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  Huda fica muito sem graça e foge ao olhar insistente da mulher. Mas elas
voltam a se encontrar e a mulher mais uma vez a cobre de elogios:
– Achei você maravilhosa. Depois que fizer seus exames, tenho algo a lhe
propor.
Muito desconfortável, a menina imagina se tratar de uma casamenteira.
O irmão de Huda é preso logo depois. Frequentador assíduo da mesquita, por
algum motivo se torna suspeito. A mulher inconveniente entra em contato com a
estudante.
– Conheço algumas pessoas que podem libertar seu irmão. E posso levá-la a
essas pessoas.
Ela passa de carro na casa de Huda, e logo as duas estão em Bab al-Azizia. A
mulher parece bem à vontade ali, já Huda está perplexa.
– Ah, essa é a novata? – exclama um homem no primeiro escritório.
Huda começa a achar aquilo alarmante, mas ainda não pode imaginar o que
está por vir. Entra Ahmed Ramadan.
– Ah, então essa é a garota cujo irmão está em maus lençóis. Vamos, sigamme!
Ele as leva até um grande escritório, onde surge Muamar Kadafi.
– Seu irmão é um traidor! Espero que você seja uma boa revolucionária e não
se torne como ele. – Ele se aproxima, passeia as mãos pelo corpo dela antes de
enlaçá-la, pressionando o corpo contra o dela. – Vou pensar no caso do seu irmão,
porque achei você magnífica.
Ele beija seu pescoço, tenta lhe alcançar os seios, passeia por seu sexo. A
garota desmaia. Agachada ao lado dela, a mulher lhe dá tapinhas no rosto.
– Vamos, acorda! Você é ridícula! É seu mestre! É a sua chance!
Kadafi se aproxima, desejando tocá-la. Ela se debate e grita, então ele a
agarra pela roupa e a lança com violência num canto do cômodo. Transtornado,
agarra a outra mulher, penetrando-a de súbito. E dardeja à estudante um olhar
cheio de ameaça.
– Da próxima vez vai ser você!
No carro que a leva de volta para casa, Huda está chocada demais para dizer
qualquer coisa. Mas a mulher lhe explica:
– O mestre tem todos os direitos sobre nós. Ele vai fazer amor com você, vai
libertar seu irmão e você pode ganhar uma bolsa para a faculdade.
A jovem não conta aos pais nada do que aconteceu. Seria impossível. Mas
quando sua mãe lhe dá um tapa, furiosa por ela ter chegado tarde, Huda dispara,
sem dar detalhes:
– Fui parada pela polícia e questionada sobre meu irmão.
Três dias depois, a mulher telefona.
– Não posso voltar a Bab al-Azizia com você, mas um carro do protocolo vai te
apanhar. Pense no seu irmão.
Huda logo se vê diante de Ahmed Ramadan, que a interroga sobre o irmão e
faz algumas anotações. Isso a deixa esperançosa; talvez aquilo tudo não tenha
sido em vão. Mas ainda é preciso ver o Guia. Ela é levada a seu escritório.
– Tá pensando que se liberta um traidor fácil assim? Vai sonhando! Não é assim
tão simples. E fica ainda mais difícil sendo você um bicho do mato, que grita se eu
tocar em você...
– Não, não quero contrariar o senhor. Mas quando meu irmão vai poder sair?
– Não vai gritar mais? Promete?
Com gestos bruscos, ele tira as roupas dela, joga-a num colchão no chão da
biblioteca e a violenta. Depois se afasta sem dizer nada. Ninguém vai ver como ela
está, ninguém dá mostras de se preocupar com ela. Ela não sabe como sair e passa
a noite toda ali, aterrorizada. Ahmed Ramadan a encontra no dia seguinte e a leva
para um pequeno quarto no subsolo, onde, com dificuldade, ela começa a pegar no
sono. Mas Kadafi chega e a estupra novamente, espanca, morde. Ela sangra
abundantemente. E adoece por dois dias sem que ninguém lhe traga o que comer
ou beber. No terceiro dia, Ahmed Ramadan a manda de volta para casa, dizendo
que voltarão a entrar em contato.
Seus pais ficam apavorados com o estado da menina. Estavam loucos de
preocupação e a encontram destruída. Ela não quer falar, mas, bombardeada de
perguntas, apenas murmura ter voltado de um posto da polícia. E a família,
chocada, pensa que aquilo tudo só pode estar relacionado ao caso do filho...
Cercam a filha, adulam-na, insistem em levá-la ao hospital. Um médico a examina.
– Você foi estuprada.
– Sim. Mas eu suplico, não diga nada a meus pais.
– Devemos dar queixa.
– Não, está fora de questão.
– Relação sexual fora do casamento... A lei me obriga a reportar seu caso à
polícia.
– O senhor quer morrer?
Kadafi não a deixará mais em paz. Por longos anos, ela suportará suas
exigências, suas loucuras, suas violências, suas fantasias. Ela não pode fazer
planos, vive reclusa, temendo que descubram seu escândalo. Os pais acabam
desconfiando da situação, pois os carros do protocolo são cada vez menos discretos
e Kadafi exige a presença dela em alguns de seus numerosos discursos. Então ela
descobre outras mulheres na mesma condição. Elas se olham, mas não se falam.
Como tocar no assunto? Em quem se pode confiar? Certa vez, às vésperas de um
evento público, o Guia sugere a Huda que venha correndo até ele e o abrace diante
das câmeras. Ela fica pálida. Ele lhe telefona à noite, faz ameaças, lhe diz o que
vestir, uma disponibilidade permanente. Ela se deprime, já não quer viver, fica
desgostosa. Depois de muitos anos, aparece um pretendente e ela se apaixona.
Kadafi fica furioso. Mas ela se casa. E a partir de então, apesar das ordens e de sua
angústia, passa a se recusar a ir a Bab al-Azizia. Ela tem sorte. Muitos jovens
maridos não escolhidos pelo mestre não sobreviveriam ao casamento com uma
favorita.  

No Harém De KadafiOnde histórias criam vida. Descubra agora