Brincando com Fogo

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   Após ouvir a voz dele e sentir seus olhos sobre mim, apenas concordei com um meio sorriso. Queria não demonstrar o quanto estava tensa com aquela situação.

   - Gostaria de saber onde a senhorita estava nos dias 3, 4, 5 e 6 de agosto - disse colocando as duas mãos sobre a mesa.

   - Eu estava no Brasil com meus pais -  respondi tentando olhar para ele.

   - A informação que temos é que você  não esteve com seus pais durante todo esse tempo.

   - Fiquei esses quatro dias com eles... - disse sem saber onde ele queria chegar. - Está me testando?

     - Claro que não!  Por que faria isso? - E sorriu maliciosamente.

   Não entendia porque o agente Clark não podia fazer o interrogatório. Aquele homem na minha frente me dava calafrios. Ele parecia o Dexter. Um psicopata infiltrado na polícia ou quem sabe um Hannibal.

  - Posso continuar? - perguntou provavelmente percebendo o quanto meus pensamentos tinham me deixado relapsa.

   - Sim - e sorri novamente, endireitando minha postura.

   - Acredito que esteja ciente da situação - disse lançando novamente seu olhar ameaçador. - Cinco jovem assassinadas e tudo indica que a causa de todos eles esteja ligada a senhorita  - fez uma leve pausa. - Todas as mortes aconteceram nos dias 3 - colocou duas fotos sobre a mesa. - 4 - colocou a foto da Olívia e de outra modelo que me lembrei vagamente quem era. - E 5 - Finalizou com a foto de uma garota parecendo ser ligeiramente mais nova que eu. - Todas morreram em um suposto suicídio. Todas idênticas a você. E suas mortes seguiram um mesmo ritual.

   - Qual? - perguntei tentando ligar os pontos.

   - Tomaram um banho de espuma, se secaram com uma toalha branca. Espalharam rosas vermelhas pelo quarto e por fim vestiram a roupa mais confortável que tinham em seus armários e saltaram para morte da janela de seus quartos. Sem testemunhas e sem bilhetes - finalizou acompanhando cada expressão do meu rosto.

   Engoli em seco ao pensar que era exatamente como eu tinha pensado em dar fim a minha vida meses atrás. A única pessoa que conhecia esse meu desejo,  e os detalhes de como faria, era minha psicanalista. Eu não queria acreditar antes, mas aquelas mortes realmente estavam ligadas a mim. Ligadas por correntes tão bem alinhadas que naquele instante respirei fundo, não queria ter uma crise de pânico, nem transparecer para aquele carrasco o quanto me sentia culpada e ao mesmo tempo apavorada com aquelas revelações.

    - Está se sentindo bem? - perguntou sem mudar sua expressão carrancuda.

   - Um pouco chocada talvez - respondi tentando apagar qualquer expressão de medo de meu rosto.

   - Quero que me conte o porquê não voltou para seu apartamento como disse a todos que voltaria no final do dia 6! - continuou ele com olhos ainda mais fixos em mim.

  - Decidi passar mais tempo em meu país,  há algo de errado nisso?

   - Não... Não há nada errado nisso, mas a senhorita permitiu que todos pensassem que estava morta - disse recolhendo as fotos da mesa. - No dia 6 em que todos esperavam sua volta e a policia aguardava mais um corpo. Nada aconteceu. Você não voltou e nada foi encontrado, o que nos levou a acreditar que você era a sexta vítima.

   - Eu realmente não sabia do que estava acontecendo, se soubesse com toda certeza não permitiria que ninguém chorasse por um mal entendido.

   - Então nos ajude Amanda -  disse se inclinado sobre a mesa. - Quem próximo a você faria isso? Um namorado? Um amigo? Quem?

   - Não há ninguem! - respondi olhando fixamente para ele. Não queria mais me deixar ser intimidada.

   - Nem seu ex namorado? - perguntou erguendo a sobrancelha, como se tivesse me pegado mentindo.

   - Parece saber tanto sobre mim que acho inútil estar aqui agora respondendo essas perguntas - respondi devolvendo o mesmo olhar.

  - Quero apenas ajudá-la - disse recuando para seu lugar.

   - Não sei nem mesmo seu nome e não me sinto confortável falando da minha vida com estranhos - pensei em James. No quanto ele tinha me feito acreditar que falar com estranhos poderia ser tranquilizador, mas naquele momento, com aquele homem, as palavras do meu colecionador não faziam o menor sentido.

   - Sou o agente Drake - respondeu franzindo o cenho, como se não esperasse essa reação. - Se sente melhor agora?

   - No meu país apenas confiamos em quem sabemos o primeiro nome, o que não é o seu caso, então se não tem nenhuma acusação ou algo para me manter aqui eu gostaria de ir embora.

   - Está escolhendo o lado errado, deveria confiar em quem pode protegê-la e garanto que não será a intimidade de um primeiro nome que fará isso e a propósito o meu é Ryan. - respondeu se levantando e abrindo a porta para mim.

   Não me dei ao trabalho de responder. Não sabia se estava sendo sensata ou coerente, mas não me sentia bem ali. Eu só queria correr e me afundar no fundo de uma caverna. Estava com medo, sim! Eu estava apavorada.

   Ao chegar na porta principal do prédio, fui cercada por centenas de repórteres e câmeras. 
  
   Eis tudo que eu precisava!

   Eram tantas perguntas sobre minha suposta morte que tudo acabou se tornando como o zumbido de abelhas numa colmeia gigante. Antes que desmaiasse senti os braços do agente Clark a minha volta me puxando de volta para o prédio. Ele me levou para os fundos e me colocou deitada no banco de trás do carro.

   As vozes dos repórteres e as imagens das garotas mortas se misturavam com minhas próprias lembranças.
Ficava vendo elas seguirem as minhas palavras até culminaram numa queda mortal.

  

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora