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  Pouco tempo depois dessa visita, uma funcionária da escola procura Leila na
sala de aula e a conduz ao gabinete da diretora, que, muito impressionada, lhe
avisa que um carro de Bab al-Azizia a espera na frente da escola. Leila não
compreende, mas ninguém tem dúvida de que ela deve partir com o motorista.
Conduzida a um salão, onde aguarda por um instante, a adolescente é em
seguida levada por Ahmed Ramadan, secretário pessoal de Kadafi, ao escritório do
Guia. Com uma túnica branca, ele vem ao encontro dela, tece elogios exagerados à
sua beleza e começa a acariciar e a apertar seu corpo. Apavorada, Leila se retesa
e, quando Kadafi enche as mãos com seus seios, ela se contorce, grita, se
desvencilha e foge. Ahmed Ramadan está esperando do outro lado da porta.
– Terminaram? – pergunta em tom neutro. Leila chora muito. – É preciso se
despedir do Guia antes de ir embora! – insiste ele, abrindo a porta para revelar o
coronel rindo muito, com o membro ereto.
O motorista a leva de volta à escola. Diretora e professores não perguntam
nada. Mas de imediato Leila percebe os sinais de um novo respeito.
Naquela mesma noite, Ahmed Ramadan telefona para sua casa.
– É uma grande honra o Guia ter escolhido você. Suas lágrimas foram ridículas.
O Guia queria apenas ser gentil com você.
Leila não diz nada aos pais. Mas eis que, uma semana depois, membros do
Comitê Revolucionário entram na casa da família e se põem a vasculhar tudo, em
busca de documentos comprometedores. O pai de Leila é humilhado, espancado
até ir ao chão. A família fica em estado de choque.
Ahmed Ramadan telefona no dia seguinte.
– Fiquei sabendo o que aconteceu com a sua família. Mas lhe garanto: você vai
receber toda a proteção, porque trabalha para o Guia.
E avisa que está enviando um motorista, que vai esperá-la bem perto de sua
casa. Ela se vê numa armadilha, inventa um pretexto para explicar sua saída aos
pais e logo está em Bab al-Azizia, diante de Kadafi.
– Viu só o que aconteceu com a sua família? Podia ter terminado mal. Só
depende de você; você pode lhes fazer o bem ou muito mal...
– O que tenho de fazer?
– Ora, seja dócil! Sei bem que excito você.
Ele lhe serve um suco de frutas, a força a beber e a beija ferozmente, se
prensando contra ela, depois desaparece.
O carro volta a procurá-la alguns dias depois. Ahmed Ramadan a introduz em
um pequeno salão, onde ela espera sozinha por várias horas. Depois ele a conduz a
uma biblioteca, onde Kadafi finalmente aparece.
– Escolhi essa decoração por sua causa. Porque amo as estudantes e os livros.
Em seguida, ele a joga sobre um colchão no chão e a estupra. É um choque tão
grande, uma violência tamanha, que ela pensa ter perdido os sentidos. Quando
recobra a consciência, ele já trabalha em seu escritório e dá uma gargalhada.
– Com o tempo você vai adorar isso!
Ele continuará a procurá-la durante três anos. E a violentá-la.
– Sou o mestre da Líbia. Todos os líbios me pertencem, inclusive você!
Ou ainda:
– Você é uma coisa que me pertence. E como bem deve saber, uma sura do
Corão atribui ao mestre todos os direitos.
São três anos de sofrimento absoluto, recorda-se Leila. Ela se fecha, perde o
ano na escola, é punida e apanha em casa por causa das ausências que não tem
como explicar. Seus pais lhe atribuem uma vida dissoluta. Mas o Guia vive a
repetir:
– Uma única palavra a meu respeito e você nunca mais verá seu pai
novamente!
Um dia, ela lhe diz que sua menstruação está atrasada. Isso não o impede de
violentá-la uma vez mais. Pouco depois, porém, Ahmed Ramadan lhe dá um
envelope com dinheiro, sugerindo que vá a Malta. O valor é mínimo, nada foi
organizado, e Leila deve por si própria encontrar hotel e hospital. Ao fazer o aborto,
o médico diz que ela está "em um estado sujo" e lhe propõe, para alguns dias
depois, uma himenoplastia. Ela está salva. Ao contrário do que de costume, Bab alAzizia não voltará a procurá-la.

HUDA

Huda também foi, durante vários anos, uma das muitas amantes coagidas do
coronel que, sem morar em Bab al-Azizia, eram chamadas a qualquer momento e
cuja vida se transformou num inferno. É a década de 1990, ela tem dezessete anos
e se prepara para os exames finais do ensino médio com um grupo de alunas que
estudam juntas, se reunindo sempre na casa de uma delas. Um dia, uma mulher
que visitava a mãe da amiga presta atenção nela e se derrama em elogios:
– Mas como você é bonita!  

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No Harém De KadafiOnde histórias criam vida. Descubra agora