Sem saída

104 20 52
                                    


O tempo passou mais rápido na volta para casa. Um caminho curto e divido entre minha alegria por ver a Amanda e o remorso por ter que ocultar o real motivo de estar ali.

Logo eu que tinha julgado meu pai por tantos anos, agora estava prestes a viver uma mentira.

A borboleta azul não saiu do lugar, continuou ali como um lembrete permanente das minhas atitudes. Parecia o grilo do Pinóquio. Uma consciência externa. Um lembrete do que era o certo a fazer.

Mas o que era o certo para mim agora?
Eu era um fugitivo.
Um assassino no Brasil.
Mesmo inocente, quem acreditaria?

Estacionei o carro de frente para a casa e entrei ainda sem saber o que dizer caso fosse questionado.

- Onde esteve? - falou meu pai antes que fechasse a porta. - Fiquei preocupado.

- Encontrei a Amanda - falei sendo firme com as palavras e decidindo dizer uma mentira a menos naquele dia.

- E o que aquela reportagem teve haver com ela? - perguntou sem esperar uma resposta. - Não vai me dizer que a sua Amanda é a mesma que está envolvida naqueles assassinatos, e que tem o FBI a tira colo?

- Ela não está envolvida! - respondi tentando fazê-lo entender.

- Achei que você fosse um homem maduro ou pelo menos esperto o suficiente para entender que não estamos aqui a passeio - pausou para ter certeza que eu estava ouvindo. - Você foi acusado de assassinato no Brasil e eu estou na lista dos mais procurados - pausou novamente cerrando os punhos. - No Brasil você deve estar num panfleto colado numa parede velha e sendo no máximo lembrado pelos parentes e amigos da garota morta e eu passaria facilmente despercebido pelos federais, mas aqui, se o FBI se envolver, nossos destinos serão selados e garanto que você nunca mais vai ser um homem livre... E essa garota nunca vai acreditar em você!

Havia mil respostas prontas na minha cabeça, mas todas soariam recentidas e incoerentes. No fundo eu sabia que ele estava certo.

Eu não estava sendo prático e muito menos sensato. Estava pensando apenas com o coração e no fundo eu sabia que isso só funcionava nos livros.

Eu nunca tinha sido do tipo sonhador, ser prático fazia parte da minha essência e ao ouvi-lo falar daquela maneira, me fez sentir ainda pior.

Tinha enchido o coração da Amanda de esperança, o meu próprio coração de esperança, mas no final das contas minhas promessas eram tão consistentes quanto a lava recém saída de um vulcão e queimaria nossos sonhos e expectativas na mesma intensidade...

- Você esta certo - eu disse em fim.

Nada além disso poderia ser dito. A Amanda nunca acreditaria em mim. Eu precisava provar minha inocência e sabia que algo ligado a ela tinha me conectado a essas mortes. Não poderia ser mera coincidência que Susan tivesse morrido da mesma forma que as outras modelos. Eu queria e iria afundo nisso e depois estaria livre para amá-la.

- Muito bem - respondeu meu pai ainda sem jeito com a minha resposta. - Estou preparando documentos novos para você e na próxima semana já poderá retomar sua carreira como biólogo - apertou o meu ombro como se tentasse me animar. - No Brasil você se destacou muito, apesar de ter abandonado tudo para terminar a coleção, mas aqui poderá conciliar os dois...

Ele saiu rumo a varanda e eu fiquei ali, parado no mesmo lugar. Eu sabia o que eu deveria fazer, sabia que seria o melhor, mas ainda podia sentir o beijo dela. Podia ver seu sorriso tão claro como a luz do dia e como poderia me preparar para apagar tudo aquilo e seguir em frente?

Alimentei meu espírito com a sede por desvendar esse caso. Eu não sacrificaria o único vislumbre de felicidade que tivera desde a morte da Lucy sem nem ao menos saber quem tinha causado tudo isso.

Quem é esse assassino?
O que ele tem haver com a Amanda?
Como ele conseguiu me incriminar?

Se ao menos conseguisse lembrar daquela noite eu poderia ter um rumo, algo palpável, mas lembrando ou não, eu não ficaria de braços cruzados enquanto via a oportunidade de ter a mulher da minha vida voar para longe de mim.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora