Perdida

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Caminhei ainda sentindo o ar entrar com dificuldade. Era como se milhares de agulhas estivessem misturadas a ele. Era doloroso.

Ainda me sentia ligada ao James como se pudesse ignorar o fato de que tudo levava a crer que era ele o maldito psicopata que estava infernizando minha vida.

A polícia não ia desistir até que eu contasse a verdade, até que eu dissesse onde ele estava.

E sim! Eu pensei em ligar para o agente Clark e pedir para que ele mesmo viesse prendê-lo e que exigisse saber o paradeiro da Fran. Afinal, não se tratava apenas de mim mesma, mas de uma vida. Uma vida que eu ainda poderia salvar.

Mas como poderia ignorar a garota irritante de coturno e jeans rasgado que tinha o defendido para mim? Estaria ela certa? Ou tudo era só mais uma maldita trama para me confundir?

Eu queria taaanto acreditar nele. Queria taaanto que todos estivessem enganados, mas como eu poderia ter certeza se o entregasse? Como?

Peguei um táxi para casa e voltei para o meu quarto pelas escadas de incêndio. Mas dessa vez não foi silencioso como antes.

Quando saltei para dentro fui segurada com os braços para trás e em poucos minutos estava com o rosto comprimido no carpete.

_ Sou eu! _ disse tentando respirar. _ A Amanda.

Tive que repetir pelo menos mais umas três vezes até que alguém me ouvisse.

Me ergueram do chão e só então reconheci a agente Maciel.

_ Amanda é você? _ perguntou enquanto tirava minha peruca. _ Achamos que ele tinha pegado você!

_ Ninguém me pegou! Eu estou bem_ disse enquanto ela retirava as algemas.

_ Quando você não abriu a porta, eu arrombei _ disse o agente Clark quase como um pedido de desculpas. _ Fiquei preocupado Amanda!

_ Me desculpe _ disse sem fazer nenhum som, mas sabia que ele tinha entendido.

_ Poderia nos explicar onde estava e o motivo do disfarce? _ continuou agente Maciel ainda estreitando os olhos para mim

Eu pensei em dizer toda a verdade e talvez até tivesse dito se apenas o agente Clark estivesse no quarto, mas com aquela mulher lá, me olhando como se já tivesse a certeza sobre minha culpa, eu travei.

_ Precisamos de uma resposta! _ insistiu ela.

_ Ou... _ disse em fim.

_ Ou terei que prendê-la! _ respondeu sem titubear.

_ Então fique a vontade! _ disse olhando nos olhos dela enquanto estendia meus braços para frente para que ela colocasse as algemas.

_ Amanda não precisa ser assim _ disse o agente Clark tentando apaziguar a situação.

_ Dowson isso não é uma reunião entre amigos _ disse chamando o Clark por seu sobrenome, com certeza para me mostrar que não estava disposta a acreditar em nada além do que em sua própria verdade. _ Eu a levarei presa agora! E não ouse me impedir.

_ Então me leve, pois na sua presença não direi nem uma palavra. _ respondi mantendo minhas mãos estendidas.

A agente Maciel prendeu as algemas nos meus pulsos e me levou para fora. As meninas me olharam assustadas como se aquilo fosse o que faltava para terem certeza de que eu era uma assassina.

Não houve defesa e nem ninguém tomando posição ao meu lado. O mais perto que tive de compaixão foi o olhar terno do agente Clark se mantendo ao meu lado e me protegendo dos flashs.

Os repórteres pareciam abelhas no mel. Todos repetindo as mesmas perguntas em um loop sem fim.

_ Por que você cometeu os assassinatos? Teve mais cúmplices ou fez tudo sozinha? Onde está Francyelle Rosne?

Mesmo dentro do carro eu conseguia ouvi-los e ouvi-los... Era quase como se estivessem dentro da minha cabeça.

Ao chegar no Centro de policia a agente Maciel mandou me levarem para uma cela.

Quando escutei o ranger metálico do trinco se fechando, senti frio. Um frio não externo, mas daqueles que possuem a alma e nos deixam ainda mais sós.

Eu deveria ter contado onde o James estava. Deixado que ele pagasse pelos crimes que tinha cometido, mas dentro do meu coração, no lugar mais puro da minha mente eu ainda acreditava nele. Era idiota, irracional e ia contra todos os meus instintos, mas eu confiava nele.

Mas até onde acreditar nele me levaria?


O Colecionador de BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora