O Fugitivo

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O tempo parecia passar ainda mais devagar enquanto esperava por algo acontecer.

Fiquei sentado com a cabeça entre os joelhos, pensando em tudo que estava acontecendo. Aquele furacão que tinha passado na minha vida tinha deixado todas as minhas certezas em frangalhos. Nada mais parecia ter sentido. Eu sabia que se a fuga realmente acontecesse, eu estaria assinando meu atestado de culpa. Todos que me conheciam e que confiavam em mim iriam me ver com outros olhos, mas também sabia que se ficasse seria condenado por um crime que não tinha cometido.

Eu colecionava borboletas, eu não era um assassino. Eu nunca mataria um ser humano. Muito menos alguém que já fizera parte da minha vida.

Susan não era o tipo de garota que aceitaria ser rejeitada. Ela com toda certeza lutaria com unhas e dentes para acabar com a minha vida. Afinal essas foram suas últimas palavras para mim.

E se tudo não passasse de uma armação e ela ainda estivesse viva?
Eu não tinha visto corpo algum para acreditar no que todos diziam.

Não consegui comer nada. Deixei a bandeija no chão ao lado da grade. E fiquei de pé a espera do momento certo.

Assim que vi o cair da noite por aquela pequena janelinha, ouvi passos vindo na minha direção.

Dois policiais discutiam algo sobre a minha transferência para Salvador.

_ Espero que tenha gostado das nossas acomodações de luxo _ e riu alto enquanto abria a cela.

_ Ele finalmente vai saber o que é estar preso no Brasil ao chegar em Salvador _ continuou o outro apertando as algemas nos meus pulsos.

Segui calado enquanto toda guarnição fazia piadas sobre minha transferência.

Fui jogado no carro ao som das gargalhadas deles. E sorri por imaginar como ficariam quando soubessem que a penitenciária não seria meu real destino.

Um sorriso que contive ao lembrar que teria que confiar no meu pai e por mais que no fundo estivesse me agarrando a isso para não ser jogado numa jaula lotada dos mais horrendos criminosos, eu ainda não confiava nele.

Senti um solavanco, seguido de uma explosão. O carro girou na pista e enquanto um dos policiais tentava pegar sua arma alguém me retirou do carro e me jogou numa vã preta de vidros escuros.

Ainda algemado escutei disparos e o som de outro veiculo parando bruscamente. Mais 3 disparos ecoaram pelos meus ouvidos. Tentei me levantar para ver o que estava acontecendo, mas o motorista da vã acelerou antes que eu tivesse a chance de definir de onde vinham.

Ficamos ambos em silêncio durante todo o caminho. Quando a vã parou, o motorista desceu e começou a conversar num volume quase inaudível com alguém no meio da escuridão. Tentei me levantar para ver melhor, mas as algemas não estavam ajudando muito. No esforço de me levantar quase me machuquei.

_ Venha comigo_ disse o motorista da vã me ajudando a levantar.

Ele cortou as algemas com um alicate e enquanto eu movia meus pulsos ainda doloridos, meu pai surgiu com um semblante sério e preocupado.

_ Você está bem filho? _ perguntou ele tentando disfarçar a preocupação.

_ O que está acontecendo? Eu ouvi tiros! _ respondi ignorando sua pergunta.

_ Não se preocupe, estamos resolvendo tudo! _ respondeu fazendo um sinal para o outro homem ir embora.

_ Não irei a lugar nenhum até que me explique tudo que está acontecendo.

Ele acenou que sim com a cabeça e me conduziu até seu carro, mas assim que entramos ele ficou novamente em silêncio.

_ O que está acontecendo? _ perguntei novamente.

_ Job acertou um dos policiais na fuga _ disse limpando o suor em sua testa com um lenço.

_ E o policial morreu? _ perguntei com medo da resposta.

_ Não sabemos, mas toda a policia da reserva e um comboio vindo de Salvador estão a sua procura nesse exato momento, por isso não poderemos partir hoje _ disse fechando as mãos no volante com força. _ Ficaremos na casa de um amigo e amanhã pegaremos o avião.

_ Não vamos conseguir... _ disse sentindo o arrependimento martelar em minha cabeça.

Eu não deveria ter fugido, deveria ter ficado e insistido na minha inocência. Agora se fosse pego de novo, nada poderia ser feito. Eu seria condenado a uma pena ainda maior.

_ Não se preocupe filho _ disse olhando para mim _ Eu tenho amigos que poderão nos ajudar a sair dessa.

_ Amigos? _ eu ri ainda nervoso. _ Um amigo como o que atirou no policial? Não obrigada!

_ Você não entendi filho! Eu não sou exatamente quem você imagina.

_ Como você sabe o que imagino sobre você? Eu só estou aqui porque fui um burro! _ respondi colocando as mãos na cabeça. _ Eu não deveria ter confiado em você!

Ele parou o carro bruscamente. Meu corpo foi lançado a frente com fúria. Se não fosse o cinto de segurança, teria batido a cabeça no vidro.

_ Você precisa entender minhas motivações, entender o porque fui embora _ disse se virando para mim. _ Mas não posso te explicar isso enquanto você corre perigo, peço apenas que confie em mim e quando estivermos em segurança, te contarei tudo. Eu prometo.

Ele arrancou o carro e me levou para uma cabana no meio da floresta. Fizemos parte do caminho a pé. Uma caminhada curta e silenciosa.

A cabana estava abandonada. Pensei naquele lugar como sendo um dos primeiros a ser procurado pela polícia, mas meu pai me surpreendeu ao levantar um velho tapete e abrir um alçapão. Descemos uma longa escadaria, até um pequeno quarto.

Ele tinha duas camas de solteiro, uma televisão e uma geladeira.

Me sentei na cama enquanto meu pai pegava algo para comermos na geladeira. Ainda estava atordoado e confuso, porém ansioso para saber a verdade.

O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora