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  – Atire! – ela gritou quando eu tinha a arma contra o ombro. Eu me recusei.
Jamais disparei um único tiro.
Vim a descobrir também a relação de dependência que ele mantinha com a
magia negra, influência direta de Mabruka. Era desse modo que ela o tinha nas
mãos, segundo me disseram. Ela ia consultar marabus e feiticeiros de toda a África
e eventualmente os levava até o Guia. Ele não usava talismã, mas se besuntava
com unguentos misteriosos de fórmulas incompreensíveis e tinha sempre à mão a
tal toalhinha vermelha...
Onde quer que ele estivesse, estaria também a pequena equipe de
enfermeiras. Galina, Elena, Claudia... Sempre de uniforme branco e azul e sem
maquiagem, trabalhavam no pequeno hospital de Bab al-Azizia, mas, a um
chamado dele, podiam chegar em menos de cinco minutos. Eram encarregadas não
só das coletas de sangue, obrigatórias antes dos encontros sexuais do Guia, mas
também de seus cuidados pessoais e alimentação. Quando me mostrei preocupada
com a questão da contracepção, disseram-me que Galina aplicava injeções de
infertilidade no Guia. Ao contrário de outras garotas antes de mim, não fiquei
sabendo de quase nada sobre aborto e não tive problema com isso. Todas o
chamavam de "papai", ainda que ele mantivesse relações sexuais com a maioria.
Em uma ocasião, Galina se queixou para mim. Mas haveria uma única mulher que
ele não tivesse desejado possuir ao menos uma vez?  

  Nota:
* Conjunto de joias comumente formado por colar ou gargantilha, bracelete, anel e brincos. (N. do T.)  

No Harém De KadafiOnde histórias criam vida. Descubra agora