que eu apenas liberei por hoje sua entrada. — Ele deixa os ombros caírem.

— E por quê? E como sabia que eu subiria?

— Eu não sabia, então iria deixar até você vir algum dia. — Keel franze a testa.

— Por quê?

— Não sei — sou sincera. — Apenas fiz. — Dou de ombros.

— Você quer me deixar maluco, não é? — Ele coloca o Fry no chão que sai correndo com seu ursinho na boca.

— Não, Keel.

Ele me olha intensamente e se aproxima cauteloso, estou sentada com os pés encolhidos ao meu lado. Kendall toca meus cabelos soltos e fecha os olhos respirando fundo. Meu corpo reage na hora e eu desvio o olhar para sua boca levemente avermelhada, sinto um nó se formando no fundo do meu estômago, minha boca seca e meus cílios pesam. Seu cheiro chega até mim assim como sua mão quando toca meu rosto ao mesmo tempo que abre os olhos verdes nublados. Senti tanta falta desse olhar, mesmo que não admita. Seu polegar começa a me acariciar e meu corpo ferve, minha intimidade se contrai e eu ofego.

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Onde histórias criam vida. Descubra agora