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  Mabruka me chamou:
– Vai se trocar, seu mestre está chamando.
Na linguagem dela, isso significava: "Dispa-se e suba". Mais uma vez, ela abriu
a porta, e uma cena bizarra surgiu diante de meus olhos. O Guia, nu, sodomizava o
rapaz chamado Ali, enquanto Hussam dançava, maquiado como mulher, ao som da
mesma música lânguida. Eu quis dar meia-volta, mas Hussam exclamou:
– Mestre, Soraya está aqui! – e fez sinal para que eu dançasse com ele.
Fiquei paralisada. Então Kadafi me chamou:
– Vem, vadia.
Deixou Ali de lado e me agarrou com fúria. Hussam dançava, Ali assistia, e,
pela segunda vez em alguns dias, eu quis morrer. Ninguém tinha o direito de fazer
aquilo comigo.
Então Mabruka entrou e mandou os dois rapazes saírem e o mestre parar, pois
havia uma emergência. Ele saiu de cima de mim e ordenou:
– Sai!
Corri para o meu quarto sangrando e passei a manhã toda debaixo do chuveiro.
Eu me lavava e chorava. Não conseguia parar. Ele era louco, todos eram, era uma
casa de gente insana, e eu não queria ser como eles. Queria meus pais, meus
irmãos, minha irmã, queria a vida que eu tinha antes. E isso não era mais possível.
Ele havia estragado tudo. Ele era imundo. E aquele era o presidente do país.
Amal veio me ver e eu supliquei:
– Eu imploro, fale com Mabruka. Eu não posso mais, quero ver minha mãe...
Pela primeira vez, eu a vi comovida.
– Ah, meu coraçãozinho! – disse, tomando-me nos braços. – Sua história é tão
parecida com a minha. Eu também fui tirada da escola. Tinha catorze anos.
Ela já estava com vinte e cinco, e sua vida lhe dava horror.  

No Harém De KadafiOnde histórias criam vida. Descubra agora