Em choque

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   Assim que chegamos a Nova York entreguei o notebook para o meu pai e guardei o papel em que tinha anotado o endereço dela.

   Vi meu pai conversando com um homem estranho. Me aproximei para tentar ouvir algo, mas eles se despediram antes que pudesse entender do que conversavam.

   - Ficaremos no meu apartamento no Brooklyn - disse indo em direção a um Corola preto.

   - Brooklyn? - falei pensativo.

   - Sim! Algum problema? - perguntou assim que entrei no carro.

   - Fica longe de Greenpoint? - continuei ansioso.

   - Vinte e nove minutos de carro - disse e sorriu maliciosamente. - É lá que ela está não é?
 
   Tentei conter o sorriso,  mas foi impossível.  Pensar em revê-la era quase um sonho. Era uma coincidência inacreditável.

Afinal qual era a chance de encontrar a mulher da sua vida e mesmo depois de perdê-la num planeta com mais de 8 bilhoes de habitantes ter a chance de rencontrá-la?

Estávamos separados por 29 minutos... Por meros 29 minutos!

   Todos os meus medos se dissiparam com aquela notícia.  Meu pai parecia satisfeito por me ver mais leve.

   No caminho enquanto planejava meu reencontro com ela, as vezes, na maior parte sem querer, eu me pegava olhando para ele.

   Meu pai...

   Meu único laço de sangue. Um criminoso, mas mesmo assim meu pai. Algumas de nossas lembranças ficavam vindo a tona. Nossas viagens em família.  Nossas idas a jogos de futebol e minha melhor lembrança: Quando pintávamos em aquartela juntos. 

   Ele tinha me ensinado tudo sobre as borboletas. Tudo sobre quem eu era.

Será  que poderíamos recomeçar?
Será que poderíamos ser uma família de novo?
Será que a Amanda me aceitaria depois de tudo?
Depois da verdade?

Chegamos num prédio antigo, numa rua pouco movimentada e com muito verde em seu entorno.

   Peguei minhas coisas e o segui para dentro. Era um apartamento pequeno, mas com uma bela mobília. Toda em mogno. Lembrava um pouco de casa.

   Senti uma pontada no coração ao ver a foto da Lucy. Havia centenas de fotos nossas por todo o apartamento. Nas paredes ou em porta retratos colocados lado a lado nos móveis.

  - Bem vindo ao lar filho - disse e me abraçou.

   No inicio fiquei surpreso, mas ao ver as fotos e sentir o cheiro de casa o abracei de volta. Não tinha reparado o quanto sentia falta do toque da minha família até aquele momento. Estava tão acostumado a ser só eu depois da morte da Lucy que foi reconfortante ter alguém de novo.

   - Esse é meu refugio - disse abrindo as cortinas. - Ninguém irá incomoda-lo aqui.

   Me sentei no sofá de couro marrom e liguei a televisão enquanto meu pai disse que iria preparar um lanche.

"A suposta sexta vítima do ainda não identificado assassino de grandes modelos, Amanda Lorraine reapareceu essa tarde. Com uma informação anônima conseguimos localiza-la no Centro de polícia em Greenpoint. Acompanhada por um agente do FBI, provavelmente para prestar esclarecimentos. Ha rumores em que ela está envolvida com os crimes".

    A repórter dizia cada palavra como se fossem para mim.

- Filho você quer queijo ou presunto? - perguntou meu pai

O ignorei e aumentei mais o volume. Imagens dela entrando no Centro de policia fez meu coração saltar do peito. As imagens ficavam se repetindo como se não tivessem conseguido mais nada.

Peguei o notebook e pesquisei sobre os assassinatos. Senti meu sangue entrar em colapso nas minhas veias ao ver as fotos das modelos mortas. Eram bizarramente outras versões da Amanda. Na descrição das mortes fiquei ainda mais atônito. Elas tinha morrido de uma forma muito semelhante com a Susan.

Como isso é possível? - perguntei para mim mesmo.

- Me empresta o carro - disse a ele enquanto me levantava.

  - As chaves estão na mesa.

Mal escutei o que ele disse depois. Entrei no carro e coloquei as informações do endereço dela no GPS.

   Ainda não sabia o que iria fazer, mas precisava vê-la. Precisa entender essa conexão. Precisava saber se ela  estava bem.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora