XIX - II PARTE.✓

2.2K 276 34
                                    

É noite e provavelmente o velho está para chegar, meu plano será posto em prática nem que eu precise morrer no processo.

A porta é aberta e ele entrega a gororoba que chama de alimento. Como na marra com ele sorrindo e me olhando.

- Acho que amanhã vão te tirar daqui, vadia. Alguém vai te comprar ou vai ser levada para as exposições - comenta e eu não respondo, só entrego o prato. O homem pega e se vira abrindo a porta, levanto e paro atrás dele segurando firme a colher com o cabo pontiagudo.

- Você se esqueceu de uma coisa - comento.

- O quê? - Se vira e eu junto as forças de todo o meu ser e cravo minha única arma na sua garganta.

Ele cai no chão se contorcendo, eu chuto seu rosto com força ouvindo sons dos ossos quebrando e puxo pra fora o cabo da colher, fazendo o sangue esguichar em mim. Meu estômago fica embrulhado com o cheiro e eu termino de abrir a porta. O corredor tem diversas portas e não tem ninguém lá fora, vou caminhando até ouvir barulhos bem altos e começo correr na direção oposta até uma porta branca. Abro e entro fechando atrás de mim. Tem várias roupas, bolsas, calçados e alguns outros objetos nesse lugar. O cheiro é de mofo e velhice.

Sinto meu corpo gelado, seguro com força a colher entre minhas mãos muito trêmulas.

Deus! Eu matei um homem!

Meus lábios tremem e meu coração parece querer pular do meu peito.

Sou uma assassina!

Por mais que ele realmente merecesse morrer... Eu o matei. Eu tenho o sangue dele nas minhas mãos. Eu.

Caio no chão respirando fundo e ouvindo uma correria fora da porta.

Você precisa se recompor, Jessica!

Fecho os olhos com força e levanto caminhando até uma estante, tento arrasta-la até a porta sem fazer muito barulho, mas devido aos barulhos lá fora ninguém notará. Derrubo ela deitada contra a porta e me afasto indo para o canto da parede. Seguro com força a colher na frente do meu corpo tentando me proteger. Meu braço está latejando tanto que quase não consigo permanecer em pé. Uma gritaria lá fora, barulho agudos de... tiros?

Merda, o que está acontecendo? De jeito nenhum vou abrir essa porta, ainda preciso tentar escapar por algum maldito lugar.

Olho em volta e começo a andar entre as estantes repletas de caixas de papelão, roupas, cadernos.

Que diabos é essa tralha toda?

No fundo encontro uma janela minúscula, porém maior que a outra do lugar que eu estava. Tento abri-la, mas está emperrada, com uma mão só não vou ser capaz.

- Droga, droga, droga, droga. - As lágrimas começam a sair assim que estico meu braço e seguro no ferro da janela. - Você consegue, Jessie.

Então uso toda minha força e puxo pra cima. Sinto algo dentro do meu braço se desconectar e rasgar, o grito sai da minha garganta arranhando tudo. Caio no chão chorando tamanha dor que sinto, abraço o braço que agora dói feito o inferno.

Vamos, preciso continuar...

- Ah! - Solto um ofego quando levanto, não consigo mexer meu braço, parece estar pegando fogo de tanta dor.

Deus me ajuda!

Subo sobre a estante e respiro fundo mordendo meu lábio para conter outros futuros berros. A janela da para um beco, não faço a menor ideia de onde, mas antes que eu possa pular a altura um tanto quanto considerável, alguém esmurra a porta.

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Onde histórias criam vida. Descubra agora