A espreita

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Esperei o jornal começar e assim que focalizaram no rosto da Amanda, meu pai sentou ao meu lado.
- Não deveria estar assistindo isso -  disse pegando o controle.

- É só uma entrevista - respondi fingindo não me importar.

_ Se quer realmente fazer o certo, não pode ficar sentado aqui vendo isso _ pausou _ Vá procurar a Amélia, vá viver!

Ele tinha razão.  Ficar sentado ali era covardia, era inútil.  Eu tinha que estar lá com ela.

Me levantei do sofá e peguei a chave do carro. Dirigi até os estúdios onde o
NBC Nightly News era gravado. Estacionei do outro lado da rua e caminhei lentamente, tentando encontrar uma brecha, para entrar no estúdio. 

Haviam alguns homens descarregando um caminhão bem em frente a portaria. Me escondi atrás dele e fiquei esperando o momento certo.

Quando todos estavam distraídos eu entrei e me misturei às pessoas. Todos pareciam estar indo para ver a grande intrevista e não pareceram se importar com mais um estranho.

Fiquei pensando no quanto a segurança daquele lugar era frágil.  E no quanto a Amanda poderia estar em perigo.

Ao entrar no estúdio,  uma mulher alta e usando um tailleur preto me chamou.

_ Está atrasado _ disse me indicando o lugar onde deveria ficar. _ Vai logo! _ continuou rispidamente.

O camêra me entregou os cabos que eu deveria segurar.

_ Calma novato,  ela é sempre mal humorada mesmo _ disse com um sorriso largo.

Respirei fundo e sorri de volta para ele. Ainda não acreditava que realmente tinha conseguido.

Amanda já tinha falado na primeira parte da entrevista e eu tinha perdido,  mas vê-la ali, sentada e nervosa era quase um convite para ir até lá e acalmá-la com um abraço.

Me posicionei na lateral esquerda, na esperança que ela pudesse me ver. Fiquei lá parado olhando para ela.

Quando as câmeras foram ligadas, eles retomaram a entrevista. Perguntaram se ela estava com medo, mas antes de responder, ela me viu e parou por um momento e quase gaguejou, mas sorri para ela como um sinal de que ela estava indo bem.

Ela respondeu com a voz doce, porém trêmula, que estava com medo, assustada, mas que por honra a memória das garotas que tiveram um fim tão trágico,  que ela faria de tudo para ajudar as autoridades a descobrir a identidade do monstro que tinha causado tudo isso.

Ela falou com o coração,  e eu sabia que isso com toda certeza tinha tocado o coração daquelas pessoas, mesmo as que imaginavam o pior dela.

Assim que  terminou de falar, o repórter encerrou a entrevista com palavras bonitas, daquelas para fechar a noite com chave de ouro.

Mas antes que conseguisse chegar até a Amanda, vi um cara alto e loiro se aproximar dela.

_ Estou feliz em ver que você está bem _ disse ele com uma proximidade que me deixou em alerta.

_ Josh vai embora! _ respondeu ela com a voz alterada.

_ Eu estou arrependido _ continuou ele com voz chorosa. _ Quando soube da sua morte percebi o quanto amava você, o quanto fui um idiota.

_ A única coisa que acredito no que disse, é que voce é um idiota.

Ela o deixou lá parado e veio na minha direção.

_ Seu ex? _ perguntei fingindo não me importar.

_ Acho que não chegamos a ter nada tão importante para considera-lo um ex _ respondeu olhando para mim como se quisesse mais do que uma conversa.

Dei um passo para trás e olhei a nossa volta. Não podia me dar ao luxo de pensarem algo sobre nós. Ela me olhou como se entendesse e se afastou dizendo que depois me daria um autógrafo. 

Porém quando fui agradecê-la pela gentileza,  ouvi gritos vindo dos corredores. Parecia ser uma de suas amigas.

_ Amanda, levaram a minha irmã _ disse uma garota loira de cabelos na altura dos ombros. Ela estava desesperada. _ Levaram ela!

_ Tem certeza disso? _ perguntou Amanda tentando acalmar a garota.

_ Ela disse que ia ao banheiro assim que acabou a primeira parte da entrevista, mas como estava demorando demais eu fui ver o que estava acontecendo e achei apenas a bolsa e o celular dela jogados no chão_  disse por entre as lágrimas numa mistura de inglês e italiano quase ininteligível.

Antes que Amanda respondesse um homem alto de terno parou ao lado delas e pediu para que o levassem ao banheiro.

Queria poder fazer alguma coisa, mas logo aquilo viraria um inferno e se a polícia aparecesse eu seria com toda certeza o maior suspeito.

Me senti tão mal ao imaginar que não poderia ficar com a Amanda para protegê-la.

E se esse maníaco tentasse algo contra ela?

A culpa seria minha, por não ser livre para cuidar dela como deveria. Saí sem que ninguém percebesse e pouco depois que entrei no carro, vi pelo menos 4 carros da policia chegarem.

Fiquei por mais uns dois minutos e depois saí lentamente para não deixar suspeitas.

Dirigi por uns 20 minutos.  Completamente sem rumo, pensando no quanto minha vida era uma droga.
Eu tinha perdido a minha mãe,  minha irmãzinha e quando tinha pensado que poderia voltar a ser feliz, me tornei um fugitivo, acusado de assassinato. Assassinato esse que poderia me incriminar pelas mortes daquelas garotas e até por sequestrar a amiga da Amanda.

Mas o que eu poderia fazer agora?
Eu tinha mentido para ela.
E naquele mesmo instante eles poderiam estar procurando por mim e ela nunca acreditaria na minha inocência.

E como poderia olhar para o meu pai?
Eu não fazia ideia do que fazer.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora