XLVI.✓

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Meu peito está apertado, Jessie continua nos meus braços, porém agora dormindo. Sua respiração é falha pelo choro de minutos antes, minha boca está contra seus cabelos cheirosos e minhas mãos vagando por suas costas. Não sei como ela deve estar se sentindo, só sei que não é um sentimento bom. Seus olhos estavam turbulentos enquanto ela estava sobre mim, como se me pedissem ajuda internamente, mas soubessem que não sou capaz de ajudar. Isso está me corroendo por dentro e eu só preciso saber o que aconteceu.

Com isso em mente eu levanto com todo cuidado do mundo e deposito a Jessie na cama, coloco um travesseiro entre seus braços, outro entre as pernas e um cobertor sobre seu frágil corpo desprovido de vestimentas. Visto minha roupa, deixo um último beijo sobre sua testa e saio do quarto tomando o cuidado de tranca-lo antes, chamo um táxi e permaneço impaciente a espera, quando chega eu dou o endereço do hospital.

Chego e já sou informado que o horário de visitas acabou, mas dou meu jeito de convencer uma enfermeira a me levar até o quarto do Alberto, jogo uma cantada barata e um "serei eternamente grato" e ela já está caidinha na minha. Sempre fácil demais. Entro e o senhor está na cama lendo algum livro, assim que me vê se assusta.

— O que faz aqui, rapaz? — Pergunta com sua voz fraca fechando o livro.

— Nossa conversa vai ser rápida, só preciso que me diga o que aconteceu aqui quando a Jessie estava com o senhor — meu tom é calmo porém ameaçador. O homem pigarreia e se mexe claramente desconfortável com minha presença.

— Como entrou aqui? Melhor ir embora ou eu chamo a segurança.

Sorrio e balanço a cabeça negativamente.

— O senhor pode só responder a pergunta amigavelmente ou podemos ir por outro lado. Chame a segurança, mas você vai me responder antes que eu deixe essa sala — falo e sorrio, ele arregala os olhos cansados e concorda. Então começa a contar toda a história, quando termina eu estou sem reação. — Você é uma pessoa horrível — afirmo. — Como pode esperar algo da filha que abandonou tempos atrás? E pior, não sente remorso por isso. — Passo as mãos pelo cabelo e ando pela sala inquieto.

— As meninas não tem ninguém nesse mundo, você entende? Elas não podem pagar pelos meus erros — ele fala e solta a respiração. — Elas estão para completar sete anos, rapaz, não podem ir para um lugar completamente desconhecido.

— Não sei se percebeu, mas de qualquer forma elas vão para um lugar completamente desconhecido. Jessie e elas não se conhecem, nunca tiveram a noção das existências umas das outras. — O encaro sem conseguir processar sua lógica. Ou falta dela.

— Jessica é uma boa menina, não vai deixar suas irmãs largadas assim. Ela sabe como foi, afinal, ficou sozinha a vida toda.

— Claro, como se a conhecesse — ironizo. — Agora entendo o porquê dela querer ir embora assim que saiu daqui, você me da ânsia e não estou falando só da aparência. — Ele abaixa os olhos. — Se você chatea-la com suas palavras cruéis eu juro que volto aqui e termino de matá-lo — minhas palavras são sinceras e ele arregala os olhos. — Jessie vai pensar nisso pelas convicções dela e não por seus apelos emocionais — finalizo e ele assente, então saio da sala.

°

Abro a porta do quarto e encontro a Jess abraçada aos seus joelhos sobre a cama, ela me olha e levanta correndo até mim. Seu rosto está todo molhado pelas lágrimas e seus olhos vermelhos. Deixo as sacolas no chão e agarro seu corpo a abraçando com força, fecho a porta com o pé. Beijo a curva do seu pescoço, aperto sua cintura tirando seus pés do chão e colando seu corpo nu ao meu. Faço com que entrelace suas pernas em mim e a levo até a cama, sento com ela sobre mim e afasto acariciando seu rosto, sorrio e beijo sua boca.

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Onde histórias criam vida. Descubra agora