Ao chegarmos na pousada ela nem mesmo olhou para mim. Correu para seu quarto e trancou a porta.Me doeu ouvi-la girando a chave. Tinha feito tantos planos para nós, mas eu tinha estragado tudo. Fui até o bar e pedi uma dose de vodka. Não era meu costume beber, mas não conseguia pensar em nada melhor.
Sabia que se não me ocupasse com alguma coisa, eu acabaria derrubando aquela porta e a obrigando a me ouvir.
Mas eu não podia seguir meus instintos, não podia magoá-la ainda mais. Logo a noite passaria e ela iria estar de cabeça fria para me ouvir.
A balconista me serviu com um sorriso no canto dos lábios. Como se esperasse ouvir uma história, mas naquele momento desabafar com um estranho não iria servir.
A bebida desceu queimando pela minha garganta até chegar ao meu estômago.
- Meu Deus, como meu pai conseguia beber aquilo? - pensei.
- Deseja mais alguma coisa? - perguntou a balconista se insinuando para mim.
- Obrigado, mas deixe a garrafa, por favor - respondi olhando para o copo vazio.
- Se precisar é só me chamar - disse se debruçando no balcão.
- Ele não vai precisar Lili - disse Suzan sentando-se ao meu lado. - Bebendo? Hum... Me deixe adivinhar... A garotinha partiu seu coração?
- Não faz isso Suzan - disse percebendo o tom de sua voz. - Hoje não. - Não estava com cabeça para ter aquela conversa.
- Sério? - disse elevando a voz. - Você volta depois de dois anos, com uma garota a tira colo e não quer conversar? - todos pararam para ouvir a conversa.
- Suzan... - disse tentando manter a voz serena. - Me desculpe, não era minha intenção magoar você, mas acabou.
- Eu te esperei todos os dias... Sabe o que é isso? - As lágrimas escorriam pelo seu rosto como uma chuva torrencial.
Me levantei para voltar para o meu quarto, mas ela segurou meu braço com força.
- Não pode dar as costas pra mim... Não dessa vez! - fiquei sem reação. - Eu vou acabar com a sua vida, eu vou acabar com a sua vida! - ela gritou e saiu correndo pelo corredor.
Peguei a garrafa e voltei para o quarto. Ainda não acreditava que depois de tudo ainda teria que lidar com a fúria da Suzan.
Eu sabia que ela não tinha aceitado muito bem minha partida, mas o que aconteceu entre nós não tinha passado de algo físico. E para mim isso não era o suficiente para ficar.
Nossa relação não podia nem de longe se comparar com a Amanda. Nossa conexão ia muito além do carnal. Era diferente, era mágico. Era quase como aquelas histórias de amor da literatura inglesa. Me sentia preso a ela e não me importaria em segui-la para onde quer que ela quisesse ir. E por alguns instantes me arrependi por não ter aceitado seu convite de nunca mais voltar para a realidade.Parei por alguns instantes na porta do quarto dela e pensei mil vezes em bater, em dizer como me sentia, dizer o quanto ela era importante para mim, mas me controlei. Tive medo que soasse falso ou decisões de um bêbado já que meu hálito e a gafarrafa na minha mão não contavam muito ao meu favor.
Voltei para o quarto e voltei a beber. Quando a garrafa já estava pela metade, o gosto ruim desapareceu. Era como se todo meu corpo estivesse dormente.
Apaguei instantes depois. Um sono sem sonhos, mas quando acordei o relógio marcava 8:00 da manhã.
Minha cabeça estava pesada e dolorida. Minha boca seca emplorava por água. Fui até a pequena geladeira do quarto e bebi duas garrafinhas de água gelada.
Lavei o rosto e me sentei na cama, ainda com a cabeça confusa. Não tinha muita certeza do que era real.
Prendi o cabelo e fui até o quarto da Amanda. Tinha esperança que a parte que a envolvia tivesse sido apenas um pesadelo.Ao chegar a sua porta respirei fundo, mas antes que tivesse a chance de bater, uma das camareiras saiu do quarto com um cesto de roupas de cama.
- A hóspede desse quarto está? - perguntei tentando ver alguma coisa por cima de seu ombro.
- Ela foi embora esta manhã - respondeu serenamente, sem perceber o efeito que suas palavras tiveram em mim.
- Embora? - perguntei ainda incrédulo.
- Sim... Ela pagou a conta, chamou um táxi e foi embora.
- Sabe para onde ela foi?
- Não senhor - respondeu saindo para o próximo quarto.
Entrei em pânico. Ela tinha ido embora. Ido sem se despedir. Ido porque eu tinha feito tudo errado. Meu silêncio idiota tinha feito ela me deixar.
Fui até a recepção desesperado por informação. Alguém tinha que saber alguma coisa.
Encontrei a mesma recepcionista do dia em que tínhamos chegado. Ela estava ao telefone. Toquei a campanha impaciente. O tempo era agora meu inimigo. Não dava para esperar.
- O que o senhor deseja? - perguntou com um sorriso falso.
- Queria informações sobre uma hóspede que saiu essa manhã.
- Não posso dar esse tipo de informação - disse desconsiderando meu desespero.
- Ela se chama Amanda, por favor, só preciso saber para onde ela foi - disse quase implorando.
- Qual é o nome dela? - perguntou olhando para o computador.
- Eu já disse Amanda.- Preciso do nome completo! - disse voltando a olhar para mim.
- Eu não acredito que muitas Amandas tenham ido embora daqui essa manhã... - respondi apontando de volta para o computador.
Ela estava prestes a verificar quando vi a balconista do bar apontar para mim.
Dois policiais me seguraram pelo braço com força.
- O senhor está preso! - disse o policial que estava sem boina.
- Preso? Por que? - perguntei ainda olhando para a recepcionista, que instintivamente se afastou do computador e se espremeu na parede tentando ficar o mais longe possível de mim.
- O senhor é o principal suspeito pela morte da jovem Suzan Meireles - respondeu o outro policial apertando as algemas nos meus pulsos.
- Suzan está morta? - perguntei ainda sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.
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O Colecionador de Borboletas
Mystery / ThrillerAmanda é uma modelo de sucesso em Nova York, que se vê perdida num mundo em que muitas garotas sonham em viver. Após ler um livro inspirador, ela decide copiar a personagem principal e foge para a Chapada Diamantina, onde ainda no caminho conhece...